Para o arcebispo da Paraíba, Dom Manoel Delson, os sacerdotes católicos não devem participar de disputas políticas. Segundo ele, os padres que contrariam esta regra estão desobedecendo as orientações católicas. Ele aconselhou os fiéis a fugirem de ‘extremismos’ e de ideologias que não respeitem a vida e acrescentou que é dever da Igreja se preocupar com questões sociais e defender os menos favorecidos da sociedade.
O sacerdote concedeu entrevista exclusiva à reportagem do Polêmica Paraíba, na última quarta-feira (20). Bem-humorado e atencioso, ele recebeu a equipe no Seminário Arquidiocesano da Paraíba, no bairro do Castelo Branco, onde vive. Durante cerca de 30 minutos, Dom Frei Manoel Delson Pedreira da Cruz, de 65 anos, abriu o coração para questões sobre fé e a atual conjuntura político-social no Brasil.
O arcebispo que não costuma conceder entrevistas com regularidade, discorreu sobre os desafios enfrentados pela Arquidiocese da Paraíba, os projetos para o futuro da instituição e comentou sobre temas de cunho social e político que envolvem a Igreja. Pela primeira vez, ele falou sobre a decisão judicial que inocentou a Arquidiocese no processo sobre abuso sexual contra menores. Uma reportagem sobre o assunto será publicada neste domingo (24). A entrevista foi conduzida pelo repórter Felipe Nunes e contou com a colaboração do cinegrafista Marcelo Júnior.
Altar sem partido
Um dos tópicos da entrevista foi o movimento ‘Igreja sem partido’, que está crescendo no seio do catolicismo brasileiro, especialmente entre fiéis conservadores críticos à chamada Teologia da Libertação, ligada à esquerda. Sobre isso, Dom Delson explicou que o ser humano é um ‘animal político’, mas lembrou que a Igreja recomenda que seus líderes não participem da política partidária, isto é, não se envolvam com partidos políticos. “A Igreja enquanto Igreja, o clero, o bispo, a Igreja tem recomendado que não se envolva na política partidária. Isso está muito claro nas orientações da nossa Igreja. Alguns se envolveram e fazem parte de partidos. [Os que o fazem], não estão cumprindo as orientações da Igreja”, sentenciou.
Na Paraíba, o padre Luiz Couto é um dos expoentes católicos que estão envolvidos na política partidária. Filiado ao PT, ele foi candidato ao Senado na última eleição, mas não se elegeu. Atualmente, é secretário da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento do Semiárido da Paraíba. Outra proeminente liderança católica engajada na política de partidos é o deputado federal Frei Anastácio (PT).
Para Dom Delson, no entanto, as causas sociais defendidas pela Igreja não devem ser vistas como partidarização da religião, a exemplo da opção pela defesa dos pobres e dos menos favorecidos. Segundo ele, diferentemente da liderança da Igreja, os fiéis podem e devem estar envolvidos com a política. “O ser humano é um animal político, então não é possível o ser humano deixar de se envolver com a política. Cada ser humano tem o direito de fazer suas escolhas. Agora, a questão partidária é outra coisa. O povo tem que ter seu partido, os católicos, os evangélicos, cada um em que fazer suas opções. Até o Papa Francisco tem dito que a política com o “P” grande é o exercício da caridade, porque é a promoção do bem comum. Nesse sentido, todos devem fazer a política.”, disse.
Segundo o bispo católico, o próprio Evangelho resulta em implicações sociais que não podem ser ignoradas. “Nós fazemos opção pelo evangelho. E o Evangelho tem implicações sociais e não podemos deixar isso de fora do Evangelho. A caridade, a justiça, o atendimento aos mais necessitados, então não podemos fugir disso aí. Quando estamos defendendo os pobres, estamos sendo de um partido? Todos os partidos deveriam defender pobres e ricos”, considerou.
Ideologias que católicos não podem seguir
Apesar de ver como natural o envolvimento do cristão com a política, há algumas ideologias que não devem ser abraçadas por um católico, segundo Dom Delson, a exemplo da opção pelo aborto e o ateísmo. “Um certo partido prega o aborto, que é contra a vida; um cristão em consciência não deve seguir essa ideologia. Se não valoriza o ser humano da vida até a morte – apenas toma alguns aspectos da vida da pessoa -, um cristão não pode abraçar esse tipo de ideologia. Eu acredito que a fé cristã, para aqueles que estão convictos de sua fé, a gente tem que fazer escolhas e escolhas coerentes”, justificou.
O sacerdote católico ainda reforçou que os católicos não devem seguir ideias extremistas, que reneguem os ensinamentos de Jesus Cristo. Ele também defendeu o diálogo entre os cidadãos como solução para a radicalização do ambiente político. “Todos nós temos qualidades e temos limitações. Temos compreensões equivocadas que, no diálogo e na conversa, isso deve ser colocado, mas sempre com uma atitude de muito respeito. Cada ser humano deve ter a liberdade de dizer o que pensa, de fazer suas escolhas. A gente tem que entender um pouco isso. E um certo extremismo, um certo fundamentalismo que está em nosso tempo, não está nos ajudando, não”, concluiu.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba