Em nossa jornada pelos caminhos dos engenhos de cana por toda a Paraíba e na busca pelas melhores cachaças produzidas por aqui chegamos a mais um premiado encontro, onde os aromas acabam nos conduzindo ao doce da cana, do mel e da rapadura feita na hora! É daqui que sai uma das marcas mais disputadas nas mesas sofisticadas do país.
A Dornas Havana produz dornas e barris de variados tamanhos, dentro da capacidade de 1 a 60.000 litros.
“A cachaça, bebida feita da fermentação e destilação do melaço proveniente da cana-de-açúcar foi descoberta pelos escravos dos engenhos de açúcar em meados do século XVI. Era considerada uma bebida de baixo status perante a sociedade, pois era consumida apenas por escravos e brancos pobres, enquanto a elite brasileira da época preferia vinhos e a bagaceira (aguardente de bagaço de uva), trazidos de Portugal”.
Bem vindos de volta a Rota da Cana!
Na busca pelas melhores cachaças da Paraíba, chegamos ao município de Alagoa Grande, onde nasceu a Cachaça Volúpia! Alagoa Grande tem igrejas e teatros seculares, casario construído com a mão de obra escrava, e ainda a comunidade quilombola de Caiana dos Crioulos, na região rural, que reúne descendentes de escravos. No local existia um quilombo com escravos fugidos de Mamanguape e Areia, e hoje seus descendentes vivem em harmonia e praticam o côco de roda em suas apresentações.
Mas foi lá em Alagoa Grande, também, que nasceu o nosso Jackson do Pandeiro, considerado um dos maiores ritmistas do país, responsável pela nacionalização de inúmeras músicas nordestinas e que neste ano de 2019 completaria 100 anos de existência! Logo na entrada do município, um grande portal em forma de pandeiro reverencia o grande músico. Sem esquecer o Museu Jackson do Pandeiro, totalmente dedicado ao rei do ritmo, contando sobre a sua história e curiosidades de sua vida.
E neste maravilhoso universo cultural está localizado O Engenho Lagoa Verde, que fica a cerca de 117 km da capital João Pessoa e, que também, utiliza um método artesanal de fabricação e plantação orgânica para garantir a pureza e a qualidade do produto. “A Volúpia é uma tradicional cachaça paraibana que sempre pertenceu a família Lemos, desde o século XIX e atravessou várias gerações sempre buscando resgatar a história, a cultura e a tradição dessa bebida genuinamente brasileira”. A Cachaça Volúpia foi a 1ª cachaça no Brasil a ser engarrafada em garrafas de porcelana e está entre as cachaças mais premiadas do Brasil atravessando gerações. Em 2003, 2007 e 2009 posou entre as melhores do Brasil e em 2010 recebeu seu maior prêmio, eleita a melhor cachaça do Brasil pela VEJA. Desde então sempre figura as primeiras posições nas mais diversas premiações do Brasil, estando inclusive nas primeiras colocações no ranking do prestigiado Cúpula da Cachaça.
Uma mulher loura, seminua, é Volúpia!
Na história da Volúpia, o trabalho foi sempre passado de pai para filho sem nunca perder a essência que é a qualidade. A história começa em 1817 quando a família Lemos se instalou na região para produzir derivados de cana, como o açúcar mascavo e a rapadura. A cachaça só entra em cena em 1946, quando Otávio Lemos fundou a Volúpia. Tudo começou com Antônio Lemos, que passou as terras onde é fabricada a cachaça para seu filho Manoel de Lemos, depois veio Otávio Lemos de Vasconcelos na sucessão dos negócios que, criou e idealizou a marca Volúpia, além de lançar no mercado e obter grande sucesso perante o público consumidor. Seu filho, José Ribamar Lemos continuou as atividades da empresa, e nos dias atuais, a Cachaça Volúpia está sob a direção de Vicente Otávio Lemos.
Em 1946, quando Otávio Lemos fundou a Volúpia, ele chocou a população com um rótulo bastante ousado e escandaloso para a época. Uma mulher loura, seminua, com os seios à mostra e apenas um véu cobrindo suas partes íntimas ilustrava o rótulo da garrafa. Conta Vicente Lemos, neto de Otávio Lemos e atual responsável pelo engenho e pela crescente evolução da Volúpia, que a história que o seu avô contava é que “quando a pessoa bebesse até a metade da garrafa, o véu ia cair. Essa era a promessa que ele fazia para ébrios consumidores da época”. Setenta e três anos depois o desejo ainda acompanha afoitos consumidores na esperança de que caia o véu e aí… Ao longo dos 40 anos no comando do engenho, Vicente Lemos fez da Volúpia uma das marcas mais conhecidas e respeitadas do país, pois com a sua formação de farmacêutico, transformou o Engenho Lagoa Verde em uma fábrica tecnicamente impecável, com controles de qualidade rígidos desde o plantio até o engarrafamento.
Um aroma típico do Brejo
Com um controle de qualidade rígido, que vai desde o plantio até o engarrafamento da bebida, a cana é orgânica e na fermentação utiliza-se uma técnica da própria região, em que a levedura é extraída da própria cana, conferindo à cachaça um aroma típico do brejo. A destilação é feita em alambiques de cobre aquecidos à vapor, o que proporciona maior controle de temperatura e depois armazenada em pipas de freijó de 10 mil litros, onde fica descansando por cerca de um ano, até ser engarrafada em sua versão prata, premiada por todo o Brasil. Segundo o site O Concierge em matéria de 2015, “Se tem uma região do Brasil que precisa ser reconhecida com o Selo de Indicação Geográfica para a cachaça artesanal, e se tivesse que escolher, com certeza, votaria na região do Brejo Paraibano. A região com clima serrano abrange oito cidades: Alagoa Grande, Alagoa Nova, Areia, Bananeiras, Borborema, Matinhas, Pilões e Serraria. E, é claro, produz algumas das cachaças mais famosas e premiadas do Brasil, como a Turmalina da Serra, de Areia, e a Serra Preta, de Alagoa Nova e outro tesouro paraibano, a Cachaça Volúpia, de Alagoa Grande”.
Ano passado, mais precisamente no dia 1º de fevereiro de 2018 recebeu o prêmio de melhor cachaça branca paraibana e quinta mais bem colocada no Brasil durante o 3º Ranking da Cúpula da Cachaça. A última etapa da competição, que teve início em setembro daquele ano, foi realizada em Analândia, interior de São Paulo, onde a Volúpia disputou com mais de mil e cem rótulos, todos com registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Depois da primeira fase, 250 marcas foram selecionadas. Na sequência, elas passaram pela avaliação de 48 especialistas em cachaça, responsáveis por eleger os 50 melhores rótulos do país, a cada dois anos. Está com a família Lemos a cinco gerações.
Podendo transitar facilmente entre o popular e o clássico, a cachaça Volúpia foi, inclusive, a selecionada pelos produtores da série Gabriela, da obra de Jorge Amado, como a bebida dos coronéis! Se por acaso eu deixei de falar que a cachaça é considerada a mais brasileira das bebidas, queiram me perdoar, pois é a mais pura verdade! Ao me parecer repetitivo poderei ainda voltar ao tema um pouco mais adiante. No entanto é também importante lembrar que a cachaça, ao mesmo tempo que chega a ser considerada a mais brasileira das bebidas, é também uma obra de arte, haja vista a forma como é produzida. Impossível falar de cachaça sem que se faça uma ligação com a cultura no seu mais amplo sentido. Somente durante a Semana de Arte de 1922, quando se buscou as raízes brasileiras, é que a cachaça voltou a ser considerada um símbolo da cultura nacional e contra a adoção da cultura européia. E, desde então, é considerada, sim, a mais brasileira das bebidas e famosa em todo o mundo.
Industrializada ou artesanal – Como funciona o mercado
De acordo com a AGEITEC – Agência Embrapa de Informação Tecnológica – após devidamente consultadas as suas fontes, “O preço do produto e a forma de comercialização também são diferentes. A cachaça industrial é vendida em torno R$0,70 o litro na destilaria e é comercializada em larga escala, tanto no mercado interno quanto no externo. A pinga artesanal consegue um valor de, no mínimo, R$1,30 por litro e, dependendo da forma como é comercializada, pode chegar, em média, a R$4,50 a R$6,00 por litro.
Em lojas especializadas, a cachaça artesanal é vendida a preços muito altos, dependendo da marca, podendo ultrapassar o valor de R$200,00 por uma garrafa de 700 mililitros. Ou seja, o valor agregado na produção artesanal é muito elevado, já que o consumidor adquire um produto praticamente exclusivo.
Outra forma de agregação de valor ao produto são os certificados de qualidade e os certificados socioambientais, como o orgânico e/ou o de indicação geográfica. A cachaça produzida em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, foi a primeira a conseguir o certificado de indicação geográfica como denominação de origem.
Para exportação, o preço varia entre US$1,00 e US$2,50 o litro, que é vendido no mercado internacional por US$ 20,00 a US$24,00 por litro. Segundo estimativas do PBDAC, espera-se que as exportações cheguem a 100 milhões de litros em dez anos, pois a qualidade da cachaça brasileira vem melhorando a cada safra e conquistando cada vez mais consumidores estrangeiros, sobretudo os europeus”.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba