Esses são alguns achados de pesquisa do Datafolha realizada nos dias 29 e 30 de agosto, uma semana após o início da crise envolvendo focos de incêndio descontrolados na região amazônica, que levou o Brasil a entrar em rota de colisão com países europeus, França em especial.
Foram ouvidas 2.878 pessoas com mais de 16 anos em 175 cidades brasileiras, e a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou menos.
O envolvimento internacional na região, proposto pelo presidente francês, Emmanuel Macron, foi objeto de algumas das questões.
Além dos 3/4 que acham o interesse legítimo, 22% discordam dessa afirmação. Também consideram que outros países usam a crise ambiental como desculpa para explorar a Amazônia 61% dos ouvidos, ante 35% que discordam.
Por outro lado, 66% dos entrevistados defendem que o Brasil aceite dinheiro estrangeiro para aplicar na região.
Ao longo da semana, França e outros países ofereceram ajuda financeira ao país, mas Bolsonaro rejeitou inicialmente —depois, insinuou que não aceitaria verba europeia, enquanto discutia cooperação com EUA e Israel, cujos governos o presidente considera aliados ideológicos.
O viés nacionalista aparece quando a pergunta é sobre quem deve gerir a região. Para 40%, a Amazônia é responsabilidade do Brasil, como prega a política oficial do governo.
Já 35% acham que o país é soberano lá, mas deveria ouvir outras nações.
Por fim, 22% dos entrevistados pelo Datafolha acham que uma gestão internacional, como sugeriu Macron, seria uma boa ideia.
O embate entre ele e Bolsonaro sobre a floresta chegou ao conhecimento de 60% dos entrevistados, enquanto 40% não ouviram falar do caso.
O francês é visto como mais preparado para lidar com o problema (41% a 36%), mais preocupado com a Amazônia (44% a 30%) e mais equilibrado no encaminhamento de soluções para a região do que o brasileiro (44% a 32%).
Aprovam o combate ao desmate e a incêndios de Bolsonaro 25%, enquanto 21% veem a gestão como regular —além dos 51% que a reprovam e 3% que dizem não saber avaliar.
Nesse item, Bolsonaro tem sua gestão mais criticada por jovens de 16 a 25 anos (60% de ruim/péssimo), pessoas com nível superior de escolaridade (56%) e mais ricos (entre aqueles com ganho mensal acima de dez salários mínimos, 55% reprovam sua atuação na área).
Durante a crise, países anunciaram que podem rever acordos comerciais como o firmado pelo Mercosul e a União Europeia neste ano. A percepção chegou ao público: para 64% dos entrevistados, o episódio pode retirar investimento estrangeiro do Brasil, enquanto 32% não acreditam nisso.
A agressividade empregada por Bolsonaro no trato da crise, notada especialmente em seu duelo verbal com Macron, pode ter o mesmo efeito de perda de investimentos para 69% dos brasileiros —27% não creem nessa possibilidade.
O agronegócio, pintado por ambientalistas como grande vilão da destruição da Amazônia, é visto como preocupado com a questão por 48%, enquanto 46% discordam disso. Já 61% não acham que o setor precisa de mais espaço para se desenvolver, ante 35% que pensam o contrário.
A mudança de governo não influenciou tanto a cabeça do brasileiro quando o assunto é o impacto de políticas ambientais sobre o desenvolvimento econômico.
Em 2018, o Datafolha havia feito essa pergunta e a resposta era que 59% descartavam esse efeito —agora, são 55%, um empate estatístico no limite da margem de erro.
Diferentemente de aferições sobre a popularidade de Bolsonaro, os dados da pesquisa apresentam homogeneidade em quesitos como distribuição regional. O Norte, área totalmente sob cobertura da Amazônia, só sai um pouco da curva quando o entrevistado responde acerca das intenções estrangeiras de explorar a região: 69% acham que há, ante 61% do cômputo geral.
A percepção de que o desmatamento está aumentando na Amazônia, conforme os dados oficiais do Inpe que Bolsonaro colocou em dúvida mostravam, é ampla: 71% dos ouvidos acham isso, enquanto 21% creem que a taxa está no mesmo ponto e 5% que veem queda na área afetada.
Disseram ao Datafolha terem visto fogo recentemente em área de reserva ambiental 37% dos entrevistados, ante 62% que não viram incêndios. O número de testemunhas, previsivelmente, aumenta nas regiões mais afetadas: no Norte, são 46% que viram e no Centro-Oeste, 47%.
O Datafolha também repetiu algumas questões que haviam sido feitas em maio de 2009, na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A política ambiental do petista era vista como ótima ou boa por 20%, enquanto a de Bolsonaro assim o é por 21%.
A diferença vem a seguir: 70% consideravam regular a de Lula, ante 28% que veem assim a do presidente atual. E 49% a rejeitam como ruim ou péssima a gestão hoje; eram 2% dez anos atrás.
A década que separa as pesquisas viu algumas mudanças de avaliação. Em 2009, 63% achavam que o governo federal era muito responsável pelo desmatamento amazônico. Agora, são 47% —e 17% hoje acham que não há responsabilidade alguma do Planalto, ante 7% há dez anos.
Caíram também a responsabilização de madeireiros (72% para 60%), fazendeiros (68% para 53%), índios (38% para 26%) e ONGs (40% para 31%), sendo os dois últimos grupos alvos usuais do discurso de Bolsonaro acerca de culpados pela crise ambiental.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Igor Gielow