Quem nunca ouviu falar que pomada para cavalo ajuda a tratar dores musculares? Ou então que vitamina de uso canino hidrata os cabelos? Muita gente acredita que a utilização frequente deste tipo de produto tem um efeito melhor, mais potente e rápido. Mas é justamente aí que mora o perigo.
O fato é que remédios e cosméticos veterinários possuem, além de princípios ativos e dosagens ideais para animais, uma concentração maior de substâncias —por isso seus usuários têm essa ideia de que são mais eficientes —, o que pode causar uma série de problemas à saúde.
Outro ponto é que estes itens foram desenvolvidos e testados baseados nas características de cães, gatos, equinos, bovinos… E não nas das pessoas, não sendo possível prever como reagirão ao entrarem em contato com a pele e o organismo humanos.
“Eles até podem funcionar, mas o mais provável é que provoquem alguma reação, inclusive com sequelas permanentes”, diz Vera Lucia Borges Isaac, professora do departamento de fármacos e medicamentos na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp (Universidade Estadual Paulista), campus Araraquara.
Quando se trata de xampus, usados pelas mulheres na esperança de acelerar o crescimento, dar mais força e brilho e evitar a caspa, e pomadas (cicatrizantes e para dores), a especialista comenta que os danos mais comuns são irritações (eczema), alergias, queimaduras —com possibilidade de deixar manchas e cicatrizes —, ressecamento, oleosidade capilar, seborreia, quebra e queda dos fios e sensibilidade no couro cabeludo.
“Esses produtos são mais agressivos e possuem pH e compostos tensoativos diferentes, quase sempre incompatíveis conosco. E não existem estudos que comprovem que eles irão cumprir o que as pessoas acreditam”, acrescenta.
Patricia Ormiga, assessora do departamento de cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), pontua que sempre que alguém recorre a um item que não teve a segurança comprovada está colocando a saúde em risco.
“Todos os remédios e cosméticos para humanos só são liberados para venda pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) depois de passarem por uma série de testes. Assim, sabe-se de antemão como irão reagir e seus efeitos colaterais. No caso dos de uso animal, não temos como saber, pois eles não foram avaliados, em nenhuma situação, em pessoas.”
Riscos mais graves
Anestésicos, antibióticos, vitaminas, suplementos e hormônios veterinários também têm feito sucesso fora do mundo animal —os últimos três um pouco mais entre os praticantes de atividade física que desejam ganhar ou aumentar os músculos. E, nestes casos, as consequências podem ser ainda piores, principalmente se a administração for intramuscular ou intravenosa.
“Toxicidade, elevação da pressão arterial, insuficiência renal e cardíaca, problemas estomacais e hepáticos, câncer e doenças psiquiátricas são algumas delas. E há também a possibilidade de morte”, adverte Fernando Zacchi, assessor técnico do CFMV (Conselho Federal de Medicina Veterinária).
Apesar de alguns produtos de uso veterinário terem a venda controlada, por determinação do Ministério da Agricultura, muitos acabam sendo comercializados de forma ilegal. Em tese, itens como hormônios e anestésicos exigem a apresentação de receita veterinária, mas, na prática, nem sempre isso acontece, até porque os estabelecimentos que os comercializam não são obrigados a terem um médico-veterinário.
Porém, para Zacchi, a presença de um responsável técnico, assim como uma fiscalização mais efetiva por parte do órgão responsável, são medidas que devem inibir a venda indiscriminada. Independentemente disso, ele faz uma recomendação: “Medicamentos e cosméticos desenvolvidos para animais jamais devem ser usados pelas pessoas, mesmo que pareçam inofensivos. Seus ‘possíveis benefícios’ não valem o risco”.
Fonte: UOL
Créditos: UOL