“Cada cidadão brasileiro terá uma arma de fogo em sua casa”. Essa foi a maior promessa eleitoral do presidente eleito. Na lógica dele armar a população torna o país mais seguro e diminui a violência. Aliás, o gesto com as mãos como se estivesse atirando em alguém foi o símbolo de sua campanha. Chegou ao cúmulo de incentivar uma criança a fazer isso, ao coloca-la em seus braços durante um evento político.
Tem muita gente que pensa, acompanhando seu raciocínio, que portar uma arma de fogo representa ter mais segurança pessoal. Alimenta a falsa ilusão de que o cidadão, ao ser assaltado por um bandido, reagirá imediatamente e o criminoso levará a pior. Em primeiro lugar, o assalto é sempre um evento inesperado, o bandido inevitavelmente nos pega de surpresa. Nem dá tempo da vítima alcançar a arma para reagir. Temos visto casos em que policiais, bem treinados, não conseguem sacar de sua arma com rapidez para atingir o assaltante. Imagina quem não recebeu treinamento para tal.
Além do mais, fico criando o cenário de como será o Brasil com todo mundo portando uma arma. No trânsito, nas baladas noturnas, nos eventos com grande público, onde podem acontecer brigas, discussões exaltadas, bebedeiras, consumo de drogas. Claro que isso representa um risco muito grande para as pessoas, oportunizando a perda de vida de muitos inocentes. Nem todo indivíduo está preparado mental e emocionalmente para possuir uma arma de fogo, mesmo que seja com o propósito de utiliza-la exclusivamente em sua defesa pessoal.
Aí vêm com a argumentação de que “se os bandidos têm, porque não posso ter para me defender?” Será que estará preparado mesmo para se defender? E porque não pensar de forma contrária: desarmar os bandidos? Combater o tráfico de armas.
Colocar como pauta prioritária e importante de governo um projeto armamentista, está incutindo na mente das crianças a ideia de que armar-se é algo que deva ser considerado normal. Atirar, matar, mesmo que seja um bandido, é uma ação cidadã. No meu ponto de vista isso é, pura e simplesmente, incitação à violência. Passar a ilusória sensação de que a arma é um instrumento de poder.
Não, eu me recuso portar uma arma de fogo. Prefiro continuar cultivando a cultura da paz, num mundo com mais amor. A arma que me garantem o direito de portar, peço que troquem por livros. Assim me sentirei mais preparado para enfrentar as adversidades da violência urbana. Nunca usei uma arma de fogo, nem pretendo usá-la, seja qual for a circunstância.
Fonte: Rui Leitão
Créditos: Rui Leitão