Desde o início de A Dona do Pedaço, Joseane (Agatha Moreira) dá indícios de que não gosta da mãe, Maria da Paz (Juliana Paes). A confirmação veio quando ela, em parceria com o padastro Regis, vivido por Reynaldo Gianecchini, com quem também se relaciona amorosamente, arquitetou o plano para roubar a fortuna da personagem de Juliana.
Nos últimos capítulos da novela global, Maria foi alertada de que a filha é psicopata — e desde então, o termo surgiu na novela algumas vezes. Mas como perceber os indícios que o seu filho pode ter traços psicopata e quando é a hora de buscar ajuda?
Primeiro, é preciso entender que o termo psicopatia é uma maneira coloquial de chamar o transtorno de personalidade antissocial, ou seja, pessoas que têm insensibilidade ao outro, não demonstram empatia genuína e não sentem que os comportamentos delas pode machucar. Elas fazem o que querem para obter o que tem interesse, relata o psiquiatra da Clínica Psiquiatria Paulista Henrique Bottura. “O ser humano tende a conhecer alguém, criar identificação, exercitar a capacidade de se colocar no lugar do outro e ter cuidado na interação cotidiana, para não ferir os sentimentos, mas quem tem psicopatia não consegue fazer isso”, conta.
Ainda de acordo com Bottura, não se tem claro o que ocorre de diferente no corpo de quem vive com transtorno de personalidade antissocial. No cérebro, explica, há uma área responsável por integra as próprias emoções com as noções de percepções externas — e nessas pessoas, isso não funciona bem.
“Toda personalidade tem características que nascem com a pessoas e outras vão sendo desenvolvidas ao longo da vida — o que se sabe da psicopatia é que, em muitos casos, essas pessoas podem ter passado por traumas pesados no início da vida e, para lidar com tanta dor, matam alguns sentimentos para sobreviver. Mas é uma hipótese, assim considera-se também fatores biológicos relacionados, que já nascem com a pessoa”.
Primeiros sinais
Os indícios de um comportamento psicopata não tem idade para surgir e começam a aparecer nas relações sociais. “Contudo, os pais notam que o filho está agressivo demais, que faz crueldades com irmãos, amigos e animais de estimação, por exemplo, e que não sente peso na consciência por isso. Também tem baixíssima tolerância à frustração e ao ser contrariado, além de não esboçar reações quando levam broncas de adultos, sendo basicamente insensíveis”, esclarece a neuropsicóloga especialista em psicologia do desenvolvimento Deborah Moss.
Porém, esses são indícios — o que não significa que a criança será um psicopata quando crescer. O diagnóstico só é feito aos 18 anos e por um médico — e é bem difícil de ser feito, alerta Bottura. “Quando um médico avalia, faz um levantamento da vida social da pessoa. Na infância, condutas violentas, que estão desalinhadas com os valores ensinados pelos pais, associadas à ausência de culpa e arrependimento, são chamadas de transtorno desafiador opositor. Na adolescência, recebe o nome de transtorno de conduta. Mas isso não é definitivo para cravar um diagnóstico”, esclarece Bottura.
Fique alerta, mas não apavore
Caso você perceba algo de diferente em casa, não precisa se desesperar. “Crianças estão experimentando a vida e, por isso, eles têm comportamentos desajustados, o que é natural. Eles vão errar, porque estão aprendendo. Não é porque uma criança roubou algo ou machucou um colega, que ele já pode ser considerado psicopata”, conta Henrique.
Quando os pais percebem esses comportamentos, que não são alinhados com os valores que ensinam em casa, e ainda percebem uma ausência de culpa ou arrependimento nos filhos, é hora de ficar alerta. Vale ir até a escola e conversar para saber como o pequeno se comporta no dia a dia. Caso note que há algo disfuncional, buscar ajuda de um psicólogo infantil é um passo importante.
“Percebendo que isso ocorre com frequência na vida do filho, busque ajuda na psicoterapia para auxiliar no desenvolvimento das habilidades sociais. Isso treina a criança para reconhecer as necessidades do outro. Mas não dá para se falar em cura para o problema”. Tentar ajudar o outro a ter empatia é uma construção contínua, que pode ou não ser bem-sucedida.
Fonte: Universa
Créditos: UOL