Pena que a Lava Jato tenha se perdido no caminho, desvirtuando seus objetivos de origem. A força tarefa responsável por seus trabalhos, em articulação com alguns juízes e integrantes da Política Federal, fugiram da nobre missão que lhes foi confiada. A sociedade brasileira aplaudiu no princípio as suas ações porque acreditava que, efetivamente, a operação voltava-se para combater a corrupção sistêmica em nosso país. Aos poucos se tornou perceptível que por trás de seus procedimentos, até então tidos como promotores da limpeza política que se faz necessária, estavam preponderando interesses pessoais e de grupos.
Ao se partidarizar deixou claro que se transformara num “projeto de poder”. Deslumbrados pela fama, seus operadores começaram a projetar ingresso no mundo político, negociando cargos no executivo e arquitetando candidaturas a postos eletivos. Sem falar no obsessivo desejo de obterem ganhos financeiros e econômicos, no proveito do apoio que vinha recebendo da opinião pública. Fizeram “caixa” com palestras e outras “cositas mais”. Relações promíscuas entre integrantes do Ministério Público e do Poder Judiciário, têm comprometido o “devido processo legal”. A seletividade e a parcialidade dos seus atores demonstram-se explícitas, em prejuízo da justiça equânime e isenta.
Isso tudo tem nos levado à conclusão de que, além da faxina que se exige no ambiente político brasileiro, se faz também de urgente necessidade proceder uma limpeza na composição da força tarefa da Lava Jato, a partir do momento em que ela se viu na condição defensiva, em razão das inúmeras denuncias que estão sendo colocadas a conhecimento público pelo The Intercept. Nas suas entranhas manifesta-se um comportamento que não condiz com a boa prática do direito. É preciso, portanto, salvar a Lava Jato, preservando os bons propósitos que lhe deram causa. Não se combate o crime cometendo outros.
A Lava Jato tem um papel histórico a cumprir. Mas não o fará se continuar agindo em afronta à Constituição e ao Estado Democrático de Direito. Se não queremos que os poderosos se beneficiem da cultura da impunidade que há séculos existe em nossa nação, igualmente não desejamos que a justiça seja praticada de forma a desrespeitar a legalidade e o princípio definido na Carta Magna de que “a lei é para todos”, indistintamente. Os que se apresentavam como paladinos da moralidade e da ética perderam autoridade para falar em aplicação da justiça. Foram flagrados no cometimento de ilegalidades que os descredenciam como agentes investigadores e julgadores. É preciso salvar a Lava Jato, a verdadeira, a que obrigatoriamente tem que se mostrar séria e responsável.
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Fonte: RUI LEITÃO
Créditos: RUI LEITÃO