Mudar o território não resolve

Paulo Santos

Há visíveis interesses de setores da sociedade de João Pessoa – dizem que até a Arquidiocese comunga dessa ideia – em retirar a Festa das Neves do local onde historicamente é montada – nos arredores da Basílica de Nossa Senhora das Neves, da Igreja de São Francisco, Palácio do Bispo e outras áreas da cidade antiga.

Alguns argumentos contra a instalação da principal festa de rua da Capital podem até soar verossímeis, pertinentes e é necessário ouvi-los com respeito. O primeiro aspecto que se apresenta é que todas as prováveis argumentações se baseiam em fundamentos imediatistas, sem levar a transitoriedade do evento, por exemplo, como um ponto contrário aos revanchistas.

A Festa das Neves, pelo que se observa, demora no máximo 10 dias “prejudicando” os interesses dos críticos. E quem baixa o sarrafo na tradicional festa pessoense são os comerciantes e moradores da área, além dos motoristas que se deslocaM à Cidade Baixa por aquelas ruas agora ocupadas por barracas de cachorro-quente e parques ditos de diversão para crianças e adultos.

É fácil criticar por criticar. O que ninguém se dispõe é a emparedar os administradores municipais para que busquem modernizar o evento. E há muitos exemplos Brasil afora e até no exterior. Não custaria caro sair á cata de equipamentos que pudessem racionalizar a ocupação dos espaços na rua General Osório e outras vias próximas.

A própria Capital tem exemplos de organização definitiva dos seus espaços de lazer e divertimento na chamada “área nobre”, isto é, o circuito Cabo Branco, Tambaú e Manaíra. Na administração do prefeito Carneiro Arnaud foram implantadas das célebres “barraquinhas padronizadas” com apenas uma se desfacando em dimensão (o Bahamas).

 Poucos acreditavam que a Prefeitura implantaria a padronização. O tempo passa, o tempo voa e veio a administração Ricardo Coutinho que arrancou definitivamente do piso da orla as barracas que não correspondiam às exigências do “padrão”. Isso uniu o útil ao agradável, ou seja, juntou-se a proibição de “espigões” para termos uma urbanização única nascida da seriedade política.

Já se sabe que o Brasil tem know how na criação de barraquinhas padronizadas para eventos permanentes ou temporários. Esses equipamentos já são utilizados em eventos na Sul, no Sudeste e no Norte do Brasil. Os equipamentos atuais são os mesmos de 50, 60 ou 70 anos atrás. São modelos obsoletos, incompatíveis como o aprimoramento dos produtos idealizados por criadores profissionais.
Outro grande problema é que a Festa das Neves geralmente é realizada em pleno período eleitoral e isso oxigena o chamado “jeitinho” resultante do conluio de péssimos empreendedores e autoridades da Prefeitura que prostituem o processo com autorizações esdrúxulas que só comprometem o espaço.

Ficou comprovado que há alguns anos um secretário municipal fornecia autorizações para instalação de barracas em guardanapos de motéis. Historicamente há outros exemplos dos vícios que a promiscuidade criou que, dependendo do prefeito, são combatidos, mesmo sem ênfase e divulgação.

Como estamos novamente em período eleitoral, seria de bom alvitre que candidatos e candidatas a prefeito (a) tivessem propostas sérias e verossímeis para edições futuras da Festa das Neves, mas que sejam anúncios sem enrolações, sem embromações, sem mentiras e sem enganações. Uma boa ideia pode sepultar de vez os inconsistentes argumentos favoráveis a nova mudança de local do evento.