Rubens Nóbrega

Presidente da Associação Paraibana de Imprensa (API) entre 1989 e 90, o jornalista Agnaldo Almeida inaugurou em sua gestão o Cobra Criada, projeto que tinha o propósito de pesquisar, remontar e preservar a história da imprensa da Paraíba.

Consistia em colher depoimentos dos principais expoentes do jornalismo paraibano. Bom, barato e de fácil execução, o ‘Cobra’ não exigia mais que um gravador, quatro ou cinco perguntadores e, como diria o clichê, um entrevistado com larga folha de serviços prestados.

Experiência, não necessariamente idade, era o critério natural, além de garantidor da coleta de causos e episódios interessantes, retratos de uma época, de práticas e relações dos profissionais da comunicação com a sociedade e o poder.

Tivesse ido adiante, seguindo projeções e intenções de seus idealizadores, o Cobra teria fornecido acervo valiosíssimo para publicação de livro razoável sobre jornalismo e imprensa na Paraíba.

Ou jornalismo versus imprensa, que no caso da terrinha esse conflito é permanente, no mínimo recorrente. Bem, mas isso é outra história. Retomemos o curso da nossa história.

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Agnaldo encarregou-me de coordenar a tomada de depoimentos para o Cobra Criada. Os primeiros entrevistados – o cronista esportivo Ivan Bezerra e o repórter publicitário Benedito Maia – forneceram excelente material.

Suas histórias da vida privada e profissional dariam páginas e mais páginas de episódios e curiosidades dignos de registro e leitura. O cronista Gonzaga Rodrigues seria o terceiro e mui aguardado capítulo da série, mas, surpreendentemente, não apareceu na data e horário combinados.

Descobri uma semana depois a razão de Gonzaga ter faltado. O Neguin, como é carinhosamente chamado pelos colegas de batente de sua geração, encontrou-se por acaso com Gosto Ruim na calçada da API, justo quando se preparava para subir a escada que leva ao auditório da entidade, onde gravaria a entrevista.

Depois de cumprimentar Gosto, e por este perguntado sobre o que fazia ali, Gonzaga caiu na besteira de contar o que o aguardava no primeiro andar da entidade, da qual também foi presidente nos setenta do século passado.

Gonzaga também forneceu a Gosto Ruim detalhes do Cobra Criada. Informou que seria o terceiro entrevistado, depois de Ivan e Bené. Após entregar o ouro e o serviço, o Neguin ouviu do seu inesperado interlocutor um comentário mais do que desestimulante:
– Sei não, compadre, mas esse negócio de gravar memórias… Nessa idade… Sei não, visse? Como é mesmo o nome do projeto? Pé na Cova? Ah, não. Cobra criada, né?

Depois dessa, Gonzaga ainda chegou a subir três ou quatro degraus da escada, mas parou, pensou direitinho, deu meia volta e foi embora. Depois dessa, a desistência do Neguin se espalhou. Adivinha quem espalhou?

Depois dessa, foi com imensa dificuldade articulei mais dois ou três entrevistados. Que não apareceram na API. Não teve jeito. Gosto Ruim, talvez só por ruindade, matou o Cobra e ainda saiu por aí mostrando o ‘pau’.
***
Estava para sugerir a reedição do ‘Cobra Criada’ a Marcela Sitônio, presidente da API, mas temo duas coisas: primeiro, que Gosto Ruim bote terra outra vez; segundo, que me transfiram da categoria de entrevistador para entrevistado.

E com esta crônica, reescrita, homenageio Maria José Limeira, extraordinária mulher, jornalista das melhores, cobra criada de imensa sabedoria e competência que enfrentou e venceu todas as dificuldades da vida com muito brilho e, também, humor.


SER POETA
(de Raniery Dantas de Abrantes)

Ser poeta é ser escultor da palavra,
É ser pintor do abstrato,
É ser beleza no vazio, no nada,
É ser sozinho nos braços da madrugada.

Ser poeta é ser ímpar, sem definição,
É ser o dom daquele verso pra amada,
É ser fiel ao passado, a tradição,
É ser uma flor ao nascer da alvorada.

Ser poeta é ser segredo de amor,
É um nascer e renascer eternamente,
É ser mestre na arte de esconder a dor,
É viver a vida profundamente.

Ser poeta enfim é um sentimento
De quem escuta a voz do coração,
É quem canta sozinho o seu lamento,
Nas ondas do rádio da emoção.
***
Homenagem ao Poeta Maior, Ronaldo Cunha Lima.
João Pessoa, 11.7.2012, 17h20.