CPI do Cachoeira não consegue ouvir ninguém

Foto: André Gadelha

Com dois depoimentos marcados para esta terça-feira (4), a CPI do Cachoeira acabou não ouvindo ninguém. Convidado pela comissão, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) não compareceu à reunião. Ontem, ele apresentou um ofício à Secretaria de Comissões do Congresso alegando que tinha compromissos “inadiáveis” e “anteriormente assumidos”. Leréia é amigo declarado do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pivô das investigações em curso na CPI.

O parlamentar garantiu que estará à disposição do colegiado a partir de 18 de outubro, cerca de 20 dias antes das eleições de outubro, cujo primeiro turno está marcado para o dia 7. Ainda não há data confirmada para o novo depoimento, mas vários parlamentares da comissão solicitaram que Leréia seja novamente chamado em outubro.
Na condição de convidado, Leréia poderia se recusar comparecer ao colegiado, mas ele disse que responderá a todos os pedidos de esclarecimento por estar “tranquilo” em relação às suspeitas suscitadas a seu respeito. Ele é acusado de usar cartão de crédito de Cachoeira para compras diversas e de ter recebido dinheiro ilegal da organização criminosa capitaneada pelo contraventor.

O segundo convocado, André Teixeira Jorge, ex-funcionário da Delta, compareceu à CPI, mas apresentou um habeas corpus obtido junto ao Supremo Tribunal Federal que lhe garantiu o direito de permanecer calado. Jorge foi dispensado, logo em seguida, pelo presidente do colegiado, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Antes, o parlamentar ofereceu a possibilidade de transformar a sessão em secreta, mas o ex-funcionário da construtora afirmou que não falaria mesmo assim.

A Delta é acusada de ter envolvimento com o esquema de corrupção montado por Cachoeira. Segundo investigações da Polícia Federal, Jorge atuava como laranja do grupo do contraventor. Para a PF, a evolução patrimonial e as movimentações financeiras de Jorge são incompatíveis com os rendimentos declarados por ele.

A dispensa dos convocados tem sido alvo de críticas de vários parlamentares, que gostariam de fazer as perguntas mesmo sem ter respostas. Para a deputada Íris de Araújo (PMDB-GO), as perguntas seriam úteis para provocar uma “reflexão da sociedade”. O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) criticou o procedimento de dispensa dos convocados que se recusam a falar. Dessa maneira, afimou Rubens, a CPI se tornou “uma brincadeira”. ”É isto que estamos vendo. Eu fico muito entristecido com procedimento […] Estamos vendo aqui que não há uma vontade maior de buscar [investigações]”, disse o deputado.

No final da reunião, Vital confirmou que se reunirá com os líderes partidários à tarde para definir sobre a realização de uma reunião administrativa para votar requerimentos. Deputados e senadores pressionam pela votação de pedidos de quebra de sigilos fiscais e bancários de empresas suspeitas de serem usadas no esquema do bicheiro.

Do Blog com Congresso em Foco