A escola Instituto Dom Barreto (IDB), em Teresina, no Piauí, pediu na lista de material escolar para a volta ás aulas de 2020, ‘kit médico’ para os meninos e ‘ kit cozinha’ às meninas e gerou polêmica. Uma publicação no Facebook, em que o autor se diz tio de uma aluna da escola, com print dos pedidos viralizou na web.
A escola pediu “kits profissão”, em que aos meninos foi solicitado kits médico, mecânico e bombeiro e às meninas teria, que levar kits salão e cozinha. Além disso, na lista, a escola pediu bola e carro de brinquedo apenas aos meninos, enquanto para as meninas a escola pediu uma boneca.
Na publicação, o autor diz: “Não adoeçam as crianças, ensinem a elas sobre o mal do machismo, preconceito e homofobia”, declarou o autor da publicação.
Com a repercussão negativa, a escola alterou a lista passando a pedir apenas um “kit brinquedo” a ser utilizado nas brincadeiras “faz de conta” e oficinas, “com a finalidade de ampliar o conhecimento do mundo da criança”, diz a lista.
Em comunicado divulgado pela escola, após a repercussão do caso, a justificativa dada para a “divisão por sexo” foi que o objetivo seria apenas garantir a diversidade dos itens que seriam de uso coletivo ao longo do ano letivo.
Leia a nota do IDB na íntegra:
“Cientes da importância de esclarecimentos sobre nossa lista de materiais, vimos explicar que a divisão por sexo de alguns itens, exclusivamente da série do Infantário, dá-se apenas a título de garantir a diversidade de itens em cada sala, visto que, como especificado (MATERIAL LÚDICO – BRINCAR DE FAZ DE CONTA), as atividades desenvolvidas com esses materiais solicitados são feitas por todos os alunos ao mesmo tempo (material de uso coletivo) ou dentro do contexto pedagógico de experiências plurais.
O objetivo não é estimular ou segregar uma profissão em detrimento de outra, tampouco reproduzir uma percepção caduca de atividades específicas e distintas para meninas e meninos. Nosso compromisso, sobretudo na Educação Infantil, é com o faz de conta, com a criatividade, com cooperação, com a socialização e a comunicação, com o desenvolvimento da oralidade, da motricidade, ou seja, tudo o que permita a nossas crianças conhecerem-se a si mesmas, aos outros e ao mundo.
Acreditamos que informações desvinculadas de qualquer fundamentação didático-pedagógica podem afastar o real sentido das práticas do ensinar e aprender e reduz o trabalho desenvolvido por profissionais capacitados, e mais que isso, comprometidos com a infância e, sobretudo, com a formação de cidadãos e cidadãs que, historicamente, orgulham nosso Estado e nosso país.
Avaliar uma escola, qualquer escola que seja, por um item da sua lista de materiais escolares é postura temerária, decorrente, muito provavelmente, do desconhecimento do histórico da instituição, que ao longo de sua existência tem primado por uma educação libertadora de quaisquer amarras derivadas de preconceitos e discriminações, e que se orgulha, ainda, de contribuir para a formação educacional de mulheres e de homens conscientes do protagonismo feminino em qualquer profissão que decidam seguir. Felizmente, a Escola tem colhido, nos mais diversos ramos profissionais, os resultados desse atuar.
Assim, a lista de materiais divulgada para essa etapa não tem o propósito de impor, limitar ou distinguir seus usos. Entretanto, como somos conscientemente aprendizes, encontraremos outros modos de dizer nos próximos anos.
Certos da confiança de nossa comunidade, desejamos um 2020 de Paz e Bem a todos”.
Identidade de gênero e a importância de discussão sobre o assunto na escola
As temáticas relacionadas à identidade de gênero e a importância de discussão sobre o assunto na escola e no ambiente familiar são bastante recorrentes aqui na Catraca (clique aqui para ler as matérias que já foram publicadas). E sempre que aparece um novo estudo sobre, é uma nova oportunidade de refletir ainda mais sobre a urgência de levar essa conversa com as crianças, além de defender o papel da escola como promotora de mudanças sociais desde a primeira infância.
Além da ONU Mulheres, que lançou o “Currículo de Gênero”, material que oferece uma grade de aulas para discutir estereótipos, machismo, desigualdade, sexualidade e poder e outras diversas questões ligadas à temática em sala de aula, muitos movimentos, projetos sociais e atores do âmbito da educação e infância também prepararam materiais de subsídio ao combate do preconceito de gênero nas escolas.
Um deles, gratuito e acessível a quem se interessar pelo assunto, é a cartilha “Por que falar sobre gênero na escola?”, que a Ação Educativa lançou por meio do projeto “Jovens agentes pela igualdade de gênero nas escolas” (JADIG). O material está disponível online – clique aqui para acessar – e pais, mães e educadores podem acessar quando quiserem.
O material oferece um histórico da violência de gênero no ambiente escolar, e apresenta alternativas de empoderamento para crianças se protegerem contra o preconceito. Entre os tópicos que o documento traz, estão “Buscando respostas para quem somos”, “6 curiosidades sobre a lei Maria da Penha”, “A mídia não é o espelho da realidade”.
Fonte: MSN
Créditos: MSN