Bons conselhos ao vento

Gilvan Freire

Conselhos são como a esmola, devem fazer feliz primeiro a quem dar. Têm algo a ver com as orações, devem tocar antes o coração de quem faz.

Seis conselhos foram ministrados anteriormente a RC, partindo do suposto de que, caminhando para o desastre, seu governo e ele próprio podem mudar. O tempo está ficando espremido mas ainda há tempo. Um governo nunca será muito diferente do governante, mas ambos poderão ser melhorados quando estiverem em estado crítico, emparelhados à beira do abismo. Salvado o governo, salvo estará o governante, se um tiver a capacidade de transformar o outro. De mexer no organismo de cada um. E na natureza. Vale a pena RC pensar e agir como se fosse outro ocupando o seu lugar. É um truque, em verdade, porque RC é imutável, geneticamente imodificável. Mas, o que custa dobrar o espírito e abrandar a índole ou imitar outra pessoa quando uma população inteira se acha vitima de um homem esquisito? Vamos a mais conselhos:

Sétimo – Governador, interprete de forma diferente a opinião de seus críticos. Eles foram os primeiros a descobrir que você não era o prometido das urnas. Mas muita gente não via – nem você mesmo via, e o primeiro caos foi precisamente a incapacidade de ver o visível. Olhando o governo de fora para dentro, como fazem seus críticos, você verá que eles têm razão. Olhe, por um momento sequer, olhe.

Oitavo – Não pague a ninguém com dinheiro público para defender o que ‘aliados’ chamam de ‘desmandos do governo’, porque isso não serve para melhorar seu desempenho, e ainda serve para nivelar você a aliados entre aspas. Neste caso, todos ficam entre aspas. Muitos desses aspeados são oportunistas que escolheram seu governo para governar só pra eles, mas, quando você sucumbir, falarão mal até de suas eventuais virtudes e realçarão seus defeitos. Alguns já estão amolecendo, dizendo e desdizendo, e se preparam para abandonar o trem cambaleante na primeira estação. Ou antes, com o trem andando, saltando dos vagões.

Nono – Não falsei a verdade e nem deixe que alguém o faça em seu nome, ainda que seja ela dura e tormentosa. Todos os reis descobriram em certas épocas que o povo se sentia infeliz e revoltado com suas inverdades. Mas só tiveram certeza disso quando já estavam depostos.

Décimo – Não dê atenção exclusiva às crises que você mesmo cria. Você foi escolhido para resolver as crises do Estado, e não as do governante, porque ele é um fabricante de conflitos inadministráveis. Mude primeiramente esse homem, que parece não ter paz para os outros à falta de paz para si mesmo.

Décimo Primeiro – afaste-se dos que lhe agradam à custa do Erário, dos que lhe apóiam à custa de emprego e dos que lhe prestam solidariedade cara, paga por cada ato praticado. E dos que se vendem ou se alugam a você por temporada ou ocasião. Lembre-se, quando um governante se submete a chantagens é porque o governo tem perdido a moralidade e a decência. E a capacidade de se impor.

Décimo Segundo – Reaja, governador, mude o método, e o jeito de governar. Seja outro e entre no governo em seu lugar, sem que você tenha de sair, porque o eleito foi você, embora não esteja servindo pra governar. Pior de que não governar é ter de governar para aproveitadores e espertalhões e, pelo menos nesse aspecto, seu governo vem dando certo demais.

Sabe, Ricardo, conselho, como as bênçãos e graças, só não valem quando não são dados. E, quando não fizerem bem a dois, ao menos a um fará: a quem deu.