O brasileiro é conhecido por sua capacidade de empreender a partir da ação imediata, ignorando etapas determinantes para o sucesso de seus projetos, como o planejamento e o controle de resultados. Os concurseiros não são diferentes: concentram maior esforço de energia e de tempo no conteúdo programático – comprando materiais ou se matriculando em cursos – ignorando a preparação prévia para um aprendizado consistente e deixando para a hora da prova a avaliação de seu desempenho.
O comportamento de pular etapas parte de dois princípios: a falta do hábito de autoavaliação e o medo dos resultados parciais. A verificação do rendimento das atividades sempre foi terceirizada, tanto durante a vida escolar quanto nas experiências no mercado de trabalho. Esse é o principal motivo que faz com que os aspirantes a se tornarem servidores do estado deixem de ser capazes de fazer tal tarefa.
Os aspectos externos que alimentam a insegurança do candidato, como a extensão do edital, perfil de exigência da banca examinadora e o prazo para a preparação, se somam às questões emocionais de ansiedade, criando um ambiente propício para evitar qualquer ponto de checagem.
Simulados e “horas líquidas”
Ao contrário do que se pensa, a gestão de resultado direcionada aos concursos públicos não se limita à resolução de simulados ou à contabilidade de “horas líquidas” – diferença entre o tempo dedicado e os minutos de pausas. Avaliar a quantidade de acertos e erros a partir de uma lista de questões de provas anteriores é bastante relevante, estratégia que deve ser potencializada a partir da análise detalhada das razões para escolha da resposta, independentemente de estar ou não de acordo com o gabarito.
A contagem de tempo “útil” de dedicação é um exemplo do equívoco na criação de metas. Nenhum avaliador terá em suas mãos uma prancheta questionando a duração do estudo de qualquer disciplina. A metodologia de avaliação se refere à retenção das informações do que foi aprendido – portanto, as referências temporais são mais bem empregadas quando o assunto é a disponibilidade de agenda para os estudos.
Melhor do que entender as razões mais comuns que provocam a esquiva da autoavaliação é ter conhecimento dos benefícios dessa prática. Por isso, a coluna Vaga Garantida preparou três motivos para incentivar os leitores concurseiros a desenvolver essa habilidade. Confira:
1 – Criar métricas para metas
A frase de Peter Drucker, o principal nome da administração moderna, resume a relevância das avaliações de desempenho: “Se você não pode medir, não se pode gerenciar”. Importando e adaptando as metodologias dessa ciência é possível criar parâmetros para elaboração de metas.
Isso quer dizer que não será eficiente programar a leitura de um livro sem saber o tempo disponível na agenda para a tarefa e a velocidade média por página naquele formato de publicação e densidade de conteúdo. O primeiro quesito é totalmente individual e o segundo tem indicadores médios, como saber que um adulto médio lê entre 200 e 250 palavras por minuto, informações que não garantem a precisão da meta pessoal.
Os critérios mais recorrentes usados são os quantitativos: número de páginas lidas, questões resolvidas, horas de estudo. Mais raros e não menos importantes estão os qualitativos: análise de erros e acertos, observação das emoções e comportamentos.
2 – Ajustes imediatos
A partir da rotina de percepção e acompanhamento dos indicadores de bom desempenho, torna-se viável realizar alterações sem esperar o dia posterior à prova. Esperar o gabarito para descobrir que o material adotado para estudar uma disciplina é insuficiente ou inadequado para o perfil de aprendizado é a pior escolha para um concurseiro.
A solução é realizar periodicamente – a cada semana ou quinzena – um simulado com questões do que foi estudado a fim de avaliar esse quesito e fazer as alterações o quanto antes. Para manter a matéria em dia na memória, a melhor opção é montar uma lista de questões maior, mensal ou a cada dois meses, com todos os assuntos já vistos, resolver e identificar os pontos que precisam ser revisados.
Aliás, a revisão só deve acontecer depois desse processo de apuração, quando são analisados o material usado, as anotações feitas e a retenção do conteúdo.
3 – Menos estresse e mais motivação
Saber o que está sendo feito e quais as razões para adotar esses comportamentos e metodologias têm um efeito significativo na vida de um concurseiro. Adultos se sentem mais seguros e confortáveis quando estão conscientes dos seus atos e percebem evolução. Pelas mesmas razões, o aprendizado se torna mais eficiente e produtivo.
O ciclo de preparação começa no planejamento, segue para execução, autoavaliação, análise de resultados e ajustes. Cinco etapas que, se seguidas à risca, aumentam a motivação e reduzem o estresse inerente da situação, tanto no aprendizado do que será exigido nas provas quanto no encaixe do projeto no contexto de vida atual.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Letícia Nobre