O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, esteve no Roda Viva, exibido pela TV Cultura nesta segunda-feira, e, como bom soldado, cumprimentou com uma continência o seu chefe, o presidente da República. Afirmou respeitar uma cadeia de comando.
Deixou muito claro aos jornalistas presentes que, se a intenção era criar discórdia entre ele e Jair Bolsonaro, o melhor seria que todos se dedicassem a descobrir o seu time de futebol, que o ex-juiz não revela nem por decreto — a não ser que se trate de decreto presidencial.
“Não contrario publicamente o presidente”, afirmou com todas as letras durante a sabatina ao vivo para todo o país.
A reportagem do UOL pôde falar rapidamente com o ministro, que negou ter havido qualquer risco de ruptura institucional no primeiro ano do governo Bolsonaro. “Os boatos foram exagerados, nunca existiu esse risco. Ao meu ver, esse episódio sequer existiu dessa forma.”
O assunto em questão era o texto divulgado por Bolsonaro no último mês de maio, atestando que o Brasil era ingovernável, que gerou apreensão em relação a uma renúncia ou a um golpe institucional.
“Não houve mal-estar entre o presidente e o vice?”
“Você falou que ia fazer só uma pergunta”, replicou Moro.
Preparado, o ministro aparentava tranquilidade, apesar de todo o seu gestual controlado sugerir cautela.
Antes do início da atração, nos estúdios da TV Cultura, em São Paulo, o clima era de alvoroço. Pela ocasião da estreia da nova apresentadora, a jornalista Vera Magalhães, havia dezenas de convidados no local, que esperavam qualquer sinal do homem que sempre será um símbolo da Lava Jato.
“Pelo horário que pousou em Congonhas, já deveria ter chegado”. “Ouvi que ele vem até o público do coquetel”, especulava-se. Ele veio.
Sem grande aparato de segurança, circulou por entre os presentes rapidamente e dirigiu-se ao estúdio. Lá dentro, mostrou-se disposto a brincadeiras, mas suas observações eram ainda assim como quem se apronta para um duelo.
Ao ver as dezenas de folhas de papel que a jornalista Malu Gaspar, da revista Piauí, havia levado como arsenal de perguntas para ele, exigiu “igualdade de armas”. Risos contidos no estúdio.
Em um dos intervalos do programa, indagado se a atriz Regina Duarte havia entrado para o “Tinder do governo”, numa alusão ao noivado noticiado, pediu respeito: uma relação interministerial dessa natureza iria ferir “a moral e os bons costumes”, nas palavras do ministro.
Moro procurou ser paciente e mesmo irritado dificilmente elevou o tom de voz, sempre baixo.
Em outro momento fora das câmeras, abriu certa brecha ao jornalista Felpe Moura Brasil, da rádio Jovem Pan, com quem comentou a questão do juiz de garantias como colegas falando de futebol. Era como se a Câmara fosse um técnico que escalou mal o time.
Após o final do programa, em meio à balbúrdia de jornalistas e magistrados presentes, alguns convidados pelo ministro, Moro se interessou em levar um souvenir — as célebres caricaturas de Paulo Caruso, feitas durante o decorrer do Roda Viva desta segunda. Enquanto escolhia, descartou uma, que apesar do bom traço, citava o site The Intercept Brasil.
“Essa aqui está bacana… Essa aqui não, do Intercept eu não gosto”.
Fonte: UOL
Créditos: UOL