Governador não teme CPI sobre Cagepa

Nonato Guedes

A declaração do governador Ricardo Coutinho, feita ontem, de que não tem restrições contra a instauração de uma CPI na Assembleia Legislativa para apurar problemas enfrentados pela estatal de água e esgotos desde 1995 terá reflexos no comportamento de deputados da chamada base aliada, levando-os a apoiar o requerimento de convocação que está sendo proposto pelo deputado Frei Anastácio Ribeiro, do PT. Já se fala, nos corredores da Assembleia, que o requerimento de convocação da Comissão Parlamentar de Inquérito poderá ser aprovado por unanimidade. Isto chegou a ser admitido pelo líder Hervázio Bezerra, que reivindicou, apenas, espaços para defesa da atual administração no curso das investigações a serem desencadeadas.

Ricardo Coutinho foi enfático ao dizer que não teme a transparência e que considera, mesmo, que a CPI poderá ser decisiva para traçar um Raio X das causas que levaram a empresa à situação de quase insolvência em que se encontra. “Se houver intenção de se fazer jogo político contra o meu governo, o tiro pode sair pela culatra”, advertiu o governador. O deputado licenciado Adriano Galdino, por sua vez, alerta que a CPI pode ter efeito bumerangue contra administrações passadas que contribuíram para o estágio de endividamento da empresa mas cujos responsáveis esquivam-se de qualquer responsabilidade. Para ele, há problemas crônicos no histórico da empresa, que não resvalam diretamente sobre a gestão Ricardo Coutinho. “A atual administração encontrou um abacaxi para descascar, e está procurando agir no sentido de resolver as pendências. O que atrapalha é o radicalismo, ou seja, a tentativa de politizar uma questão que é de absoluto interesse público”, acrescentou.

O governador e seus interlocutores políticos não abrem mão da votação do projeto enviado à Assembleia, pedindo autorização para que o Executivo seja avalista de um empréstimo de R$ 150 milhões a ser contratado junto à Caixa Econômica Federal, dentro da estratégia de fortalecimento da empresa e de seu saneamento financeiro. O empréstimo tem gerado polêmica entre deputados governistas e oposicionistas, e por duas vezes a aprovação tornou-se impraticável no âmbito da Casa Epitácio Pessoa. Todavia, há perspectiva de que na próxima semana a matéria seja, finalmente, votada, e deputados que ainda estão refratários à concessão da autorização para obtenção do empréstimo passaram a ser contatados nas últimas horas para rever a atitude que adotaram.

Ricardo Coutinho estava em estado de graças, ontem, ao anunciar em solenidade bastante prestigiada, no teatro Santa Roza, um pacote de investimentos somando R$ 4 bilhões e contemplando diversos municípios do Estado. A capital receberá um tratamento especial da parte do governo na aplicação de recursos em obras de infraestrutura, abocanhando R$ 1 bilhão do montante. Em meio às boas notícias, o governador fez acenos para a harmonia entre os Poderes em torno de soluções para as demandas da população. “Nós somos intransigentes quando estão em jogo os interesses da coletividade”, expressou Ricardo Coutinho, salientando que o anúncio de obras em João Pessoa simboliza o reencontro da administração estadual com a capital, às vésperas do transcurso dos seus 427 anos de fundação, no próximo dia cinco de agosto.

Em paralelo à ofensiva do governo do Estado, o prefeito de João Pessoa, Luciano Agra (sem partido) iniciou a programação de entrega de obras e ações como parte do calendário de comemorações do aniversário da cidade. O primeiro evento foi marcado pela deflagração de melhorias na infraestrutura da comunidade do Timbó, no bairro dos Bancários, com investimentos que somam R$ 13 milhões. No local, serão investidos R$ 9 milhões em pavimentação, drenagem e contenção de barreira. Com os novos recursos, a prefeitura garante aplicação total de R$ 13 milhões em toda a comunidade. O prefeito, que está rompido politicamente com o governador, de quem foi aliado, lembrou que as obras de infraestrutura constituem uma reivindicação dos habitantes da localidade há mais de 30 anos. “A administração está quitando uma dívida que tinha com os moradores do Timbó”, ressaltou.