Antecipação e inauguração criminosas

Gilvan Freire

O Centro de Convenções, o elefante de ouro que começa branco, (é de ouro porque custa uma fábula de recursos públicos de um Estado pobre, e é branco porque é caiado e sem uma finalidade condizente com seu custo), é, além do mais, um grande mistério de contabilidade pública.

A obra foi prevista para dar suporte ao Polo Turístico, um projeto engenhoso que nunca saiu do papel e está tão desfigurado que não se presta mais para o que foi projetado. Nunca será um Polo turístico, por razões que serão explicadas depois.

O Polo e o Centro já não são mais complementares, porque primeiro deveria se desenvolver o Polo, e só depois o Centro. Quase trinta anos depois, surge apenas o Centro, enquanto o Polo quase morre de inanição mas sobrevive pela especulação. É o maior patrimônio imobiliário da Paraíba, sem atividade, não gera um rés de renda, mas garantirá vasto patrimônio aos empresários precursores, ou a seus herdeiros, pois estão quase todos ficando velhos.

Em meio a esse inexplicável problema bilionário, assentado em terras praieiras que pertenceram ao Estado e foram cedidas a particulares a preço de maxixe, houve ao menos, nos últimos anos, uma atitude conseqüente: a construção da PB 008, no tempo de Zé Maranhão, que interligou o litoral Sul e dotou o Conde da segunda rede hoteleira da Paraíba, com 3.000 leitos, só perdendo para João Pessoa, que tem 7.000.

Em seguida, Cássio idealizou o Centro de Convenções, complementando a estrada, pensando em forçar a solução do Polo, ou induzir novas fronteiras turísticas, a partir de todo o litoral Sul, a região que mais cresceu por causa da rodovia asfaltada e do arrojo de investidores do setor privado que atraíram até estrangeiros para médios e grandes empreendimentos.

Orçado, inicialmente, em menos de R$ 100 milhões, o projeto do Centro foi refugado pelo Tribunal de Contas da União, que achou superfaturamento ou sobrepreço. Enfim, Cássio e Maranhão, cada um a seu tempo, tocaram o projeto e venceram os óbices, até que a obra foi entregue a RC com parte dos recursos alocados e a parte de infraestrutura feita (toda a base de fundação em concreto aramado).

Nas primeiras faturas, no atual governo, houve logo umas medições esquisitas, que deixaram rastro de suspeita muito especulada entre os fiscais, assunto que envolveu figuras carimbadas que passaram a tomar conta dessa Serra Pelada paraibana. Foi estranho.

Mas o que interessa é que RC assumiu a obra andando e também a sua indevida paternidade, um filho que de saída já passou a custar próximo do dobro do previsto, saindo de R$ 100 milhões para R$ 170 milhões, só porque a cria mudou de pai. Isso já exigiria uma explicação detalhada, porque o dinheiro público não pode ser usado com essas extravagâncias absurdas sem que o povo possa saber os porquês. E o povo nada sabe e pode nuca saber.

Mas foi ai que o pai perdulário do filho dos outros bancou uma decisão ainda mais surpreendente e esdrúxula, e decretou: quero inaugurar a obra ou parte dela, a qualquer custo, em 2012, mesmo que o cronograma físico e financeiro preveja o ano de 2013 ou 2014. Seria o ano eleitoral, mas RC nem imaginava que estivesse chegada a hora de suas maiores dificuldades. Isso só agravou, inclusive os custos, que correram frouxos para que a vontade do faraó fosse realizada as expensas da miséria de seus súditos desconfiados. Quem mandou provocarem a ira do faraó?

Por que antecipar mesmo? Havia Copa, Olimpíadas, algum evento nacional ou internacional que a exigisse com esse superfaturamento perverso? Ou é apenas para alcançar o interesse eleitoral e a vaidade de um faraó que já entrou no sarcófago vivo? Devemos pagar esse preço pelos desatinos de gestores que constroem na Paraíba uma Ilha de Fantasia para reinar sobre ela como um pavão-rei?

Talvez seja melhor ouvir os vassalos do rei. Na Roma antiga eles carregavam os penicos para colher as fezes do monarca. Aqui eles também carregam penicos e urinós, mas não é só para aliviar os soberanos, é para cheirar os aromas. Adoram.