opinião

As consequências políticas do racha entre Ricardo Coutinho e João Azevedo - Por Flávio Lúcio

A resposta à pergunta que dá título a esse artigo é: a nenhum dos dois, sobretudo a Ricardo Coutinho.

Já que alguns jornalistas têm insistido na versão muito pouco crível, e bem ao gosto dos que fazem intrigas, de que Ricardo Coutinho é quem se esforça por provocar o rompimento com o governador João Azevedo, é bom lembrarmos que a única arma que o ex-governador dispõe é a força moral e política de sua liderança, enquanto João Azevedo dispõe, hoje, de toda a máquina administrativa do governo.

Inclusive para transformar indivíduos que, não faz muito, não cansavam de jurar fidelidade a Ricardo Coutinho e agora o desprezam sem nenhum constrangimento, como é o caso do deputado Hervázio Bezerra, só para lembrar um nome entre tantos outros.

Portanto, não cabe a insistência de que Ricardo Coutinho será responsável pelo racha com João Azevedo. Se acontecer, terá sido exclusivamente pela iniciativa do atual governador.

Sejamos sinceros. Por que RC iria empreender esforços na direção de um movimento cujo resultado prático seria transformar em derrota, a  vitória de largo alcance, inclusive histórico, contra as forças oligárquicas da Paraíba, conquistada em 2018?

Se o racha se tornar realidade, Ricardo Coutinho será obrigado a reconhecer a inutilidade dos  esforços feitos por ele ao longo dos oito anos de governo para dar consistência a um projeto político-administrativo que se concretizasse em obras e ações de governo.

Se o racha se tornar realidade, os paraibanos que votaram no candidato apoiado por Ricardo Coutinho, tanto para que o seu governo tivesse continuidade, como para evitar que as forças do atraso, do familismo, do patrimonialismo, do clientelismo voltassem a governar a Paraíba, vão inevitavelmente se perguntar: qual o sentido de ter votado em João Azevedo se, menos de um ano depois de eleito, o atual governador rompe com RC para se aliar com quem o povo derrotou?

Porque um rompimento de João Azevedo com Ricardo Coutinho produziria inevitavelmente uma recomposição das forças políticas no estado. Como a história política da Paraíba é rica em demonstrar, sobretudo em anos recentes de polarização política, continua a não haver espaço para o surgimento de uma terceira via, no caso atual, uma alternativa às forças tradicionais e ao campo progressista hegemonizado pelo PSB.

Se for isso mesmo, talvez alguns assessores mais próximos ao atual governador enxerguem a possibilidade de João Azevedo ocupar o espaço vazio no campo das lideranças conservadoras, todas derrotadas em 2018: Cássio Cunha Lima e José Maranhão sofreram derrotas humilhantes para o governo e para o Senado, respectivamente; e a tais lideranças emergentes (Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues) sequer se encorajaram à disputa. E depois de deixarem os cargos que hoje ocupam, tendem a perder importância política na Paraíba.

Restará a senadora Daniela Ribeiro, a única dessas lideranças que se salvou da avalanche política de 2018, e porque fez uma campanha em faixa própria. Mas, Daniela teria condições de aglutinar toda a oposição em torno de si? As idiossincrasias da família Ribeiro, o apego ao governismo, os vínculos cada vez mais estreitos com Jair Bolsonaro, e, sobretudo, a ausência de um projeto consistente de desenvolvimento para a Paraíba, traço que é comum a toda a oposição, tornaria Daniela Ribeiro uma candidata sem expectativa de vitória.

Tanto quanto se tornaram José Maranhão e Lucélio Cartaxo. Não foi por obra do acaso que Luciano Cartaxo e Romero Rodrigues desistiram de suas candidaturas. Os dois simplesmente reconheceram que não tinham o que dizer ao povo para se contrapor ao projeto liderado por Ricardo Coutinho.

É isso que João Azevedo almeja? Se for, ele deixará o campo de forças políticas que o elegeu e que avança, eleição a eleição, em todo o Nordeste, para se aliar a partidos e a lideranças que, eleição a eleição, tem sido derrotadas?

Se João Azevedo pensar racionalmente, concluirá que o lugar político dele é ao lado de Ricardo Coutinho.

Fonte: Flávio Lúcio
Créditos: Flávio Lúcio