Como todas as start-ups, a Feeld possui um mito de fundação. Ela não saiu de uma garagem em Los Altos ou de um alojamento em Harvard, mas das fantasias sexuais de Ana Kirova. Numa carta de amor ao parceiro, Dimo Trifonov, ela revelou o desejo de incluir mais uma mulher na relação entre os dois. Atônito, mas conformado, Dimo aceitou a proposta e o casal de jovens búlgaros foi à busca do terceiro elemento. Sem sucesso.
— Nós queríamos explorar o nosso relacionamento, procuramos na web, em aplicativos, mas não encontramos nada. Eles não eram muito abertos à sexualidade um pouco fora do ordinário — relembra Dimo.
Relações não heteronormativas ainda são vistas negativamente por grande parcela da sociedade. Relacionamentos com três ou mais parceiros são tachados como surubas, orgias ou bacanais, termos que carregam valor pejorativo. Ana e Dimo não se encaixavam nesses selos, não se viam como swingers frequentando boates de troca de casais. Era apenas uma curiosidade.
— Então o Feeld foi minha carta de amor à Ana. Eu queria provar que existem muitas pessoas curiosas como ela, independente do gênero ou da sexualidade — diz Dimo.
O Feeld se apresenta como o aplicativo de namoro para “casais e solteiros de mente aberta”. Em vez dos tradicionais “homem procura mulher” ou “mulher procura homem”, o programinha criado por Ana e Dimo oferece outras 22 opções, sendo três de casais (homem + homem, homem + mulher e mulher + mulher) e outras 19 opções de gênero.
As pessoas podem se identificar e buscar parceiros heterossexuais, gays, lésbicas e bissexuais, assexuais, demissexuais, androginossexuais, omnissexuais, dois-espíritos, entre outras orientações.
— No início, nós usamos bastante (o aplicativo), mas passamos a ter muito trabalho com a start-up. Se tornou mais importante garantir que ele funcionava para outras pessoas do que para nós — afirma Ana. — Vale mencionar que nós conhecemos muitas pessoas boas, seja por causa da empresa ou pelo uso do aplicativo. Elas não julgavam o nosso relacionamento, o que é algo difícil de se encontrar — emenda Dimo.
O aplicativo funciona como o Tinder. Pela localização, oferece perfis de acordo de acordo com as escolhas feitas no cadastro, mas com algumas opções de privacidade a mais. Os usuários não precisam cadastrar seus nomes verdadeiros, podem esconder fotografias até que o contato seja feito e têm a opção de não aparecer nas buscas feitas por amigos no Facebook.
Brasil é terceiro maior mercado
O casal faz um pouco de mistério sobre os números, mas revela que o programinha já foi baixado mais de 5 milhões de vezes e promove 12 milmatches por dia, que geram mais de cem mil mensagens trocadas. E faz sucesso entre os brasileiros. O país é o terceiro maior mercado, atrás do Reino Unido e dos EUA.
— Existe uma comunidade forte em São Paulo. Em número de usuários, a cidade está atrás apenas de Nova York e Londres — revela Ana. — Os paulistas têm uma cultura aberta, uma mente curiosa e forte expressão sexual.
A maioria dos usuários tem entre 25 e 35 anos. Cerca de 35% fazem o cadastro como casal, em busca de outros casais ou de solteiros, e 45% não se identificam como heterossexuais.
— Tem solteiros procurando por casais, casais procurando por solteiros e até solteiros procurando por solteiros — brinca Dimo.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba