A cantora e compositora Linn da Quebrada revelou em suas redes sociais nessa sexta (02) que sua participação na Parada LGBT de João Pessoa.
Linna Pereira, mais conhecida como Linn da Quebrada, é ativista social pelos direitos civis da comunidade LGBT e da população negra. De acordo com sua publicação, a negociação entre Linn e a Funjope estaria acontecendo desde julho, mas foi comunicada após uma reunião que seu posicionamento político e sua performance estavam em desalinho com a parada.
VEJA A NOTA:
COMUNICADO – CENSURA
Hoje, sexta-feira, 2 de Agosto de 2019, nós, da #EquipeDaQuebrada, publicamos a seguir uma nota oficial a respeito do caso de censura que sofremos com o show da Linn da Quebrada em João Pessoa (PB), que aconteceria no dia 29 de Setembro, como parte da programação da “Parada LGBT” da cidade, evento organizado pela @funjopejp – Fundação Cultural de João Pessoa, que vetou o show por considerarem o discurso da artista, nas palavras da FUNJOPE, “muito pejorativo” para o evento.
Estávamos desde Julho em negociação com a Frankla (co-organizadora do evento), cumprimos todos os processos burocráticos para a realização do show. Porém, após uma reunião da organização da parada, juntamente com a FUNJOPE, recebemos a informação de que o show não aconteceria. A justificativa do veto se deu pelo posicionamento que Linn da Quebrada tem como artista, consequentemente seu trabalho, e o que a mesma representa como corpo político.
Devido a esse posicionamento da FUNJOPE, Frankla, que até então fazia parte da organização e estava em contato direto com nossa equipe, nos comunicou do ocorrido e se afastou de suas funções, justamente por ver nesse trâmite um processo de censura do nosso trabalho, que não deixa também de expressar um cunho transfóbico nas dinâmicas orquestradas por essas organizações.
Ao recebermos o e-mail do setor de “ação cultural” da parada cancelando o show, questionamos se havia algum problema em nossa documentação ou outro motivo que justificasse o ocorrido e recebemos a seguinte resposta: “não foi documentação (…) foi só orientação mesmo.” – frisamos aqui que entendemos bem o termo “orientação”, sabemos ao que ele se refere e significa – CENSURA!
Com muita indignação, a #EquipeDaQuebrada cobra um posicionamento oficial dos envolvidos no caso e na sequência manifesta sua opinião de acordo com a fala da própria artista censurada, Linn da Quebrada:
“Se me calam, é porque de alguma forma minha voz assusta. Talvez porque eu seja eco, porque soul uma legião. Uma legião dissonante & desbocada, que não dissimula suas verdades. mas penso principalmente que quando me calam & nos censuram, é porque têm medo do que nossa voz pode causar. Que vidas nosso canto suscita, que movimentos dispara & que corpos liberta? Ainda mais em tempos como esse de crise & retrocesso político tão grande.
Agora mais do que nunca cada encontro nosso, cada agrupamento é muito importante & fundamental pelo que podemos levantar, transtornar & fortalecer. O que mais me deixa triste é não poder realizar esse encontro agora nesse momento tão importante & delicado. Ainda mais se tratando de uma ocasião tão especial como a parada TLGB de João Pessoa. É triste perceber que a censura parte até mesmo de dentro da nossa comunidade. Eu sei que somos diversas & que tbm somos atravessadas pelas estruturas desse cistema, sei que minha música incomoda & é justamente por isso que se faz necessária. A censura não me abala mas me impulsiona a continuar fazendo com ainda mais coragem e integridade meu trabalho. Porque sinto que o que canto, além de fazer pensar & dançar, nos movimenta. E o movimento assusta, desestabiliza & nos provoca a agir. Tenho certeza que logo menos nosso encontro vai acontecer. Faremos acontecer!”
Frankla (citada no texto) também deixa abaixo seu posicionamento diante do ocorrido:
“A justificativa do cancelamento da Linn se deu claramente pelo discurso político que a mesma carrega, por defender uma pauta que até dentro do próprio movimento é marginalizada, a de corpos dissidentes [trans]. Essa é mais uma das artimanhas para nos manterem dentro de nossas caixinhas – por trás da “boa ação” de ajudar a parada, ou seja, promover o discurso da diversidade, eles nos pedem que essa diversidade seja colocada em termos específicos e bastante higienizados.
Não interessa a quem está no poder a ascensão de corpas trans pretas e é justamente por isso que não podemos nos calar. Movimento que não incomoda apenas serve de base para colonização.”
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: Polêmica Paraíba