A Cagepa é uma adutora estourada. Sem encanador

Gilvan Freire

As empresas públicas, no Brasil inteiro, são um antro de corrupção, empreguismo e desperdício. Por mais que a gente queira proteger esses monstrengos custeados pelo povo e, especialmente, pelos pobres, não adianta mesmo. Não bastassem os baixos níveis de eficiência do serviço público e das organizações estatais, o medo da população é de que as privatizações sejam mais corruptas do que as empresas privatizadas, e de que os conhecidos gatunos do Erário enriqueçam com as malandragens privatistas.

Além do mais, quando o Estado transfere a particulares esses grandes negócios montados com o sacrifício de mais fome e mais miséria dos brasileiros excluídos, a economia privada floresce. Os mais ricos do Brasil moderno são aqueles que compram do Estado empresas públicas milionárias a preço de bodega, com financiamento garantido por bancos oficiais. Ou seja, há um esquemão de ladroagem sempre pronto para agir quando os cofres públicos arreganham suas portas e expelem o cheirão da naftalina oficial. Privadas e privatizações, todas têm o mesmo fedor – só o dinheiro público é que cheira.

A Cagepa, a despeito de muitas pessoas honestas que lá estão, é uma empresa que vende mais do que recebe, desperdiça mais do que vende e fornece a quem usa e não compra e nem paga. O modelo paternalista, complacente e viciado é uma anomalia, dessas que entre os empresários ninguém suportaria, sob pena de entrar no negócio já falido.

Mas, se houvesse a privatização, o Estado assumiria as dívidas da empresa, seus encargos trabalhistas e fiscais, e o comprador ficaria com seu fantástico patrimônio – inavaliável -, e a carteira de consumidores, esta em torno de R$ 40 milhões mensais. Com a vantagem (para o comprador) de, pela primeira vez, a Cagepa ter direito a um dono responsável. Problema é que, em nosso país, as privatizações, além da compra de empresa cara a preço vil, se transformaram num assalto à economia popular, com a conivência dos órgãos reguladores do próprio governo. Ninguém escapa das aves de rapina que controlam a gestão pública.

A Cagepa virou trampolim nas mãos de governos incompetentes que passam suas contas para o consumidor pagar. É um instrumento do poder público usado para explorar a população e fazer a felicidade de bancos, fornecedores de equipamentos, serviços e materiais. Só resta ao povo pagar a água que não consome, a água que outros consomem mas não pagam e a água do desperdício, que ninguém consome mas consta na conta que direta ou indiretamente o povo é compelido a bancar.

Ainda há, por fora, a fatura da corrupção histórica, que todos os governos acham que o povo tem também a obrigação de pagar. Deu pra entender porque essa zuada toda?

Haverá um dia em que esse trem desgovernado vai bater na montanha. Mas ainda não será agora. Falta omem. Com H.