Uma “Eminência Parda”

DESTERRO DOS GIRASSÓIS: A vaidade alimentada pela bajulação midiático-palaciana transformou Ricardo num árbitro do governo - Por Júnior Gurgel

Sua ira foi punir Edvaldo Rosas, presidente do PSB: destituí-o de forma ilegítima e por um ato de força da executiva nacional. Um verdadeiro absurdo praticado por quem defende a democracia.

DESTERRO DOS GIRASSÓIS

Por Júnior Gurgel

Ex-governador Ricardo Coutinho – professor da área de Saúde da UFPB – demonstra profunda desprezo ou ignorância pela história, ao desaperceber que o futuro sempre esteve no passado. Os eventos se repetem em forma de espiral, e as lideranças se esgotam em si mesmo, nos limites da mediocridade permeada pela vaidade exacerbada. Perder uma disputa pelo comando de sua própria legenda (PSB)?  Quem não tem a capacidade de liderar seu próprio exército, perde as dragonas que carrega sobre os ombros e o respeito da tropa.

Humildade é a palavra mais pronunciada pelos políticos, muito embora (paradoxalmente) poucos a exerçam na pratica, ou interpretem seu real significado. Poder não se transfere, se conquista. Não importa os métodos, carisma ou sorte de João Azevedo – mesmo que os “girassóis” o considerem “cria” do ex-governador Ricardo Coutinho – são inquestionáveis suas conquistas, a partir da escolha do seu nome como candidato do PSB ao governo do Estado em 2018. Derrotar em primeiro turno dois opositores de peso, não é tarefa fácil. Um representando o PSDB, apoiado pelo ex-senador Cássio Cunha Lima, prefeito da Capital; prefeito de Campina Grande… O outro, senador da república, ex-governador que já comandou três vezes os destinos da Paraíba. Nem o próprio Ricardo, nos seus melhores dias, conseguiu tamanha façanha.

Na história de todas as civilizações, o poder sempre foi “piramidal”. Roma no auge de sua expansão – período republicano – até que tentou modificar este método, criando um Triunvirato. Não funcionou. Ex-governador Ricardo Coutinho, quando passou o “bastão” para João Azevedo, foi aconselhado pela maioria dos seus amigos “mergulhar” temporariamente, e deixar seu sucessor “tocar o barco”. Experimentar as primeiras tempestades, criar seu próprio estilo e tomar gosto pela governança. Nos momentos difíceis, necessariamente o procuraria para contemporizar as “meditas” na aliança partidária que sustentaria a governabilidade. Isto era o obvio e o mais prudente. Mas, a vaidade, alimentada pela bajulação midiático-palaciana o transformou num árbitro do governo. Uma “Eminência Parda” que de “fato” governava até quem de “direito” ocupava o cargo governador. João Azevedo foi muito tolerante…

Ricardo Coutinho começou a arrostar de forma autoritária o governo federal – legitimamente eleito pelo povo – que já não suportava mais o PT e a quadrilha composta por seu séquito de aliados. Postura que obstruía os caminhos de João Azevedo na busca de apoio financeiro para sua gestão. Difícil… Em seguida, “Operação Calvário” prende por corrupção e formação de quadrilha a supersecretária Livânia Farias. A Paraíba descobre que a Secretária de Finanças do Governo do Estado era a “companheira” do ex-governador Ricardo Coutinho. Boquiaberto, o povão estarrecido indagava: João Azevedo é mesmo governador?

Gilberto Carneiro – General quatro estrelas das tropas “Ricardistas” se afasta voluntariamente, após sua “imediata” ser presa. Neste caso, só restou ao governador João Azevedo a alternativa “Djalma Marinho”*: “ao Rei tudo, menos a honra”. Com ou sem delações que o envolva no desvio constatado de 200 milhões de reais, a imagem de Ricardo Coutinho desgastou-se rapidamente, ao ponto de perder o respeito e prestígio da maioria dos diretorianos da legenda que o abriga. Sua ira foi punir Edvaldo Rosas, presidente do PSB: destituí-o de forma ilegítima e por um ato de força da executiva nacional. Um verdadeiro absurdo praticado por quem defende a democracia.

Apesar de ter um semblante arrogante, prepotente, Edvaldo Rosas demonstrou que sabe o significado da palavra “humildade”. Foi o “carregador de piano” do PSB e Escudeiro Mor de Ricardo Coutinho desde seu primeiro mandato como prefeito de João Pessoa. Considerado como da “cozinha” de Ricardo, Edvaldo desde 2004 que prepara banquetes para receber convidados que querem sentar a mesa de jantar do poder: Gervásio Maia, Adriano Galdino; Ricardo Barbosa; Efraim pai e filho; família Mota de Patos; Veneziano Vital do Rego… Para ele, a refeição viria das sobras, ou se serviria após os convivas sentirem-se regalados. Candidatou-se a deputado federal, perdeu. Estadual, idem. Nunca ocupou um espaço de prestígio no primeiro escalão da era “Ricardista”. Viu todos seus adversários de outrora atropelarem-no, por ser absolutamente invisível dentro do poder, e para quem servia. A vingança é um prato frio… Represálias são atos absolutamente necessários e indispensáveis no mundo político. Afinal, com quem Edvaldo Rosas aprendeu? Com aquele que traiu Nadja e Herbert Palitot, Luciano Agra; Roseana Meira; Nonato Bandeira…

*Djalma Marinho – deputado federal do Rio Grande do Norte, udenista depois arenista. Líder do governo na câmara, quando estourou a bronca dos militares, pedindo licença para processar Márcio Moreira Alves. Jornalista e deputado federal que fez um artigo bobo, pedindo às moças que não dançassem a valsa com os cadetes formando no baile da AMAN. Este episódio culminou no fechamento do Congresso e cassação de vários parlamentares, lista encabelada por Mário Covas. Na hora de votar, Djalma fez um rápido pronunciamento sobre sua lealdade. Mas, no final votou contra os militares e justificou: “ao Rei tudo, menos a honra”. Não foi punido nem cassado.

Fonte: polemica
Créditos: POLEMICA