Ex-volante, Douglas Silva fez fama nos anos 2000 com a bola nos pés. Porém, para driblar a crise, assumiu a vida sobre rodas. Dono do Ponto Chic, barraca de costela no bafo, em Padre Miguel (zona oeste do Rio de Janeiro), o campeão carioca pelo Flamengo, em 2004, passou a fazer, ele mesmo, as entregas do delivery. Foi a forma que encontrou de economizar nos negócios.
O ex-jogador, que foi campeão brasileiro pelo Athletico-PR, em 2001, e tem passagens por Grêmio, Sport e Avaí, conta que passou a levar a costela às casas dos clientes para poder cortar custos do orçamento, uma vez que a taxa para o uso de um motoboy estava pesando nas despesas.
“Comecei a fazer as entregas porque a diária do motoboy estava ficando muito cara. Então, eu mesmo meto a mão. Tem a minha mãe que me ajuda, eu preparo a costela, boto na embalagem… Pego capacete, documento e habilitação e vou embora. Aos domingos, trabalho com 50 kg de costela, gira em torno de mais de 40 peças, mais de 40 porções”, explica ele, que completa:
“Vou diminuir o preço para colocar no valor da taxa de entrega. Ao invés de colocar o valor da costela maior, com a taxa de entrega, vou retirar o valor da entrega e vou diminuir como se fosse uma corrida do motoboy.”
Com a pandemia do novo coronavírus, a última venda de costela dentro do Ponto Chic foi no último dia 8. Depois, Douglas aproveitou para celebrar o aniversário de 40 anos e, agora, se programa para retomar, com foco no delivery.
“Trabalho só aos domingos e no dia 15 de março foi o meu aniversário. Mas pretendo voltar, e estou me programando para voltar e fazer as entregas”, indica.
Ele projeta que, neste período sem as vendas na barraca, o prejuízo será grande. Por isso procurou e conseguiu conter os gastos em casa. A partir de agora, porém, terá de mexer na reserva que tinha guardado.
“O prejuízo financeiro é grande na situação que todo mundo está passando, mas eu consigo relevar e ajustar algumas coisas aqui em casa porque moramos só eu e o meu filho. Então, a despesa não chega a ser muita. O custo que eu tenho é muito alto, mas consegui administrar algumas coisas do dia 8 para cá. Só que, a partir de agora, vou começar mexer no que está guardado porque eu já estou indo para o terceiro domingo sem trabalhar”, ressalta Douglas, que estima que ganhava ‘mil e poucos reais’ trabalhando com 50 kg de costela.
Douglas Silva, inclusive, se mostra preocupado com a reação em cadeia que a pandemia de coronavírus pode ter, lembrando que depende que a carne chegue ao açougue para que possa manter o negócio.
“Eu pego direto do açougue, na sexta-feira. Trago pra casa, tempero no sábado para trabalhar no domingo. Minha mercadoria não é armazenada, é fresca. Vem direto do açougue. Dependo do açougue, né? Se o açougue falar: ‘Pô, Douglas, este fim de semana não foi entregue’, eu fico sem trabalhar'”, explica.
Trabalhar aos domingos, inclusive, foi uma escolha do ex-volante para que possa tocar outros projetos paralelamente. Além de estar cursando faculdade de educação física, ele também dá aulas em escolinhas de futebol.
“Passei a trabalhar aos domingos porque tenho uma escolinha de futebol que funciona quarta e sexta-feira e trabalho na escolinha do Flamengo terça e quinta-feira. Então, de terça a domingo eu faço essa correria, fora os estudos. Estou fazendo bacharelado em educação física, no terceiro ano”, salientou.
A história do ex-jogador com a costela no bafo começou logo que encerrou a carreira, mas remete aos tempos em que atuou no Athletico-PR e morou em Curitiba. Ele defendeu o Furacão entre 2001 e 2003.
“Eu jogava no Athletico-PR e, em Curitiba, é febre. Onde você vai tem um restaurante que vende costela. Morava ao lado de um restaurante que era 24 horas. Então, saia do jogo, ou dos pagodes, da balada, e ia jantar lá. Quando eu vim para o Rio de Janeiro, vi que alguns lugares aqui vendiam. Aí, falei: ‘Vou tentar fazer uma costela diferente’. E comecei”.
O, hoje, empreendedor ressalta a ajuda de familiares e amigos no começo desta caminhada. A aventura começou aos poucos, até chegar aos 50 kg vendidos atualmente.
“Primeiro, minha avó começou a me ajudar a fazer o tempero. A Vanessinha, o Amílcar e o Luiz Cláudio [três amigos] também me ajudaram. Eles trabalham com cozinha. Fiz o tempero, comecei a embalar, colocar a embalagem e coloquei 10 kg para trabalhar em um dia de eleição. Foram vendidos os 10 kg e, nesta venda, tirei o valor que tinha que pagar ao meu amigo Adriano, açougueiro, e vi que tinha dado um valor legal que dava para segurar durante a a semana. O que pensei, se multiplicar esse valor por quatro, consigo ter um valor mensal que eu possa dar uma respirada. Vou completar quase cinco anos já que faço isso. Comecei justamente quando parei de jogar”, conta ele, que encerrou a carreira no Ceres, clube de Bangu, que disputa a segunda divisão do Campeonato Carioca.
Douglas Silva parou de atuar profissionalmente em 2014, quando o corpo já não aguentava mais o pesado ritmo que era imposto. Com constantes dores no joelho esquerdo, resolveu pendurar as chuteiras.
“Parei com 33 anos porque eu tenho quatro cirurgias no joelho. O meu joelho começou a ter problema de artrose, bloqueio de flexão, direção… O médico tinha me avisado, em 2009, quando eu estava no Bangu: ‘Douglas, você tem aí uns quatro, cinco anos, depois é melhor você parar e se cuidar para não ter que colocar prótese’. Quando chegou em 2013, eu treinava e não estava conseguindo mais ter um rendimento no treinamento. Meu joelho começava a inchar e é uma dor… Não desejo essa dor para ninguém, é uma dor insuportável. Chegava em casa e tinha que colocar gelo, tomar anti-inflamatório, tomar injeção, infiltrações, fazer pulsão com medicamentos fortes. Aí, para poupar a minha saúde, parei de vez”, finaliza.
Fonte: BOL
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