Essa Cruz é um Trauma

Rubens Nóbrega

A Cruz Vermelha gaúcha, que recebe R$ 7,3 milhões por mês do Ricardus I para ‘administrar’ o Hospital de Trauma de João Pessoa, está sendo acusada de desviar o dinheiro público que recebe pelo mesmo serviço em Santa Catarina.

Segundo publicou ontem o jornal Folha de S. Paulo, “a filial gaúcha da Cruz Vermelha Brasileira repassou verbas públicas – que recebeu para gerir um hospital – para uma ong ligada a seu vice-presidente nacional”. E acrescenta:

– O contrato previa o repasse total de R$ 82 milhões para administrar o hospital Ruth Cardoso, em Balneário Camboriú (SC) – que faz, em média, 7.000 atendimentos por mês – mas acabou sendo cancelado pela prefeitura por suspeita de desvio de verba.

Segundo o diário paulistano, uma auditoria no hospital descobriu que entre agosto de 2011 e abril de 2012 a Cruz recebeu R$ 12,8 milhões daquele município e “ao menos R$ 100 mil acabaram em outro lugar”.

Esse outro lugar é São Luís, capital do Maranhão, a 3.450 km de Balneário Camboriú. Lá funciona (?) o Humanus (Instituto Interamericano de Desenvolvimento Humano), até o mês passado registrado em nome da mãe do vice-presidente nacional da Cruz Vermelha, Anderson Marcelo Choucino.

“A auditoria revelou ainda notas fiscais a título de ‘consultoria’ e transferências em favor da filial maranhense da Cruz Vermelha Brasileira, comandada por Carmen Serra, irmã do presidente da entidade nacional, Walmir Serra Jr.”, revela a FSP.

Na mesma matéria, assinada por Reynaldo Turollo Jr., a Folha lembra que em julho a revista Veja mostrou que a Cruz é suspeita de desviar dinheiro das campanhas de doações e de contratos com órgãos públicos.

Assim teria acontecido com a filial Petrópolis (RJ), que recebeu R$ 3,5 milhões do Distrito Federal para gerir duas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), mas o serviço nunca foi prestado e o dinheiro sumiu da conta da entidade.

Sumiu e apareceu em boa parte (quase R$ 2 milhões) na conta de um tal de Cape, no Rio, que funcionava (?) no endereço do Ciap, ong fechada sob acusação de desvio de verba da saúde e de lavagem de dinheiro, após devassa da Polícia Federal.

***

Quem me mandou o recorte da Folha de S. Paulo sobre semelhante desempenho da Cruz em outras paisagens foi o estimado Professor Menezes. A sua mensagem vem acrescida de comentário e questionamento que configuram justificada inquietação:

– Será que com antecedentes tão ‘elogiáveis’ não estaríamos correndo os mesmos riscos? Lembro que a ‘distinta’ (a Cruz Vermelha do Rio Grande do Sul) já atua por aqui e parece querer mais… – observa o Professor.

A esse respeito, amado Mestre, ousaria dizer que não apenas a Cruz deseja mais como o seu contratante também. Afinal, como diria o filósofo Celso Russomanno, “se está bom para ambas as partes…”.

Quem pode mais chora menos

O promotor de Justiça aposentado Newton da Silva, 82 anos, é prova viva de que até entre os mais iguais que todos – magistrados e membros do Ministério Público – esses últimos saem perdendo quando tentam fazer valer a paridade de armas e direitos entre as duas categorias.

Em carta ao colunista recheada de documentos comprobatórios, o Doutor Newton expõe a via crucis que percorre há mais de dez anos para receber um precatório e há mais de cinco para receber a famosa Parcela Autônoma de Equivalência (PAE).

A PAE é uma mãe no bolso dos magistrados, de tão generosa e tão agilmente liberada para juízes e desembargadores. Já promotores e procuradores de Justiça penam para receber suas pequenas fortunas em parcelas. Mas o que atrasam essas parcelas…

MP: exemplo vem de Rondônia

É muito bom ver acontecer avanços que a gente vem sugerindo e esperando há mais de dez anos, mesmo que (ainda) não aconteça na Paraíba.

Refiro-me ao fim do poder do governador do Estado para nomear o procurador-geral de Justiça, algo que se transformou em prego-batido-ponta-virada em Rondônia desde o 23 de agosto último.

Naquela data, a Constituição daquele Estado foi emendada para estabelecer que, doravante, o chefe do Ministério Público será escolhido por um Colégio de Procuradores, com membros eleitos em um único turno pelos integrantes da carreira.

Se vier a ser copiada por aqui, evidente que a nossa receita prescreverá um Colégio do qual participarão também representantes dos promotores de Justiça e não apenas e tão somente dos procuradores.

O importante é ter um PGJ escolhido por seus pares, sem dever favor algum a governador nem com ele conchavar vaga futura de desembargador. Fundamental é validar na prática a independência e autonomia do MP em relação ao Executivo.

Potinho adora uma promessa

Potinho de Veneno vai voltar a estudar. Não vê a hora de se matricular em uma escola da Prefeitura de João Pessoa quando 2013 chegar. “Sonho toda noite recebendo o meu tablete”, confessa, sem o menor constrangimento. Compreensível, todavia, diante da falta de pudor dos candidatos a prefeito e suas promessas…