O presidente demitido nesta semana da ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), Guto Ferreira se declara decepcionado com o governo Jair Bolsonaro por não cumprir a promessa de campanha de priorizar o combate à corrupção. Também critica o ministro da Economia, Paulo Guedes (a quem diz admirar), por não dar atenção à indústria e à retomada do desenvolvimento.
Ferreira foi exonerado do cargo por Bolsonaro nesta quarta-feira (4) após afirmar, em entrevista à revista Veja, que o secretário o lhe fez “pedidos não republicanos”.
Em conversa com o UOL, Guto Ferreira volta a atacar seu chefe, o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa. Desta vez com novas acusações: Costa teria pedido que a agência pagasse despesas pessoais, em período de folga, durante viagem oficial para o exterior.
Segundo Ferreira, o secretário do Ministério da Economia solicitou que a agência bancasse os custos para a ida ao evento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) na Austrália —além dos gastos em um período de folga.
Ferreira diz que ainda aparecerão outras denúncias “com provas documentais” contra seu ex-chefe.
“O problema passa a acontecer quando sou pressionado a manter um período do secretário em uma cidade do Oriente Médio, que eu não concordo, porque não existia agenda ou justificativa. Quando você tem uma viagem no serviço público é preciso apresentar uma agenda. Se não é apresentada a agenda não há como viajar”, diz.
Mensagens comprovariam o relato
Ferreira afirma que possui mensagens sobre o caso e que denunciou o episódio dentro do Ministério da Economia, mas que “nada foi feito”.
O ex-presidente da ABDI também diz que, quando Bolsonaro cogitou transferir a ABDI do Ministério da Economia para o Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos da Costa solicitou uma manifestação pública contrária à medida.
“Eu disse que não poderia fazer isso porque era uma negociação do presidente. E a resposta que me chega do secretário [Carlos da Costa] é assim: ‘esta é uma decisão da equipe econômica e não do presidente da República’. Existe, para mim, um problema claro de identificação da equipe econômica com o presidente Bolsonaro”, afirma.
Para ele, Bolsonaro não controla seu governo. “Existem três governos independentes”, afirma. O primeiro, do próprio presidente, o outro, da equipe econômica, e o terceiro, do ministro da Justiça, Sergio Moro.
“Para mim foi uma grande decepção a não apuração do caso. Maior decepção que a não apuração, que seria me colocar frente a frente com o secretário, é ouvir que eu menti”, disse.
Procurado pela reportagem, o Ministério da Economia afirmou que Ferreira não apresentou quaisquer provas de ilegalidades que teriam sido praticadas por Costa.
“Foram mostradas a alguns servidores do ministério algumas trocas de mensagem de aplicativo de celular, nas quais não se detectaram ilicitudes até o momento”, disse a pasta.
Segundo o ministério, foi solicitado à assessoria de controle interno, no dia 2 de setembro, que “tomasse providências necessárias ao devido esclarecimento dos fatos noticiados, de modo a que se possa avaliar adequadamente eventuais desconformidades e riscos à integridade associados aos temas noticiados”.
A pasta informou ainda que pediu uma ação de controle à CGU (Controladoria-Geral da União).
Fonte: Uol
Créditos: Uol