Esse absurdo tem que parar

Rubens Nóbrega

Por alguns segundos, recentemente cheguei a acreditar que o Ricardus I havia esgotado o estoque de maldades, absurdos e abusos que um governo autoritário, arrogante e perseguidor é capaz de cometer.

Quanta ingenuidade a minha! A prisão arbitrária de membros do Conselho de Direitos Humanos da Paraíba, anteontem à noite no presídio chamado de PB1, em João Pessoa, mostrou o quanto sou tolo e crédulo.

Como pude pensar que havia sido restaurado o império da lei, que o Estado sob jugo ricardista voltara a respeitar tanto as instituições como as pessoas e os direitos mais comezinhos das pessoas, em especial as comuns e mortais?

Ledo engano! Os agentes públicos que exercem cargos de confiança do círculo íntimo da Corte devem se sentir fortes e autorizados o suficiente para transgredir as normas e agredir quem por dever e convicção sai em defesa dos mais fracos. Mas não pensem que se contentam em agredir tão somente os presos sob sua guarda e cautela.

Agridem também a inteligência alheia quando tentam justificar ato do mais puro arbítrio e da mais absoluta covardia com a tese risível de que os conselheiros foram presos porque usaram ilegalmente máquina fotográfica dentro do presídio.

Ridículo! Se um conselheiro ou uma conselheira entregou a máquina a algum preso para fotografar o interior de alguma cela é porque fisicamente, mecanicamente, estupidamente, foi impedido de entrar para bater a foto que mostra o quão degradante e desumanizante se encontra o sistema penitenciário paraibano.

Depois dessa, fico a pensar se mesmo depois dessa os outros poderes – aqueles que parecem mais consentidos do que constituídos – vão se manter omissos, lenientes, condescendentes ou coniventes com tantos desmandos.

A sorte do que resta de cidadania e massa crítica não cooptada na Paraíba é saber que aqui ainda pulsa e resiste um Ministério Público Federal atuante em nosso Estado.

Tanto que vibrei, ontem, ao saber que o procurador da República Duciran Farena deve acionar a Polícia Federal para apurar essa inacreditável violação. Não vai ficar barato, aposto.

A intervenção da PF será legalmente possível e necessária porque os violadores não sabiam que estavam detendo e detiveram, entre outros conselheiros, uma defensora pública da União.

Voltarei ao assunto, inclusive para reproduzir excertos de texto memorável do promotor de Justiça Marinho Mendes e de outros sobre o deplorável episódio, todos movidos pela mais justa indignação.

Paraíso das placas

Ricardo Coutinho deixou faz tempo o cargo de prefeito, a amizade com o seu sucessor na Prefeitura da Capital, alguma saudade e um gosto danado por placas de obras. Querem ver um exemplo?

Na Beira-Rio, sentido Torre-Cabo Branco, no final da ladeira do Hospital Unimed a Prefeitura ensaiou uma praça numa beira de terreno baldio. Botou a placona, umas pedras de alicerce, depois cercou e… Trocou de placa!

Com a troca, a obra subiu de preço. Mal começou ou sequer começou a obra, mas já tem placa nova e preço novo. Na placa ‘velha’, custava R$ 627.094,32; na ‘nova’, R$ 640.256,70. É dinheiro muito para tão pouca praça.

Depois dessa, convenci-me de uma vez por todas que assim como o preço das obras públicas, a Paraíba também reajustou o seu status em matéria de placas. Já não é mais um Canteiro de Placas, como alguém sugeriu outro dia. Atualmente, é o verdadeiro Paraíso das Placas.

Ah, um aviso: fotografei o antes e o depois, ou seja, a placa ‘velha’ e a placa nova. Mas, se ainda assim, a Prefeitura quiser dar explicações, a coluna está à disposição para publicar.

Pedra cantada

Deu quase certo a esforçada campanha da grande mídia pela antecipação do voto ‘pega geral’ do ministro Cezar Peluzzo no ‘julgamento’ do ‘mensalão’. Por força do rito, do ritmo e do regimento, para extremo desgosto da Inquisição Nacional de caça ao bruxo Lula, só deu pra referendar as primeiras condenações. Aliás, registre-se: o ‘mensalão’ e o ultrassom enterraram de vez o velho adágio popular segundo o qual “de cabeça de juiz e de barriga de mulher grávida, ninguém sabe o que virá”.
Joacil Pereira

Tive muito pouco contato com o Doutor Joacil de Brito Pereira, mas digo que com ele praticamente se extingue a geração de expoentes que entraram e saíram da vida pública com o mesmo pensamento político, a mesma transparência pessoal, a mesma regularidade no desempenho profissional de alto nível.

Joacil é ícone de uma fase da vida paraibana e brasileira em que os homens não mudavam de lado, de time ou de partido. Com ele se vai uma das mais positivas referências que o inelutável epílogo da vida terrena subtrai da inteligência paraibana.