O ministro da Justiça, Sérgio Moro, foi saudado com alvíssaras e evoés pelo próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, ao tornar público o convite para ele ser ministro da Justiça, com poderes excepcionais tanto para combater o crime organizado na esfera comum quanto para combater a corrupção na esfera da política. Moro era um dos super-ministros de Bolsonaro – o outro seria Paulo Guedes, da Economia, a quem foi atribuída a missão de produzir uma reforma da Previdência capaz de enxugar a máquina oficial, eliminando o déficit acumulado há “ene” governos e, também, de atender às expectativas de agrupamentos da sociedade que têm cobrado a medida como se ela fosse uma espécie de “pomada maravilha”, capaz de resolver todos os males do país de uma canetada só.
Nem sempre o que está traçado é o que vai ser cumprido ou executado. Instalado o governo Bolsonaro, o ministro Sérgio Moro descobriu e acabou demonstrando à sociedade que não tem poderes de super nem de longe. Foi incapaz, até mesmo, de levar à frente pontos cardeais do pacote anticrime, embora tenha se esmerado em abrir canais com representantes da classe política no Congresso Nacional, deixando de levar em consideração expoentes da sociedade civil que sentem na pele os efeitos da onda alarmante de violência ou de criminalidade no país. Sem traquejo político e, aparentemente, sem a carta-branca que o presidente Bolsonaro lhe prometera, o ministro foi apagando sua imagem na constelação do poder em Brasília. Dizem que circula pelos gabinetes em Brasília como uma espécie de “zumbi”, sem ser ouvido nem cheirado para nada. E o que é pior: com sua reputação comprometida pelos vazamentos de áudios de conversas revelados pelo site “The Intercept”, cujos ecos ressoaram sobre sua própria atuação como expedito juiz da Operação Lava-Jato, cantada e decantada em prosa e verso como a mais bem sucedida empreitada de combate à corrupção política e à criminalidade geral. O comportamento do juiz Moro teria sido, no mínimo, antiético – para sermos generosos.
Soa inacreditável que o ministro da Justiça não tenha percebido, ainda, que está sem fichas de influência junto ao próprio presidente da República. Na verdade, por ignorância dos bastidores ou dos meandros do poder – que é um triturador de carne, como bem conhecem alguns políticos e governantes, Moro deixou-se levar pela ilusão de que tudo poderia como ministro, inclusive, autorizar missões ilegais de invasão de privacidade para efeito de coleta e amostragem de provas documentais. Tentou adotar, à frente da Pasta que exerce no governo, a metodologia de investigação empregada à frente da Operação Lava-Jato, em que, em muitas ocasiões, não precisava da liberação de superior para ordenar expedições punitivas contra quem quer que fosse. Judiciário é um poder, Executivo é outro poder, totalmente diferentes. Em tese são harmônicos – na prática, são independentes, gozam de autonomia. É assim que está escrito na Constituição e era isto o que o ministro Moro, mais do que qualquer outro, deveria saber, de cor e salteado, para não cometer os vacilos que passou a cometer.
A esta altura, a própria ambição de Sérgio Moro de vir a ser ministro do Supremo Tribunal Federal aparenta ter sido completamente descartada, quer pela reação sistemática e ostensiva de ministros da Corte, que prometem isolá-lo se ele porventura viesse a ser indicado para uma das cadeiras vagas, quer por desinteresse do próprio presidente Jair Bolsonaro que, diante da palidez de atuação daquele que seria um dos seus super-ministros, quebrou o encantamento e já não endeusa Sérgio Moro, havendo versões, inclusive, de que se dá justamente o contrário – o ministro da Justiça passou a ser considerado um estorvo para o governo, podendo arrastá-lo para o desgaste se for mantido com alguma nesga de prestígio que seja. O bom senso extraído da leitura correta dos acontecimentos está a indicar há algum tempo a porta de saída do governo para Sérgio Moro, diante da sua inutilidade na máquina burocrática e da falta de perspectiva de resultados da sua passagem pelo posto.
Ao rol dos fatores negativos que embaçam a imagem do ministro Sérgio Moro na pasta da Justiça há de ser acrescentada a sua capacidade de fomentar áreas de atrito em diferentes esferas, contrastando violentamente com a impressão que dele se tinha, ou seja, a de um ministro-magistrado que à frente da Justiça seria capaz de prestar valiosíssimo serviço ao país, mercê da sua experiência e do conhecimento de causa sobre grandes mazelas desta imensa Nação. A verdade é que, melancolicamente, Sérgio Moro, o antigo justiceiro, o Super-herói da sociedade brasileira, está sangrando a olhos vistos, dia após dia, enquanto o governo se esfarela na barafunda de decisões amadorísticas ou improvisadas do próprio presidente Bolsonaro e dos que restam no rol dos que são de confiança ou, pelo menos, palatáveis. Não era este o script que a sociedade imaginava para o perfil do doutor Sérgio Moro. Mas, vale repetir o óbvio: contra fatos, não há argumentos. Ele caminha para um ostracismo de roteiro ainda imprevisível se não pipocar algum milagre que possa tirar seu pescoço da guilhotina. A propósito: quem acredita mesmo em milagres?
Fonte: Nonato Guedes
Créditos: Polêmica Paraíba