O poderoso Ricardo Marcelo

Rubens Nóbrega

Não tem Ricardo Coutinho, não tem Maranhão nem Cássio. O ‘dono’ da maior bancada na Assembléia, hoje, atende pelo nome de Ricardo Marcelo e vem a ser justamente o presidente da Casa.

Segundo Trócolli Júnior, a ‘base marcelista’ conta atualmente com 32 deputados, enquanto outros dizem que pode chegar à unanimidade se Lindolfo Pires e Léa Toscano resolverem aderir.

É uma situação curiosa, atípica, inusitada mesmo na história do Legislativo Estadual. Particularmente, nunca vi, tampouco lembro um presidente de Assembléia com tanto poder quanto o atual.

Decorrência do fenômeno, a curiosidade jornalística impõe naturalmente algumas perguntas que se fundem na expectativa de saber o seguinte: como, por que e pra quê formou-se tal bancada?

Evidente que ao comum dos mortais é muito improvável o acesso aos motivos reais da formação desse bloco nem há muita clareza sobre a finalidade e intenções de tão numeroso grupo parlamentar.

Sobre o como, girassóis empertigados e cassistas encafifados dizem que Ricardo Marcelo montou uma usina de favores e benesses atraentes para discreta ou secreta fruição de seus seguidores e apoiadores.

Quanto ao porque e pra quê, é certo que a bancada marcelista não atua, por exemplo, como frente parlamentar em defesa de alguma causa pública conhecida, de alguma bandeira política de inegável interesse público.

Para que serve, então? Nos bastidores correm três versões, três possibilidades. A primeira, mais verossímil, assim espero, diz que é para dar sustança a uma candidatura de Ricardo Marcelo ao Senado em 2014.

A segunda, na qual prefiro não acreditar, remete ao canto da parede, à faca nos peitos – em sentido figurado, lógico – do Ricardus I. Para dele tirar vantagem, boquinhas e aspones que rolam no velho balcão do fisiologismo e clientelismo.

Já a alternativa C encontraria argumentos e fundamentos na mais assombrosa (ou acalentada) teoria da conspiração: estaria em curso um golpe para tirar Ricardo Coutinho da Ganja e do Palácio pela via do impeachment.

Para tanto, pegando uma deixa qualquer ou bola levantada pelo próprio monarca, contra ele a maioria marcelista faria o que dois terços da Paraíba adorariam: abriria um processo por crime de responsabilidade e o afastaria do trono por 180 dias.

Ao cabo desse período de afastamento, o soberano seria impichado e impedido de voltar o poder. Assumiria Rômulo Gouveia? Depende. Depende de o atual vice participar ou não da conjura.

Sem apoiar os inconfidentes, o ‘Gordinho mais oleado da Nova Paraíba’, como chamam seus admiradores, também seria degolado pela mesma guilhotina que aguarda o pescoço do imperador.

Com os dois fora, os substitutos seriam eleitos pela Assembléia. Isso porque vagando os cargos de governador e vice na segunda metade do mandato, a Assembléia preenche as vagas em eleição indireta.

Catando as pedras, juntando as peças e somando dois mais dois, com PEN ou sem PEN, adivinha quem seria eleito governador?
O que diz o presidente

Sobre o tema da coluna, enviei perguntas ao deputado Ricardo Marcelo. Sua Assessoria de Imprensa mandou prontamente as respostas, na forma como segue.

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1. É verdade que o presidente tem uma ‘bancada’ de 32 deputados, como revelou o deputado Trócolli Júnior em recente entrevista ao programa Polêmica Paraíba, da 101.7 FM?

– Ricardo Marcelo sempre procurou ter uma relação de muito respeito com os seus pares na Casa de Epitácio Pessoa. Ele sempre diz que a Assembleia é dos 36 deputados e todos eles comandam o Legislativo. Existe atualmente da ALPB uma unidade muito grande e uma relação de muita cumplicidade e respeito entre todos os deputados, uma vez, que todos têm uma missão em comum que é a defesa dos interesses do povo da Paraíba.

2. Se procedentes a informação e o número, qual o sentido ou a serventia dessa bancada e por que ela teria se formado?

– Não existe a formação de uma bancada de 32 deputados. Os parlamentares votam e se posicionam de acordo com a sua consciência, por isso, muitas vezes acompanhamos deputados de oposição votando com a situação e de situação com a oposição.

3. RM tem conhecimento de que nos bastidores corre a informação de que ele estaria preparando o impeachment de Ricardo Coutinho e, portanto, essa seria a razão de ter formado a sua ‘bancada’?

– O deputado não tem conhecimento dessa informação nem se articulou para formação de uma bancada.

4. O deputado Ricardo Marcelo é situação, oposição ou ‘independente’ em relação ao governo Ricardo Coutinho?

– Como presidente da Casa de Epitácio Pessoa a posição de Ricardo Marcelo é de magistrado. Já na parte política a sua posição é de independência, votando de acordo com os interesses do povo da Paraíba.