Contra fatos não há argumentos. E isso é um fato! O Brasil, hoje – 20 de novembro – comemora o Dia Nacional da Consciência Negra. Mas dos 26 estados e um Distrito Federal, apenas 7(sete) têm “essa” consciência para decretar feriado numa homenagem aos negros que foram perseguidos, escravizados e martirizados em épocas que envergonharam e envergonham, até hoje, o país! Por ironia, o estado do Ceará (primeiro, segundo a história, a libertar os escravos) é um dos 19 outros – assim como a Paraíba – a não decretar o feriado nesse dia de lutas!
A atitude do deputado Coronel Tadeu (PSL-SP) ao se manifestar nesta terça-feira, 19, na Câmara dos Deputados rasgando uma placa afixada no túnel localizado entre o Anexo II e o Plenário da Câmara dos Deputados contra o genocídio da população negra, foi uma declaração flagrante de que o preconceito está mais vivo do que nunca nas consciências brancas e pedantes de quem, ainda, se sente supremo! A imagem que estampava o objeto continha o desenho de um homem negro algemado e deitado no chão e um policial com a arma saindo fumaça, como se tivesse acabado de disparar!
São atitudes como essa, que nos assustam e nos fazem refletir do porquê do preconceito? O deputado/coronel usou a defesa da corporação como justificativa para o ato! Não era necessário, primeiro: por que as estatísticas nos mostram claramente que é a carne negra a que mais sofre com a discriminação (não apenas da polícia, mas, enfim, de grande parte da população), pois o Brasil continua (e de forma bem mais acentuada) um país racista! Segundo: A Polícia Militar não precisa desse tipo de defesa, pois todos sabemos da importância da instituição para a segurança da sociedade – embora se acentuem cada vez mais os excessos – e atitudes como essa do coronel só vem contribuir ainda mais para realçar algo que, talvez ainda venha a ser dissimulado e pouco observado pelas principais vítimas dos abusos, a classe mais pobre e mais preta da população!
E para que não digam que estou falando apenas por falar e que não existem quaisquer provas que possam justificar o que digo, é bom saber que, “Do total dos mortos em decorrência de intervenção policial, entre 2017 e 2018, 75,4% eram pessoas negras. Contudo, esse grupo (que reúne as categorias de pretos e pardos, utilizadas pelo IBGE) representa 55% da população. O dado está presente no Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública 2019, divulgado no início de novembro.
Enquanto isso, brancos representam 44,2%, mas foram 24,4% das vítimas da letalidade policial. Em 2018, 57.341 pessoas foram mortas de forma violenta e intencional, o que representa uma queda de 10,4% em relação aos 64.021 de 2017. Não há uma explicação consolidada para a redução, mas uma das razões apontadas é o arrefecimento das disputas entre facções criminosas em determinadas regiões, fazendo com que o número retornasse aos (já altos) padrões de 2014. Na contramão dessa redução, os óbitos em decorrência de intervenção policial cresceram 19,6% de 2017 para 2018, atingindo a 6.220”. Por tanto…!
Para o coronel/deputado, é democrático quebrar a placa. “Eu considero democrático [quebrar a placa], sem dúvida nenhuma. Não podemos aceitar um atentado daquele contra a democracia. Aquilo é um racismo, não o que eu fiz. Que eles a coloquem outra no lugar com números sobre negros mortos no país. Sou favorável a causa, mas querer induzir que a polícia é a responsável pela mortalidade das pessoas negras, eu não vou admitir”, concluiu.
O parlamentar esquece, no entanto, que a democracia que o permitiu quebrar a placa – assim como outro parlamentar quebrou a placa com o nome de Marielle Franco – jamais será a democracia que defendemos e que está posta para que todos os outros (que não pactuam com atitudes violentas como a do coronel) possam colocar uma placa nos corredores do Congresso Nacional, de forma livre, sem proibições ou qualquer outro tipo de impedimentos – até porque o Congresso Nacional é a casa do povo – deixando o povo realmente livre para ir e vir!
Mas a liberdade e conquistas de direitos sempre foram algo que se conquistou – ou ainda se conquista – com um passo de cada vez! O que não deveria ser assim. Se são direitos, então, que jamais nos sejam negados! O Dia Nacional da Consciência Negra nasceu de uma ideia em 1971 durante uma reunião de universitários gaúchos em Porto Alegre.
Dia 20 de novembro foi o dia escolhido e por isso estamos hoje, aqui, conversando e denunciando abusos que continuam a nos incomodar. Para entender melhor, a data marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do quilombo que resistiu por 95 anos na Serra da Barriga, em Alagoas. Naquele dia, em 1695, Zumbi foi assassinado em uma emboscada e teve sua cabeça exibida em praça pública (atitude típica de uma civilização que teima em se perpetuar). Zumbi foi morto após liderar a resistência por quase duas décadas.
Para o autor da obra, na Câmara dos Deputados, Carlos Latuff, “Agressão de um policial militar, que por acaso também é um parlamentar, contra uma de minhas charges exposta no Congresso Nacional e que denuncia a violência policial, nos leva a seguinte reflexão: se fazem isso contra um cartaz, imagine contra gente de carne, osso e pele negra!”, escreveu o cartunista no Twitter.
Mas, ao contrário dos que desejam acabar com a evolução das consciências e que teimam em querer robotizar o povo, a atitude violenta e racista do coronel/deputado só contribui ainda mais a favor do movimento. Após o episódio, o cartaz está sendo replicado pelo mundo a fora e se multiplicando na “rede”, engrossando fileiras e replicando Zumbis e Ganga Zumbas para continuar a eterna batalha em favor do povo negro! E que venham mais coronéis, (deputados ou não). Que continuem a quebrar e a rasgar cartazes e a promoverem de forma inconsciente a propagação dos ideais de liberdade! Guardadas as devidas proporções e respeitando a instituição com compromisso, (quem age é o indivíduo), para cada ação de discriminação e preconceito, existirá uma natural reação de pessoas conscientes contra os soldados truculentos da opressão!
Salve 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra!
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Francisco Airton