A capital do crack

Rubens Nóbrega

Informação divulgada ontem pelo gabinete do senador Vital Filho mostra que ao tráfico de drogas ilícitas de modo geral e do crack em particular deve ser atribuída a maior parcela de culpa pelo fato de uma antiga ‘ilha da tranquilidade’ chamada Paraíba ter se transformado em um dos lugares mais violentos do Brasil.

A impressionante sequência de execuções de viciados, a maioria formada por jovens que não conseguem pagar suas dívidas aos traficantes, é apenas um exemplo dos efeitos da expansão do consumo de crack no Estado, principalmente em sua Capital, que em termos proporcionais é a maior consumidora da droga no país.

Lamentavelmente, nosso governo parece não dar importância ao fato nem adota medidas concretas para enfrentar esse gravíssimo problema de saúde pública e de segurança pública. Sequer pega carona em iniciativas do Governo Federal nessa área.
Tanto que o senador denunciou e o Ricardus I não rebateu nem esclareceu porque não engajou a Paraíba no programa ‘Crack, é possível vencer’, que contempla ações como o Curso de Prevenção do Uso de Drogas para Educadores de Escolas Públicas, promovido pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad).

Pra vocês terem uma ideia, mais de 122 mil educadores inscreveram-se para fazer o curso, que dispõe de ‘apenas’ 70 mil vagas. Tal limitação obrigou os organizadores a uma seleção dos interessados. Nessa peneira só passou, então, candidato que tem o seu Estado de origem participando do ‘Crack, é possível vencer’.

“Como o Governo do Estado não se inscreveu em tempo hábil no programa, os educadores paraibanos estarão de fora desta importante iniciativa de combate à droga. Mais uma vez, a administração estadual dá as costas a um problema dessa magnitude, que tanto mal causa aos paraibanos”, lamenta, com razão, o senador Vital Filho.

O maior consumo do Brasil

Segundo o policial federal aposentado Deusimar Guedes, especialista no assunto e educador-militante da guerra contra as drogas, “João Pessoa é a capital brasileira com o maior consumo de crack”. Sua afirmação é baseada em estudos do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid).

Citado na nota distribuída ontem por Vital Filho, Deusimar explica ainda que “enquanto a média de consumo nacional é de 1%, em João Pessoa esse índice é de 2,5%, superando em termos proporcionais até mesmo o município de São Paulo – onde há a conhecida “Cracolândia” -, que tem uma média de 1,8%”.

Agente especial da PF, advogado, psicólogo, especialista em Psicologia Criminal Investigativa, Deusimar é autoridade e referência na matéria, que estuda há mais de 30 anos. Daí não admira ter sido ele o primeiro a alertar para a chegada à Paraíba do oxi, droga tão viciante quanto e cinco vezes mais barata que o crack.

Curioso e ao mesmo tempo uma tristeza é observar, de outro lado, que o nosso Estado foi o quinto a recepcionar o comércio de oxi. Viemos depois de Maranhão, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro. Aqui, a entrega da nossa juventude mais pobre e desamparada ao consumo da poderosa droga começa por Mangabeira e Mandacaru.

Tráfico monitorando Polícia

Com a inversão de valores e prioridades que se estabeleceu na Paraíba, não dá para estranhar também que traficantes monitorem e vigiem eletronicamente o movimento de policiais.

Isso aconteceu ou pelo menos acontecia em Mandacaru em março do ano passado, segundo revelação à época de ninguém menos que o recém falecido Pastor João Filho. Então coordenador do Programa de Políticas Públicas de Combate às Drogas do Governo do Estado, ele contou que em visita ao bairro ficou contente em ver câmeras instaladas em postes.

“Virei para uma pessoa que estava nos acompanhando e disse que aquilo era ótimo, porque trazia mais segurança. Ela falou para mim que a câmera era dos traficantes para vigiar o bairro, para monitorar os passos da Polícia e dos moradores”, disse João Filho, em entrevista a um programa da TV Clube de João Pessoa.

A placa do Centro Turístico

Sobre a retirada da placa de inauguração do Centro Turístico de Tambaú, que também sedia a PBTur, recebi ontem do órgão o seguinte esclarecimento:

– A placa original, assunto de sua coluna desta terça-feira (14), encontra-se instalada no hall de entrada. Estava totalmente degradada devido à ação do tempo e durante a execução das obras no local foi definida a sua substituição por uma nova. Todo este procedimento foi explicado a Dona Glauce Burity pela presidente da PBTur, Ruth Avelino, por ocasião da visita da ex-primeira dama à sede da autarquia. Tão logo a nova placa ficou pronta, foi feita a sua instalação. Que bom. O gesto contempla o bom senso e a história do prédio, construído no Burity I e não ‘reconstruído’ pelo atual governo, como informava a placa nova que substituiu a velha enquanto Dona Glauce não foi lá reclamar.