Vênusss Model, 28, é o nome artístico de uma cirurgiã-dentista que tem feito sucesso no mundo adulto com mais de 3 milhões de visualizações no canal que mantém em uma plataforma pornô. A decisão para migrar entre profissões tão diferentes após se formar pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) não foi fácil.
Houve medo, decisões difíceis de serem tomadas e resiliência para enfrentar perrengues financeiros, punição à liberdade sexual feminina e um longo caminho até a descoberta da própria sexualidade. Para Universa, Vênus conta sua história.
“Eu saí cedo de casa, aos 17 anos. Antes, já tinha trabalhado servindo mesas, preparando drinques, entregando panfletos. Fiz ensino técnico e trabalhei por um ano com desenvolvimento de software. Minha meta era passar em uma universidade pública. E eu passei na Unicamp em odontologia. Me formei e trabalhei em consultórios de classe alta em São Paulo, mas já saí da universidade com dívidas para bancar material odontológico e precisava bancar minha especialização. Para isso, também trabalhava como camgirl.
Com o tempo, porém, vivi dividida entre ganhar bem com shows na webcam e o medo de ser descoberta e perder meu emprego. Tinha medo de ser reconhecida por alguém na rua ou um por um paciente durante uma consulta. Era horrível ter uma vida dupla. No ano retrasado, decidi que não passaria mais por isso. Comecei a dar aulas de pole dance e tecido acrobático.
Minhas apresentações na webcam continuaram, mas decidi mostrar meu rosto em 2018. Não queria ter mais medo.
Foi um processo longo para tomar essa decisão. Comecei na webcam em março de 2014. Como sou cirurgiã-dentista, sabia que isso implicaria demais na minha carreira e que poderia encerrá-la. Por esse motivo, escondia meu rosto; ainda precisava do dinheiro como dentista. Cheguei a maquiar minha tatuagem e a esconder meus dreads para as transmissões.
Sou apaixonada por cirurgia e decidi que seria cirurgiã quando sofri um acidente de carro, aos 17 anos. Tive fratura múltipla de face. Quando isso aconteceu comigo, decidi que gostaria de operar as pessoas.
Me formei, mas todo mundo sabe que recém-formado sai com uma mão na frente e outra atrás e sem dinheiro. Acompanhei cirurgias, trabalhei como clínico geral e em cirurgias ambulatoriais.
Mas precisava de um financiamento maior para investir nos meus estudos se quisesse subir na carreira, mas não tinha esse dinheiro como dentista. Aos poucos, a odontologia foi ficando de lado. Além da webcam, comecei a fazer show de striptease em uma boate.
Descoberta
Ninguém nasce e cresce sem amarras sociais com relação a pudores e à exposição do próprio corpo. A gente desconstrói a mente para ser assim. Minha vida foi sendo preenchida por coisas que me davam mais satisfação e retorno financeiro; o restante do desconforto era causado pela odontologia.
Foi quando decidi, também em 2018, que não atenderia mais em consultório e não voltaria mais para a área. Eu era apegada. Senti um aperto no coração quando vendi meu kit cirúrgico, mas vejo que deveria doar o que ainda tenho para a universidade. Apesar disso, as coisas na minha vida mudaram e melhoraram demais.
O início no pornô
A Dread Hot, da Fever Films, me abordou para atuar em um filme pornô. A produção tinha uma ambientação burlesca, que conta a história de uma dançarina que é stripper em uma boate. O papel tinha tudo a ver comigo. Eu já conhecia a Dread, mas nunca tínhamos gravado juntas.
Até então, eu fazia meus próprios vídeos amadores em casa, com namoradinhas e amigas. Quando ela me chamou, disse que de começo queria gravar só com mulheres. Não queria fazer filmes héteros, a proposta dela saía da minha zona de conforto.
Negociamos um valor, ela me disse que o papel era a minha cara e que estaria no set o tempo inteiro. Eu não sabia se iria gostar e se daria certo a ponto de me fazer continuar no pornô. Já tinha recusado várias propostas, mas tive confiança nessa pela segurança que foi me passada. O figurino, o cenário, foi tudo muito lindo.
Sexualidade mudou
O pornô e a webcam mudaram vários aspectos da minha sexualidade. Tem um que faz até latejar na minha mente. É o tal do squirting. Eu achava que não existia, mas graças ao pornô pude descobri-lo -e é incrível! Chegar ao orgasmo também foi uma das coisas mais importantes nessa vida, pois sempre tive dificuldade. Sempre foi gostoso me relacionar com outras pessoas, mas ninguém me fazia gozar. Pensei até em ir ao médico!
Ao longo do tempo, me descobri sozinha, me masturbando na frente da webcam. Me tornei autosuficiente e foi rolando. Depois disso, nunca vou esquecer quando gozei pela primeira vez em um pornô. Achei que nunca conseguiria com uma equipe em volta, mas foi só alegria. Tenho uma segurança hoje que achei que nunca teria.
Vida pessoal x vida profissional
Tem camgirls que passam por coisas horríveis com o parceiro devido à profissão.
Em meu último namoro, levávamos até uma vida mais liberal, mas na primeira briga meu trabalho era jogado na minha cara. Tenho colegas camgirls que namoram e o cara não sabe que ela trabalha na webcam. Às vezes, até aceitam, mas têm ciúmes ou se sentem mal por ganharem menos enquanto a namorada trabalha de casa. As dificuldades sempre vão existir entre as camgirls, atrizes pornô ou com quem trabalha com sexo. É o molde da nossa sociedade.
Não me sinto com raiva ou triste de haver problemas em relacionamentos. Há algumas semanas, por exemplo, dei um beijo em um menino durante uma festa em um bar. Ele é legal comigo e eu com ele.
A gente trocava ideia, mas sei que ele não me namoraria e não tem psicológico para lidar com uma mulher que trabalha com a sexualidade como eu. Mas não estou nem aí. Eu também não namoraria ele. É uma recíproca.
Daqui em diante, quero continuar no pornô e passar a produzi-lo. Não faço mais planos para a vida toda como antes. Faço planos mais curtos, planejamentos financeiros que não são só sonhos. Aposto em coisas mais palpáveis.
Estou na melhor época da minha vida. As pessoas falam que um dia eu vou voltar para odonto. Eu só respondo que não quero mais. Se tivesse que escolher qualquer coisa, escolheria continuar no pornô. Espero que as próximas garotas a se descobrirem e a se identificarem dessa forma possam ter uma experiência tão boa quanto é a minha.”
Fonte: Universa
Créditos: Universa