Também atende a um pleito do movimento negro que ganhou força nos últimos meses: lançar um candidato negro para a disputa da prefeitura. A capital baiana possui cerca de 80% da população formada por negros e pardos, segundo o IBGE. Ainda assim, a cidade nunca elegeu um prefeito negro.
Segunda mulher a alcançar a patente de major na Polícia Militar da Bahia, Denice Santiago ganhou notoriedade nos últimos quatro anos, período em que comanda a Ronda Maria da Penha. Com 108 policiais, a equipe se dedica a cuidar da segurança de mulheres sob medida protetiva.
Com forte presença midiática, costuma dar entrevistas na televisão, participar de debates e já ganhou prêmios por sua atuação na Ronda Maria da Penha. Tem formação em psicologia e mestrado em administração pela UFBA (Universidade Federal da Bahia). Sua dissertação teve como tema a discriminação racial na atividade policial na Bahia.
Em entrevistas, costumas dar declarações não muito usuais entre policiais militares, como a defesa do feminismo e a necessidade de combater o racismo dentro da própria corporação.
Denice Santiago nunca disputou eleições e não tem filiação partidária, mas foi convencida pelo governador Rui Costa a se filiar ao PT. A tendência é que ela polarize a disputa com o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), escolhido como pré-candidato do grupo do prefeito ACM Neto (DEM).
A escolha de um nome de fora do PT gerou insatisfações em parte da militância petista. O partido já tem quatro pré-candidatos à prefeitura: o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, a socióloga Vilma Reis, a secretária estadual Fabya Reis e o deputado estadual Robinson Almeida.
Em carta enviada à executiva municipal do PT, o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli elogiou Major Denice, mas afirmou que ela “não tem tradição de luta nos movimentos sociais, não tem militância partidária e será uma expressão da corporação da Polícia Militar”, caso seja candidata.
O ex-ministro Juca Ferreira defendeu que o candidato do PT seja um nome já filiado ao partido e destacou que o candidato à prefeitura deve ser “uma pessoa que tenha experiência de vida na política”.
Mesmo com as críticas, a Folha apurou que o governador Rui Costa tem força interna para formar maioria na executiva municipal e conseguir assim a escolha de major Denice como candidata à prefeita.
Mulheres no Nordeste
Além de Salvador, o PT pode lançar candidatas mulheres a prefeituras de pelo menos outras quatro capitais de estados do Nordeste.
No Recife, o ex-presidente Lula tem incentivado publicamente a candidatura da deputada federal Marília Arraes, 35. Filiada ao PT desde 2016, ela é neta do ex-governador Miguel Arraes (1916-2005) e pode enfrentar nas urnas o deputado federal João Campos, filho do seu primo Eduardo Campos (1965-2014).
Marília chegou a tentar disputar o governo de Pernambuco em 2018, mas foi preterida após um acordo nacional entre PT e PSB. Para este ano, contudo, a tendência é que a aliança não se repita no âmbito municipal.
Prefeita de Fortaleza de 2005 a 2012, a deputada federal Luizianne Lins (PT), 51, deve disputar novamente o cargo na eleição deste ano.
Assim como no Recife, a tendência é de um racha no campo da esquerda. Prefeito da capital cearense desde 2013, Roberto Cláudio (PDT) vai tentar fazer o seu sucessor –o candidato ainda não foi escolhido.
Em Natal, o nome mais forte do partido para disputar a prefeitura é o da deputada federal Natalia Bonavides, 31. Caso aceite a missão, enfrentará o prefeito Álvaro Dias (MDB), que vai disputar a reeleição.
Já em Aracaju, o partido pode lançar a candidatura da vice-governadora de Sergipe, Eliane Aquino, 48, viúva do ex-governador Marcelo Déda. Na capital sergipana, o PT rompeu com o prefeito Edvaldo Nogueira após ele trocar o PC do B pelo PDT e aproximar-se de partidos como o DEM.