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CORONAVÍRUS NOS EUA: Especialistas temem que normalização prematura cause segunda onda de infecções

Até agora, Trump só emitiu recomendações de distanciamento social e teletrabalho até o fim de abril. Alguns governadores anunciaram que irão se reunir para decidir suspenções graduais de restrições; país tem maior número de casos e mortes por Covid-19 no mundo

A primeira onda de infecções pelo novo coronavírus ainda não terminou nos Estados Unidos, mas especialistas advertem que uma segunda onda atingirá o país se o retorno à normalidade for muito rápido ou se acontecer a partir de maio, como espera o governo de Donald Trump.

O debate se assemelha ao que aconteceu na Europa, onde o governo espanhol autorizou hoje a retomada parcial do trabalho, enquanto o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a prorrogação da quarentena obrigatória para depois de quarta-feira.

A grande diferença é que o sistema federal americano é altamente descentralizado e concede plenos poderes aos governadores de seus 50 estados, mesmo se o presidente decidir coordenar uma estratégia nacional.
Até agora, Trump só emitiu recomendações de distanciamento social e teletrabalho até o fim de abril.

Trump disse que tinha “autoridade total” para retomar a atividade nos estados, mas antecipou que “uma decisão da minha parte, em conjunto com os governadores e o conselho dos demais será tomada logo!”.

Dois grupos de governadores do leste dos Estados Unidos (incluindo Nova York) e do oeste (incluindo a Califórnia) não esperaram: anunciaram nesta segunda-feira que vão se coordenar para suspender as restrições. Mas não há indícios de que dezenas de outros governadores farão o mesmo.

Após meio milhão de casos identificados, o número de infectados no país parece se estabilizar. Mas para o diretor dos Centros para o Controle de Enfermidades (CDC), Robert Redfield, isto não deveria levar a uma suspensão das regras de distanciamento social e trabalho remoto de uma hora para a outra.

“A reabertura será um processo gradual, baseado em dados”, disse esta manhã à rede de TV NBC.

O novo coronavírus não terá desaparecido após o fim do confinamento. A grande maioria da população continuará sujeita à infecção, até o desenvolvimento de uma vacina.

O objetivo da primeira fase era evitar que muitas pessoas adoecessem ao mesmo tempo e os hospitais ficassem congestionados. Mas o vírus continuará circulando.

No verão boreal, a proporção de americanos infectados pode ser de 2% a 5%, disse no domingo à CBS Scott Gottlieb, ex-diretor da Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA) e assessor informal de Donald Trump.

“Acordem, até 50% deste país será infectado!”, alertou hoje na rede de TV MSNBC Michael Osterholm, diretor do Centro de Pesquisas de Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota.
Autoridades planejam retomar lentamente a normalidade, enquanto monitoram um possível reinício da epidemia.

Os projetos acadêmicos e de especialistas sobre como chegar a este estágio são abundantes, mas a Casa Branca ainda não formulou nenhum.

O presidente americano, Donald Trump, parecia, inclusive, incomodado com as declarações de um cientista que se tornou celebridade durante a pandemia, Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e membro da célula de crise da presidência sobre o novo coronavírus.

O pesquisador assinalou na TV que o número de mortes poderia ter sido menor se o país tivesse reagido rapidamente. Trump, na defensiva, compartilhou ontem uma mensagem com a hashtag #FireFauci.

A Casa Branca, no entanto, classificou hoje de “ridículos” os rumores sobre o afastamento de Fauci. “O Dr. Fauci foi e continua sendo um assessor de confiança do presidente Trump”, afirmou o porta-voz Hogan Gidley.

‘No fim do começo’

Todas as indicações de especialistas apontam que deve ser feito um número maior de testes e deve haver mais formas de rastrear os casos positivos e seus contatos, bem como os hospitais devem contar com um número maior de leitos.

Os cientistas da Universidade Johns Hopkins estimam que o país vai precisar de 100 mil “rastreadores de casos”, pagos ou voluntários.

Mas nada está no lugar.

“Se abrirmos o país em 1º de maio, não há dúvida de que haverá um aumento” dos casos da doença, alertou na CBS Christopher Murray, diretor do Instituto de Avaliação e Medição de Saúde da Universidade Estadual de Washington. Talvez alguns estados possam começar em meados de maio. Outros, não, assinalou.

Gottlieb imagina que governadores e prefeitos vão poder autorizar as empresas a retomarem as atividades com metade de seus funcionários ou que continuem confinando maiores de 65 anos.

Andrew Cuomo disse que Nova York ampliaria gradualmente a lista de trabalhos essenciais quando o momento chegar.

Aconteça o que acontecer, não haverá uma manhã em que os jornais vão anunciar: ‘Aleluia! Acabou’, disse, ao pedir a seus eleitores que aceitem a ideia de que o vírus vai conviver com a população durante muito tempo, ainda que controlado, até que uma vacina esteja disponível.

Quanto aos testes, o ex-diretor do CDC, Tom Frieden, diz que muitos são “lixo” e que levará tempo para averiguar quais são bons.

Fonte: G1
Créditos: G1