Há pessoas que, diante de uma situação ridícula ou engraçada, gargalha tanto a ponto de verter lágrimas. Outras, após choramingarem muito, acabam tendo uma crise de riso. E existem, ainda, homens e mulheres que dão risadas, choram ou fazem os dois ao mesmo tempo, logo depois de atingirem o orgasmo.
À primeira vista, parece algo esquisito, mas trata-se de uma resposta fisiológica natural. Um estudo publicado em 2017 por pesquisadores norte-americanos no “Sexual Medicine Reviews”, periódico da ISSM (International Society for Sexual Medicine) relatou que o choro e o riso, antes ou durante o ato sexual, são fenômenos periorgásmicos normais – a lista inclui ainda a catalepsia (perda temporária de sensibilidade e do movimento), dor facial ou no ouvido, coceira, ataque de pânico, crises convulsivas e até espirros.
Lembranças resgatadas
Segundo o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade (InPaSex), todos têm a possibilidade de vivenciar um ataque de risadas ou lágrimas depois de transar, apesar de a ocorrência ser mais comum com quem passou por algo semelhante nas primeiras experiências. “Nossas reações corporais frente a uma situação dependem do corpo ter aprendido um padrão que será repetido”, diz.
De acordo com Rosely Salino, psicóloga, sexóloga e terapeuta de casal, a crise de choro e/ou riso pode acontecer como resposta positiva ao pico de descarga emocional durante o orgasmo. A sensação também pode ser negativa, quando a pessoa sente tristeza, vontade de chorar, sensação de vazio após o auge do prazer – nesse caso, trata-se da chamada DPC, sigla para disforia pós-coito.
“Os fatores que desencadeiam são as alterações hormonais que ocorrem com o orgasmo. No clímax, hormônios importantes, como endorfina, adrenalina, noradrenalina, ocitocina, estradiol e andrógeno têm sua ação intensificada, gerando uma reação fisiológica”, explica.
Conversa diminui constrangimento
Para a sexóloga Gislene Teixeira, especialista em relacionamentos, mediadora e conciliadora de conflitos, é importante que tais “respostas” não causem constrangimento na relação.
“Por isso, é essencial que o casal entenda quais são as reações e por que elas acontecem. Aqui vale o recurso mais precioso dos relacionamentos, o diálogo, sendo que o assunto deve ser abordado, preferencialmente, durante a conversa cotidiana”, recomenda.
Quando não há entendimento do que está acontecendo, ou seja, por que o riso ou o choro ocorre, muitas vezes, o parceiro fica bastante incomodado e desconfortável, podendo se sentir até mesmo ridicularizado e envergonhado.
“Durante essa conversa, é bom lembrar que o orgasmo pode ser experimentado de maneiras distintas e diversas. Ainda que compartilhado com alguém, é uma experiência individual em sua essência e intensidade e, por ser uma resposta neuro-orgânica, não há controle efetivo quanto às reações expressadas como respostas orgásticas”, argumenta Gislene.
Emoções desencadeiam choro
Já a fisiologista Cibele Fabichak, autora do livro “Sexo, Amor, Endorfinas e Bobagens” (Matrix Editora), observa que muitas emoções podem evocar o choro e nem todas são ruins – o contentamento, a alegria intensa e a felicidade são algumas delas.
“Assim, se o choro aparecer após um sexo pra lá de intenso e especial, pode vir de forma natural. Outra possibilidade é quando a pessoa passou um período longo sem sexo: a primeira vivência depois dessa pausa pode provocar as lágrimas, entremeadas de sentimentos intensos”, ilustra.
É preciso ter em mente, no entanto, que tanto o choro quanto o riso são respostas físicas para a redução da tensão e, também, de uma excitação física intensa.
“Com o orgasmo vem uma sensação de alívio físico, aliada ao relaxamento após muitas contrações musculares, em especial nos genitais. O alívio conduz a algumas possibilidades, como rir ou chorar, situações que produzirão ou fortalecerão o relaxamento físico e emocional”, acrescenta Oswaldo.
Frequência pede atenção
O fator emocional é sempre importante e, conforme Rosely, o desencadeante hormonal atua não apenas na fisiologia, mas também na emoção.
“Quando esses episódios de choro ou riso acontecem esporadicamente, não é necessário nenhuma intervenção. Porém, quando passam a se repetir com muita frequência, é adequado buscar opinião médica e até psicoterapia, que vai ajudar a pessoa a entender emocionalmente essas reações frente à situação em si”, pontua.
E se for culpa?
Vergonha e culpa também podem ser os gatilhos das lágrimas – e isso não é incomum, segundo Cibele. Afinal, lá no fundo do “baú da memória” podem estar guardadas certas marcas de comportamentos e contextos em que o sexo foi colocado como algo impróprio, ruim, sujo e até indecente ou pecaminoso.
Portanto, se as reações se tornarem constantes e provocarem desconforto físico e psíquico, é importante buscar ajuda especializada.
Fonte: UOL
Créditos: UOL