Os diferente queriam ser iguais

Gilvan Freire

Se os homens tivessem de coragem o que têm de vontade de tê-la, o mundo seria outro. Só não se sabe se para melhor ou pior, porque, assim como a coragem dos homens tem sido determinante para a construção dos melhores momentos da história da humanidade, a fraqueza tem ajudado a evitar grandes desastres. É que, entre a coragem e a covardia, dois pólos extremos temperamentais que guiam os homens em suas decisões, há algo no meio, nem tanto lá nem tanto cá, que governa os chamados homens sábios, via de regra, fracos, que encontram sempre uma regra salomônica apenas para compreender os conflitos mais graves quando lhes exigem uma tomada de posição. Os sábios são caracteristicamente neutros, aqueles a quem Jesus desejou vomitá-los porque os considerava insossos demais.

Mas há quem diga que a humanidade deve mais aos sábios que aos corajosos, pois estes, muitas vezes, não preservam sequer as suas próprias vidas e ainda põem em perigo a vida dos outros. Esta é a melhor razão para se achar, em definitivo, que o maior de todos os sábios será aquele que tendo sabedoria e coragem não exerça apenas um dos dotes isoladamente quando for chamado a tomar uma grande decisão, dessas que um homem, ainda que sábio, quando estiver submetido ao medo, não saberá tomar adequadamente.

Na política, em que a sabedoria tem sempre o significado de esperteza, e a coragem e a fraqueza têm juntas o sentido de malandragem – a arte de tolerar tudo até que surja a hora mais apropriada para um acerto de contas -, poucas vezes se conhecerá a verdadeira identidade dos homens, na medida em que eles fingem o que são com o objetivo de enganar uns aos outros. E de enganarem tanto e tão freqüentemente chegam a ser mais parecidos com o que fingem do que com o que verdadeiramente são. Dá náuseas.

Mas chega um momento em que os políticos se traem e começam a parecer com o real, ou seja: pessoas que já não podem mais esconder o que são e não tem mais porque trocar a coragem necessária pela esperteza oportuna, sob pena de perderem tudo, inclusive a chance de serem corajosos e sábios ao menos uma vez na vida. É ai onde a onça chega à cacimba para beber água.

Já estava atrasada a hora para que Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima parassem de disfarçar as gravíssimas diferenças que há entre os dois. Mais sábio seria assumir, independentemente de quem tem coragem ou fraqueza, sabedoria ou loucura, esperteza ou malandragem, que a farsa acabou.

Toda vida que os sábios políticos impõem o silencio como norma de contenção das crises públicas e despistam a fumaça que denuncia incêndio em seus domínios, o fogo continua se alastrando nos monturos até formar labaredas. E não adianta só jogar água sobre focos fumegantes porque o combustível inflamável fica mais embaixo.

Ou seja, a sabedoria e o medo por si só não apagam fogo. Sem coragem, até os bombeiros morreriam sabiamente tentando debelar os incêndios. O fogo queima primeiro os que não sabem o que fazer com ele. Ou os que não avaliam a sua capacidade de propagação e destruição.