Exoneração

Diretor do Inpe afirma que ministro se comprometeu a não interferir e colocar mais recursos

Ricardo Magnus Osório Galvão, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), disse em entrevista ao G1 que indicou cinco nomes ao ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, logo após receber a notícia de sua exoneração nesta sexta-feira (2). Ele disse que o ministro se comprometeu a “não interferir na linha de trabalho” do instituto.

Galvão lembrou que tinha um mandato de quatro anos, mas que, apesar disso, o regimento prevê que o ministro pode substituí-lo “em uma situação de perda de confiança”.

O órgão que Galvão comandava foi acusado pelo presidente Jair Bolsonaro de mentir sobre os dados do desmatamento e agir a “serviço de alguma ONG”. Galvão rebateu as acusações e criticou falas e comportamento de Bolsonaro.

Galvão não quis informar os nomes indicados para preservar a escolha do ministro. Segundo ele, até a decisão final de Pontes, quem assume de forma interina é o pesquisador Petronio Noronha De Souza.

“Naturalmente, o embate que eu tive com o presidente tornou impossível para ele [Marcos Pontes] me manter no cargo. Ele disse que tentou manter esforços e inclusive assumiu o compromisso de manter a linha de trabalho e colocar mais recursos.” – Ricardo Galvão, diretor do Inpe.

O diretor recebeu a notícia da própria exoneração em reunião na manhã desta sexta. No início da tarde, Pontes elogiou Galvão. “Agradeço, pela dedicação e empenho do Ricardo Galvão à frente do Inpe. Tenho certeza que sua dedicação deixa um grande legado para a instituição e para o país”, escreveu o ministro em uma rede social.

Mais cedo, no pronunciamento em que anunciou sua própria demissão, Ricardo Galvão afirmou que não teve de “defender” os dados sobre desmatamento para o ministro.

“Frente ao ministro Pontes, eu não tive que defender nada. Ele concorda inteiramente com os dados do Inpe e sabe como são os dados do Inpe. O ministro é uma pessoa de alta capacidade técnica, um engenheiro.” – Ricardo Galvão.

Durante a tarde, servidores do Inpe protestaram contra exoneração de Galvão na frente da sede do órgão, em São José dos Campos (SP).

Aumento do desmatamento

Os alertas do desmatamento no Brasil registraram alta de 88% em junho e de 212% em julho, segundo análise feita com base em dados do públicos do Inpe, que foram compilados pelo sistema conhecido como Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Os percentuais levam em conta a comparação de junho e julho com os mesmos meses do ano passado.

Além de ganhar destaque no Brasil, o avanço do desmatamento foi noticiado pela revista “The Economist” e por outras publicações estrangeiras.

O governo afirma que a medição do Deter não deve ser usada para gerar percentuais e comparações mensais e que os dados consolidados de desmatamento são divulgados pelo Programa de Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes). O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu que há aumento no desmate e diz que vai licitar um novo sistema de monitoramento.

Especialistas rebatem o governo e afirmam que o Deter mostra a real tendência de aumento, com precisão de cerca de 90%. Argumentam ainda que as medições parciais do sistema sempre foram confirmadas posteriormente pelo Prodes em seu balanço anual.

Bolsonaro acusa o Inpe de mentir

No mês passado, após a divulgação do aumento expressivo dos alertas no sistema Deter, Bolsonaro acusou o Inpe de mentir sobre dados de desmatamento e de estar “agindo a serviço de uma ONG”. As primeiras declarações do presidente contrárias ao instituto foram dadas em 19 de julho, durante café da manhã com jornalistas estrangeiros.

As críticas do governo aos dados sobre o desmatamento continuaram, e nesta quinta-feira (dia 1°) Bolsonaro se voltou novamente contra o Inpe. O presidente defendeu uma apuração para identificar se os responsáveis pela divulgação dos dados sobre desmatamento agiram de má-fé.

“Acho até que, aprofundando os estudos, ver se as pessoas divulgaram de má-fé esses informes para prejudicar o governo atual e desgastar a imagem do Brasil”, disse Bolsonaro na quinta.

Logo após as primeiras declarações do presidente, Galvão declarou, em 20 de julho: “Ao fazer acusações sobre os dados do Inpe, na verdade ele faz em duas partes. Na primeira, ele me acusa de estar a serviço de uma ONG internacional. Ele já disse que os dados do Inpe não estavam corretos segundo a avaliação dele, como se ele tivesse qualidade ou qualificação de fazer análise de dados.”

Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba