Vamos pagar a reeleição de Dilma

Paulo Santos

Quem lê ou ouve o que está sendo oferecido tem a impressão imediata de que se trata de presente de natal fora de época. O dinheiro oferecido tem algo parecido com aquele dos áureos tempos da ditadura para “financiar” conjuntos habitacionais, estradas, saneamento básico, etc.

À primeira vista parece ser um negócio da China. É mais fácil obter do que tomar o picolé de ma criança. É quase “a fundo perdido”, como diziam nos anos de chumbo. A generosidade é praticamente infindável e não há quem não fique tentado a acreditar em tão boas intenções.

Há poucos dias o Governo Dilma anunciou um “pacote de bondades” para todos os Estados com a informação adicional de que as unidades federativas teriam uma carência de 20 anos para começar a retribuição àmão generosa de Brasília. Pense numa esmola grande!

A justificativa para tamanho desprendimento em tempos de crise: devolver aos Estados aquilo que lhes foi tomado na crise anterior, ou seja, o que foi descaradamente surrupiado de IPI e Imposto de Renda com a redução dos FPEs (Fundos de Participação dos Estados) lá pelos idos de 2010. Pense numa generosidade!

Quem estava vivo à época soube que Brasília foi forte para os fracos e fraca para os pobres. Quando parou a sangria desatada em cima do FPE o Governo Federal acelerou outra surrupiada, isto é, saiu isentando de IPI indústrias sulistas que produzem a chamada “linha branca” da qual o Nordeste só participa com a compra de penicos.

Chegamos a 2012 e todos os entes políticos pendurados na árvore do Governo Federal não param de badalar a generosidade de Dilma Rousseff e seus miquinhos amestrados da área econômica em abrir linhas de crédito ditas “especiais” para os Estados garfados durante a primeira etapa da atual crise.

A Paraíba não poderia ficar de fora desse manjar. Nem deve ficar porque, além de ter sido mais prejudicada do que os outros Estados em face da sua pobreza endêmica, tem a oportunidade de reaver quase R$ 800 milhões. Como nem tudo é perfeito, a “pequenina e heroica” tem um empréstimo adicional de pouco mais de R$ 200 milhões para a chamada “contrapartida”. É uma espécie de parceria, desigual, mas parceria.

Estaria tudo bem, tudo maravilhoso, com a Assembleia Legislativa cumprindo sua obrigação constitucional de avalizar essa montanha de dinheiro que vai desembarcar nos cofres de Aracilba Rocha, se por trás não existisse um plano maquiavélico urdido nos gabinetes alcatifados do Planalto.

É com essa farra de dinheiro público distribuído a todos os Estados que nós, os contribuintes, pagantes de impostos exorbitantes, bancaremos indiretamente a reeleição de Dilma e de vários governadores. Esses cão entrar de carona porque vão sobrar muitas migalhas de marketing.

Houve quem vibrasse com a “determinação” de que o dinheiro só será liberado a partir de janeiro para evitar seu componente corruptor nas eleições deste ano. Conversa fiada: começa a ser cumprido um calendário que vai culminar com o vai e vem de Dilma, por este país, quando estiver deslanchando seu projeto de reeleição.

Senão vejamos: o dinheiro para obras é liberado em janeiro. Sem a grana em caixa os governos estaduais não podem realizar licitações. O dinheiro de Brasília só começará a sair do cofre em março de 2013, pois janeiro é dedicado ao estudo do Orçamento e fevereiro tem carnaval, samba e violão.

Quando as águas de março estiverem fluindo os governantes das 27 unidades federativas iniciam as licitações e, quando isso ocorrer, têm que se submeter a um purgatório de 45 dias para desenrolar todo o novelo burocrático. Como as construtoras são ansiosas e nçao são burras, as grandes placas de propaganda oficial devem estar sendo instaladas nos canteiros de obras no final de maio, começo de junho de 2013.

Como não fiscalização do que é construído, as medições das obras financiadas pela generosidade do Governo Federal vai começar a se transformar em moedinhas tilintando nas contas dos empresários dos vários setores envolvidos nesse grande espetáculo de “desenvolvimento”.

A próximo etapa, de Norte a Sul do Brasil, é esperar que o final de 2013 bata à porta para que os “generosos” de hoje preparem o guarda-roupa para o desfile da reeleição em 2014. Vamos cansar de ouvir discursos de Dilma em inaugurações de obras financiadas pelo Governo Federal no Amazonas, no Acre, em Sergipe, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte e – quem sabe? – finalmente vindo à Paraíba.

Mais um embuste federal vai ser tocado com a mesma precisão do nado sincronizado que vemos nas piscinas do Pan ou das Olimpíadas. No Governo Lula houve a ampliação do bolsa-esmola que deu a reeleição. Menos mal porque distribuiu um pouco da renda com os mais necessitados. Nesse caso de 2014, não. A divisão do bolo, para reeleição de Dilma, será com os mesmo que estão se locupletando desde 1500 e com alguns outros, recém-chegados ao esquema.