CURITIBA E SÃO PAULO — Em seu primeiro discurso depois de deixar a cadeia em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou sua volta à arena política com promessa de viagens pelo Brasil com o intuito de defender um novo projeto para o país. Ele fez ataques ao governo Bolsonaro e aos responsáveis pela sua condenação pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, como o ex-juiz Sergio Moro e representantes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.
O ex-presidente voltou a defender sua inocência, disse crer que “dignidade não se compra em shoppping center, em feira ou bar”, e que a sua teria sido ferida por seus acusadores. Lula prometeu “lutar para melhorar a vida do povo brasileiro”, que segundo ele “está uma desagraça”, e ser contraponto ao governo Bolsonaro.
– Se pegar o Dallagnol, o Moro, alguns delegados que fizeram inquérito, enfiar um dentro do outro e bater no liquidificador, o que sobrar não é 10% da honestidade que eu represento nesse país – disse o ex-presidente que se referiu aos agentes como “lado podre” de instituições que trabalharam, em seu entendimento, “para tentar criminalizar a esquerda, o PT e o Lula”.
Em um discurso breve em palanque montado em frente à sede da PF, o ex-presidente leu em uma folha branca o nome de colaboradores que mantiveram a organização do acampamento Lula Livre e agradeceu a lideranças petistas, como a presidente do PT, Gleisi Hoffman e o ex-candidato a presidente da República, Fernando Haddad (PT), além de partidos aliados, como Psol e PCdoB.
Para Lula, Haddad não foi eleito presidente “porque a eleição foi roubada”, numa referência à acusação de uso de disparos massivos de mensagens de WhatsApp pela campanha de Bolsonaro no pleito de 2018. O episódio é apurado no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). – Eu imaginei que quando eu saísse, eu ia poder encontrar cada companheiro da vigilia (Lula Livre) e dar um abraço e um beijo. Vocês nao têm noção do que representaram para mim. Fiquei mais fortalecido, mais corajoso – disse o ex-presidente.
– Vocês eram o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e à canalhice que um lado podre do estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira” – discursou o petista
Lula deixou na tarde desta sexta-feira a carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, depois de passar 580 dias em cela improvisada para o cumprimento da pena imposta a ele pela Justiça Federal.
– Eu saio daqui sem ódio. Aos 74 anos meu coração só tem espaço para amor porque é o amor que vai vencer neste país – disse o ex-presidente à militância.
Condenado pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados a reformas realizadas em seu benefício pela Construtora OAS em um apartamento tríplex no Guarujá (SP), o ex-presidente é um dos quase 5 mil presos beneficiados por alteração da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), que agora não mais permite o cumprimento automático de pena de condenados em duas instâncias judiciárias.
Ao deixar a sede da PF, o petista cumpriu a promessa feita nos últimos dias e dirigiiu-se ao acampamento “Lula Livre”, localizado em frente ao prédio da polícia, para agradecer a militantes que realizaram eventos em sua solidariedade todos os dias desde a sua prisão. Estão previstos atos políticos com sua presença nos próximos dias também em São Bernardo do Campo (SP).
O alvará de soltura foi expedido pelo juiz Danilo Pereira Júnior, substituto na 12ª Vara de Execuções Penais, responsável pelo acompanhamento do processo do ex-presidente. No despacho, o magistrado determinou que autoridades e advogados do réu ajustassem os “protocolos de segurança para o cumprimento da ordem, evitando-se situações de tumulto e risco à segurança pública”.
Lula estava preso em Curitiba desde abril de 2018, em cumprimento à decisão do então juiz Sérgio Moro, hoje ministro da Segurança Pública e Justiça do governo de Jair Bolsonaro.
O então juiz da 13ª Vara Federal determinou a execução da pena depois que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) confirmou a condenação em primeira instância do ex-presidente e ampliou sua pena de 9 anos e 6 meses de prisão para 12 anos e um mês. Posteriormente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reduziu a pena do petista para 8 anos e 10 meses de prisão.
Nesta quinta-feira, a maioria dos ministros do STF decidiu que, segundo a Constituição, ninguém pode ser considerado culpado até o trânsito em julgado, numa referência à fase em que não cabe mais recurso. Para seis dos 11 ministros do Supremo, a execução da pena antes deste momento fere o princípio da presunção de inocência.
Lula foi condenado em três instâncias no caso do triplex em Guarujá (SP) – na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, no TRF-4 e no STJ – mas ainda aguarda julgamento de recursos no próprio STJ e no STF. O ex-presidente nega as acusações e diz ser inocente. Na manhã desta sexta-feira, o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin, havia solicitado a sua imediata liberdade à 12ª Vara de Execuções Penais. Ele protocolou o pedido depois de se reunir com Lula na carceragem em Curitiba.
Fonte: O GLOBO
Créditos: O GLOBO