Não chega propriamente a surpreender o perfil de que se investe o ex-governador Ricardo Coutinho por cima dos escombros da crise que ele contribuiu, em muito, para fomentar, dentro do PSB paraibano, refazendo a crônica de uma trajetória ascendente e plenamente vitoriosa, com sua inegável e valiosa quota de participação, influenciando na eleição de deputados estaduais e de um deputado federal, atraindo um peemedebista para o PSB com direito à vaga de candidato a senador, afinal conquistada, além de ser glorificado como grande cabo eleitoral de João Azevêdo, eleito seu sucessor em primeiro turno, não obstante ser neófito. Em declarações dadas com exclusividade ao colunista Suetoni Souto Maior, do “Jornal da Paraíba on line” e a jornalistas de cidades do interior, Ricardo forçou a barra para posar de vítima, sentindo-se vítima de ingratidão por ter ajudado a eleger tanta gente e ter que renunciar a uma candidatura teoricamente consagradora ao Senado.
Terá transcorrido mesmo assim, como narra Ricardo? Houve quem aludisse, ontem, a uma analogia: Ricardo está se imbuindo do papel do Galo de Chantecler, da fábula de Edmond Rostand, que acreditava que o Sol só nascia porque ele cantava. O galo músico não abria mão de ser admirado, melhor dizendo, bajulado e aplaudido, iludindo-se com a própria mística que criou de que seu canto tinha poderes divinatórios, a ponto de interferir na eclosão dos raios solares. Ricardo Coutinho fez-se mentor de um agrupamento político denominado “girassol” no Estado, deu à luz a um Coletivo ilustrado com seu nome, debochou de adversários a quem se aliou para tirar proveito próprio e no discurso de posse em primeiro de janeiro de 2011, para cumprir o primeiro mandato de governador a que estava predestinado, não teve pejo em dizer: “o povo chegou ao poder”. Com ele! Depois de ter passado por tantos governadores populares e queridos, como João Agripino Filho, a Paraíba só foi inventada, ou “reinventada”, por obra e graça de Ricardo Coutinho. Porque estava escrito nas estrelas – e assim foi cumprido.
Um chá de humildade talvez ajudasse o “profeta das palavras” Ricardo Coutinho a lembrar que ele se descartou de aliados e antigos “jardineiros” (era como chamava os companheiros de girassol) sem o menor drama de consciência. Ou não terá sido assim com Luciano Agra, ridicularizado em rodas palacianas até no jeito de falar, por causa da pretensão de ser testado nas urnas como candidato a prefeito de João Pessoa? Agra foi rifado sem dó nem piedade dentro do PSB para dar lugar a Estelizabel Bezerra, a nova paixão política de Ricardo, que nem chegou ao segundo turno. Agra deu o troco em alto estilo, engajando-se à campanha do homônimo Luciano – Cartaxo, reeleito em 2016 derrotando Cida Ramos. Ricardo Coutinho abriu a campanha de 2012 apelando no Guia Eleitoral: “Ouçam o que Estelizabel tem a dizer”. Pelo resultado das urnas, ela não foi ouvida – ou, talvez, não tivesse muito a dizer.
Sinceramente, dá para Ricardo ignorar que em 2010 precisou da ajuda de Cássio Cunha Lima, o senador de um milhão de votos, para chegar ao Palácio da Redenção, duelando contra José Maranhão, que era tríplice coroado no Executivo tupiniquim? Depressa Ricardo passou uma esponja nas insinuações de que Cássio era um “coronel oligárquico posando de moderno”. Mas quase o mesmo ele dissera de Veneziano Vital do Rêgo, que arrastou em 2018 para o PSB com a condição de disputar o Senado para derrotar Cunha Lima. Gravações de entrevistas não muito remotas de Ricardo flagram-no identificando Veneziano com estilos arcaicos e provincianos de fazer política. E, no entanto, em 2018, tudo foi deletado, porque Veneziano aceitou se compor com Coutinho.
Há inúmeras outras histórias interessantes, de bastidores, que ainda não vieram à tona. Para não alongar muito, basta lembrar que Ricardo decidiu permanecer no governo do Estado até o último dia porque não confiava transmitir o cargo à vice-governadora Lígia Feliciano, do PDT. Chegou a alarmar, pela imprensa, que ela e o marido, o deputado Damião Feliciano, compunham um “clã” ambicioso que tentava montar um “governo paralelo” para destruir o tal “projeto socialista”, que acabou resultando em calvário. E o que sucedeu? Sucedeu-se que Azevêdo, o ungido de Ricardo, manteve Lígia na chapa como vice, com o pleno conhecimento e consentimento de Coutinho, visto em inúmeros palanques dividindo espaço com a vice que conspirava à frente de um governo paralelo. Com Nonato Bandeira, Ricardo tantas aprontou que acabou convencendo-o a reconciliar-se com ele. E o teve no governo, dentro da melhor técnica ricardista de humilhar até parceiros reabilitados. Sim, a história se conta por versões. Muitas delas convergem para a expectativa que Ricardo criou, em torno de si, como o Rei Sol da Paraíba. Era disso que tratava o intelectual e licenciado Eilzo Matos em escritos antológicos na internet que agora estão sendo recuperados em arquivo digital. Segue o trabalho…
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Os Guedes