Diz a revista “Veja”, em uma matéria publicada na mais recente edição, que os casamentos do presidente Jair Bolsonaro com os partidos não costumam chegar às bodas de madeira (cinco anos) – duram, em média, 3,8 anos. Ele já está na oitava sigla desde que entrou na vida pública em 1988 e já caminha para uma nova – o que, conforme ele, tem 90% de chances de acontecer. Bolsonaro está prestes a deixar o PSL, que lhe serviu de suporte para a candidatura vitoriosa em 2018. Divergências com expoentes da legenda pelo seu controle, envolvendo a partilha de recursos do Fundo Partidário, estão na raiz da migração de Bolsonaro, que, assim, reforçará sua condição de presidente recordista em troca-troca partidário desde a redemocratização, à frente de Fernando Collor de Mello, que passeou por sete siglas e de Itamar Franco, que trafegou por cinco.
Recentemente, como quem fala da procura por pretendentes, Bolsonaro comparou: “Sou uma menina bonita sem namorado”. Interlocutores ligados ao capitão reformado observam que a opção favorita, mas sem garantia de complicação, é a produção independente, ou seja, a formação de uma legenda completamente nova, “para começar do zero”. O atual mandatário foi filiado ao PDC, ao PPR, ao PPB, ao PTB, ao PFL, ao PP, ao PSC e acabou nos braços do PSL. “Veja” revela que a relação conflituosa de Bolsonaro com os partidos não é nenhuma novidade, citando que no PFL, hoje sucedido pelo DEM, ele não ficou nem um mês, tanto que parlamentares da legenda não se lembram de que ele passou por lá.
Em comum nas passagens do capitão por siglas partidárias está o fato de que ele nunca se interessou em ser líder de comissões ou de estruturas partidárias. Sempre se considerou independente, mais preocupado em agradar ao seu eleitorado. O cientista político Rafael Cortez, da consultoria Tendências e professor da PUC-SP define: “Essa característica é da natureza do próprio bolsonarismo, de querer se manter minoritário e não fazer coligações com ninguém. Agrada ao seu eleitorado mas também é um elemento de incerteza e de isolamento do Planalto. Partidos consolidados se protegem melhor das circunstâncias políticas e garantem um compromisso atemporal no exercício do mandato”. A instabilidade derivada desse tipo de comportamento pode ser aferida aqui mesmo, na Paraíba, onde expoentes do PSL sonhavam com um crescimento extraordinário do partido, já nas eleições municipais do próximo ano, e agora examinam alternativas de migração para efeito de sobrevivência política, antevendo o desmanche do PSL.
A analogia mais ilustrativa para a trajetória errática de Bolsonaro por partidos é feita em torno do périplo estonteante de Fernando Collor de Mello: ele foi do PDS, depois do MDB, do PRN, do PRTB, do PTB, do PTC e, finalmente, do Pros. Com exceção do MDB, PDS e PTB, as demais agremiações que acolheram Collor não têm grande expressão política-eleitoral no país, constituindo-se, em alguns casos, em legendas de aluguel, disponíveis para transações políticas por baixo dos panos. Collor, inclusive, quando botou na cabeça a ideia de ser candidato a presidente da República, estimulou um certo Partido da Juventude para diferenciar-se de velhos postulantes que iria enfrentar em 89, como Ulysses Guimarães. O ex-caçador de marajás das Alagoas foi advertido, contudo, de que a denominação “Partido da Juventude” discriminaria fatias experientes do eleitorado que ele iria cortejar, como as velhinhas e os aposentados. O “achado” de Collor foi a oferta de um certo Partido da Reconstrução Nacional, mais apropriado para o discurso que empalmou, focado na renovação e no combate às oligarquias, mirando, sobretudo, no presidente José Sarney, a quem chamou de “batedor de carteira” no calor da agitação eleitoreira.
Eleito pelo PRN, Collor não fomentou a expansão da legenda nem recrutou os escassos quadros nela existentes para compor o seu governo – logo sofreria o impeachment, com afastamento da presidência, e o PRN tornou-se um partido sem serventia para nada. O futuro partidário de Bolsonaro é incerto e a hipótese de criação de um novo partido esbarra num fator adverso – a rejeição, dentro do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, à tese da autorização para funcionamento de novos partidos. Os ministros afirmam que o Brasil não necessita de mais partidos – já conta com 32, o que configura excesso, em comparação com outros países.
Fonte: Os Guedes
Créditos: Nonato Guedes