Entramos, e entramos muito bem, numa nova década. Seria de bom alvitre desejar a todos nós uma década de grandes possibilidades, de grandes esperanças. Mas sempre que ensaiamos um “seja bem-vindo” ou um “hurra, agora vai”, esbarramos nas armadilhas e nas minas espalhadas propositadamente pelo caminho! E essas arapucas parecem ter um destino/alvo, o povo (uma maioria formada por trabalhadores, gente pobre ou muito pobre, para ser mais sincero, pessoas mais simples e mais humildes) que é obrigado a seguir essa trilha pela simples falta de opção. Infelizmente, esse mesmo povo que continuará a escolher mal os seus representantes políticos (e, ai, não mais por falta de opção) mas sim, por nunca conseguir aprender, mesmo!
Aproveitando-se então dessa fragilidade, o fascismo força entradas e vai se posicionando da melhor forma possível e, dessa forma, vai dominando pouco a pouco posições estratégicas mundo a fora! Infelizmente – como se chegou a ventilar – o fenômeno não se dá apenas em países terceiro-mundistas como o nosso, mas a doença parece acometer, também, civilizações tidas mais avançadas, como EUA – só para ilustrar – que elegeu Donald Trump! Por aqui, além da falta de conhecimento do eleitor que escolheu o governo que ai está, houve, também, uma ajudazinha da incompetência da esquerda desorganizada que talvez, até, não acreditasse muito, naquele momento, no poder de convencimento da propaganda nacionalista que agora está, definitivamente, mostrando os seus reais objetivos ameaçando “consertar” o Brasil, na busca de transforma-lo num país elitista, voltado para os mais ricos, governado apenas para os mais abastados!
Em matéria publicada na última quinta-feira (02) pela revista Carta Capital, a pesquisadora Sabrina Fernandes, doutora em sociologia, expôs suas perspectivas para 2020 e disse que “Há perigo real de articulação do fascismo em 2020! O ano muda, mas a conjuntura continua a mesma. Diz! Para este ano, a tendência esperada é de agravamento das políticas de austeridade adotadas pelo governo do presidente Jair Bolsonaro, que recaem principalmente sobre a população mais pobre. Além disso: emerge um partido abertamente fascista, o “Aliança pelo Brasil”, o que torna ainda mais decisivo o papel dos setores progressistas na defesa da democracia e dos direitos humanos”.
Por aqui venho tentando, aos poucos, me fazer entender ao longo do período em que tenho escrito e denunciado em artigos no Polêmica Paraíba, que as estratégias utilizadas pela esquerda – principalmente aqui no Brasil – parecem não estar surtindo os efeitos esperados, abrindo assim brechas, pelas quais a direita continuará avançando, ganhando espaços e construindo suas fortalezas! Apesar das defesas desarticuladas da militância e de pessoas comuns – nas redes sociais – preocupadas com o rumo que está tomando o país, a “nova onda” vai cobrindo nações e sufocando a democracia em todo o mundo! As perdas vão se dando mas, infelizmente, poucas pessoas estão se dando conta do que está ocorrendo com as suas vidas, com o seu futuro e o futuro dos seus filhos e netos! E são tantas as perdas. Mas os privilegiados, conscientes dos benefícios que recebem, ainda estão em maioria e sem ser afetados pelos pacotes de maldades, seguem em frente numa luta feroz para manter tudo isso. São os que não precisam ou nunca dependeram de aposentadorias, talvez nem de trabalhar! São latifundiários, grileiros, banqueiros e outros tipos de saqueadores que agora serão beneficiados fortemente com novas leis. São os detentores das chamadas grandes aposentadorias, viúvas das grandes pensões, filhas beneficiadas com as pensões vitalícias, etc. E essas pessoas não têm o menor interesse em perder um governo, assim, “tão pai”, quanto esse! “Tem que manter isso, viu”! Já dizia um ex-presidente corrupto de passagem bem recente e que se mantem impune em sua bela mansão no país!
Assim perdendo cada vez mais suas industrias, o Brasil se vê às portas de um avanço sem precedentes da grande propriedade rural e da agricultura voltada para a exportação, passando com o rolo compressor sobre a pequena propriedade, anulando a agricultura familiar destinada à produção de alimentos para o mercado interno, acima da reforma agrária e dos movimentos dos sem-terra, ameaçando fortemente o meio ambiente. A Medida Provisória 910, da regularização fundiária, assinada na terça-feira 10 de dezembro último, por Jair Bolsonaro, acaba sendo o gatilho – somado à política de flexibilização do uso de armas no campo – para se temer um aumento de assassinatos na área rural. Essa MP tende a intensificar o conflito agrário no país, de uma vez que, ela só privilegia os grandes proprietários, – pelo menos aqueles que invadiram mais terras impunemente – e que agora poderão ter um documento que lhes beneficiarão, ao ponto de este ou aquele, grande beneficiado declarar que determinada área é sua, podendo, inclusive, faze-lo sobre uma área até já ocupada pelo próprio MST, por exemplo, e é ai onde reside a maior preocupação no chamado conflito de interesses, um conflito que, se armado que pode resultar em mais assassinatos no campo! E o maior alcance das medidas poderá se dar no território da Amazônia Legal!
Mas, nem mesmo tornando-se um país menos tolerante, com um governo que ao invés de buscar alternativas que nos levem a paz, instiga mais a prática da exclusão e só estimula mais e mais as condutas fascistas, este país não consegue sair da incômoda posição de coitadinho! A subserviência do governo ás chamadas “grandes nações” – Estados Unidos, novamente como péssimo exemplo – nos põe de joelhos, enquanto o líder, que tem a obrigação de defender a soberania nacional, em submissa condição, ao contemplar a bandeira americana, leva a mão ao peito e presta continência, desprezando o próprio chavão que diz “nossa bandeira jamais será vermelha”! E então? Vermelho, azul e branco, pode?
No anseio claro de bajular o presidente americano, Bolsonaro ignora os brios de uma nação gigante- por seu tamanho e riquezas – que, por breve período teve austeridade, altivez e tira desse povo o que ainda lhe resta de dignidade, para num “complexo de avestruz”, enfiar sua cabeça (do povo) num buraco qualquer, diante de tanta vergonha!
Em um trecho do editorial do Jornal O Globo desta terça-feira, 07, o editorialista referindo-se ao conflito EUA x IRÃ, assevera que, “O Brasil, antes de tudo, precisa preservar seus interesses, que não podem ser deste ou daquele governo. O de Bolsonaro apoia uma ação que torna o Oriente Médio mais perigoso e, por consequência, o mundo, devido à importância da região no suprimento mundial de petróleo. E ai não servem ao Brasil choques que abalem mercados. O que o país precisa é se preocupar, por exemplo, com os bilhões de dólares que obtém com as vendas do agronegócio para países islâmicos. Só com o Irã, acumula um saldo de US$ 2 bilhões”! Ainda de acordo com o editorial, “Jair Bolsonaro e o Chanceler, Ernesto Araújo atentam contra os interesses do Brasil, ao colocar o Itamaraty a serviço dos interesses de Donald Trump”. Uma posição bastante dúbia – diga-se de passagem – de uma vez que, se de um lado o governo brasileiro procura mostrar dureza para com o seu próprio povo empurrando a sua forma neofascista de governar, por outro se apresenta submisso e entreguista dos recursos que ainda nos restam!
Essa posição submissa pode trazer consequências severas. Sem querer ser alarmista, e aqui apenas repassando o que está posto pela imprensa nacional, “existe o temor de que os postos e consulados brasileiros se tornem alvos da anunciada vingança iraniana”, diz a jornalista Eliane Oliveira, em reportagem publicada, também, no jornal O Globo.
A verdade é que, a cada investida que o governo dá, a cada medida que adota, é melhor sair de baixo, pois algo muito ruim poderá cair sobre as nossas cabeças! O governo começa o seu segundo ano, pior que quando assumiu, sem dizer a que veio (ou, talvez, deixando bem claro, não sei). O que eu acredito é que – pelo sim ou pelo não – e diante de tantas desilusões, não dá mais para se esperar para ver onde tudo isso vai dar!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Aírton