de brejo do cruz para o mundo

AVÔHAI E COCAÍNA: Zé Ramalho conta como música nasceu e sua trajetória com as drogas - VEJA ENTREVISTA COMPLETA

De Brejo do Cruz para o Brasil inteiro, Zé Ramalho foi o convidado do Conversa com Bial desta sexta-feira, 4/10. Ele, que poderia ter sido médico, fez com que sua paixão pela música fizesse o menino do interior do Nordeste um dos maiores artistas do Brasil. Depois de completar 70 anos na última quinta-feira, o cantor celebrou a nova idade contando suas incríveis histórias de vida e da criação de seus grandes sucessos, entre eles “Avôhai”.

Órfão de pai desde os três anos e com um avô que tomou a vez de genitor, Zé contou que o processo de criação da música “Avôhai”, palavra criada por ele como uma mistura de avô com pai:

“Amanita é das espécies desses cogumelos que dizem alucinógenos. Como eu estava cursando Medicina, estávamos realizando um trabalho para a universidade para esses fungos”.

Zé Ramalho conta como uma 'viagem de cogumelo' mudou sua vida

Zé Ramalho conta como uma ‘viagem de cogumelo’ mudou sua vida

“Na música, tem um trecho que eu estava descrevendo o que eu estava vendo: ‘Que transparente cortina ao meu redor’. Era como se fosse a aurora boreal. Foi uma coisa muito forte para eu viver isso. Ao voltar para casa, fiquei pensando durante dias nessas sensações e começou a me chegar a letra toda de uma vez só. Peguei o violão e, assim, em casa, eu já sabia para onde ia a mão”.

“Foi a única vez que isso aconteceu comigo. É quase uma coisa meio sobrenatural.”

Medicina

Para a família, a carreira de Doutor era a mais acertada, mas o sonho do paraibano era viver de música. Aos 21 anos, ele decidiu largar o curso de Medicina e ir viver na “cidade grande”.

“Eu estava no segundo ano agoniado nas salas de aula. Eu não ia ser um bom médico, eu não queria fazer aquilo. Estava com essas músicas já prontas: AvôhaiChão de GizVila do Sossego, estavam todas assim, já prontas e eu tive que tomar uma decisão de chegar em casa e contar para a família: ‘Olha, não vou mais estudar. Não vou mais para a faculdade. Eu quero ir para o Rio de Janeiro ou São Paulo tentar a carreira de compositor e cantor’.”

“Foi um choque social muito grande familiar. Eles ficaram muito tristes. Era uma esperança muito grande que eles tinham.”

Longe de casa

Na conversa, Zé Ramalho contou sobre os primeiros anos fora de sua cidade natal e definiu a experiência como “Muito difícil”.

“Eu não tinha ninguém. Eu vim para cá, achando que o que eu sabia da vida dava para sobreviver, então foi um teste de sobrevivência diária”.

Foi inspirado nessa época que outro sucesso foi criado. “Garoto de Aluguel” surgiu após experiências vividas pelo compositor no Rio de Janeiro:

“Eram algumas amigas, algumas pessoas que eu conhecia em porta de teatro, lá no Rio de Janeiro, que viam minha situação e de mais alguns colegas, e passávamos a noite juntos e deixavam um valor no dia seguinte para um café da manhã e isso me inspirou nessa canção que é muito gravada”.

O início do sucesso

Zé fala sobre trajetória em busca de uma gravadora e relembra início do sucesso

Zé fala sobre trajetória em busca de uma gravadora e relembra início do sucesso

Na trajetória em busca de uma gravadora, após ouvir diversos “nãos”, as portas se abriram para o sucesso com a canção Avôhai.

“A caminhada foi longa, até que cheguei na gravadora que era a do Roberto Carlos e ainda é até hoje, o diretor da gravadora, Jairo Pires, quando escutou a música foi uma reação completamente diferente. Ele abriu os braços e olhou para cima. Ele era uma pessoa muito espirituosa. Ele olhou para cima e disse: ‘Vamos gravar!’, então saiu um peso muito grande de cima de mim”.

Versões de músicas de Bob Dylan

“Os caras pegaram o material e levaram para ele ouvir. Ele aprovou tudo, apenas com um detalhe: 100% de grana para ele”.

“Muita gente criticou as versões que eu fiz na época, colocando a realidade brasileira nelas”.

Vício X Carreira

Zé Ramalho fala sobre vício e relembra susto que levou com problema de saúde

Zé Ramalho fala sobre vício e relembra susto que levou com problema de saúde

“Eu apenas parei. Nunca fiz tratamento, nunca fiz nada de psicanálise nenhuma. Simplesmente eu disse: ‘Hoje é a ultima vez e nunca mais retornei’.”

“Sofri bastante, mas o mais importante era recuperar a carreira. A carreira sofreu muito porque eu fiquei sem gravar. As gravadoras não animavam mais a gravar comigo. Como diz a canção: você vai até onde dá para ir. Nesse limite eu parei aquilo.”

Saúde

Na conversa, Bial e Zé Ramalho falaram sobre a saúde e o cantor lembrou um dos grandes sustos que levou após uma de suas caminhadas de rotina no calçadão da praia.

“Quando eu fui atravessar a rua, bateu, coisa que eu nunca tinha sentido na vida, tudo escureceu, eu não via nada e disse para minha mulher: ‘Beta, me segure que eu vou cair’. Ela me amparou e eu me apoiei no chão procurando onde estava o chão’.”

“Se eu não morri ali… a hora de eu morrer era essa ali. Agora, vai ter que esperar porque eu consegui me recuperar”, brincou.

O Grande Encontro

Zé Ramalho fala sobre 'O Grande Encontro' e comemorações pelos seus 40 anos de carreira

Zé Ramalho fala sobre ‘O Grande Encontro’ e comemorações pelos seus 40 anos de carreira

“Foram tempos maravilhosos”, contou sobre o projeto que rendeu três álbuns ao lado de Elba Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo.

“Eu estava com esse projeto já dos 40 anos e quis me dedicar a isso e eles entenderam. Eles foram os mais compreensivos, acho que todo o tempo que eu fiz com eles, uma coisa assim que eu jamais vou esquecer como é bom estar na companhia deles. Sinto saudade deles”.

Composições

“É uma coisa que eu faço solitariamente em casa. Eu ainda preciso fazer mais uns discos, ainda não parei minha produção, não”.

Música “Admirável Gado Novo”

Zé Ramalho fala sobre a música "Vida de Gado"

Zé Ramalho fala sobre a música “Vida de Gado”

“Ela tem a mistura de várias culturas do Nordeste. Os boiadores. Essa coisa, a vida de gado faz parte de todo vaqueiro”.

“Uma das coisas que eu tenho muito orgulho é da cultura do Nordeste também. Essas coisas todas que só existem ali. Não existem em outro lugar”.

Parceria com Chitãozinho e Xororó em “Sinônimos”

Zé Ramalho fala sobre parceria com Chitãozinho & Xororó em “Sinônimos”

“Os autores dessa canção tinham dado essa música para uma outra dupla e disseram: essa música só vai dar certo se for cantada com Zé Ramalho. A dupla que recebeu a incumbência não me fez o convite e a música se passou um, dois anos, foi quando passaram para o Chitãozinho e Xororó. Eles me convidaram, fui e fizemos a gravação. Ficou maravilhosa”.

Fonte: GShow
Créditos: GShow