Lembrei do poeta e político que encantou multidões com seus discursos arrebatadores durante uma aula de Estudos Culturais, no curso de Jornalismo, da Universidade Federal da Paraíba.
A partir do livro “Identidade Cultural na Pós-Modernidade” do jamaicano Stuart Hall, começamos a debater a globalização. Posteriormente, surgiram vários exemplos da vida cotidiana, das mudanças de hábitos e culturas em todo mundo a partir desse fenômeno.
De repente veio à mente o discurso do então senador Ronaldo Cunha Lima. Durante a fala, sua verve poética é voltada para uma defesa apaixonada de nossa língua portuguesa.
Ronaldo inicia afirmando que “a língua portuguesa, como forma oficial de expressão, constitui patrimônio cultural brasileiro e, por isso; incumbe ao Poder Público e à comunidade o dever de promovê-Ia e protegê-la, em especial neste momento em que ela vem sofrendo constante e preocupante invasão de palavras e expressões estrangeiras.”
O senador cita as preocupações do então presidente da Academia Brasileira de Letras, Arnaldo Niskier, e da escritora Rachel de Queiroz sobre a invasão de expressões alienígenas em nossa língua. Longe de ser censura, o poeta ressalta que “a maioria dos povos faz questão de preservar seu idioma. Quando a possibilidade de deterioração se torna muito grande, os legisladores intervêm para tentar impedir que isso ocorra”, citando, como exemplo, a França que editou uma lei em 1994, buscando disciplinar e prestigiar o uso da língua francesa.
Ronaldo continua o discurso rememorando seus tempos de estudante em Campina Grande. Na época, francês era a língua da moda e a invasão das palavras vinha de lá. O inglês, contudo, suplantou o francês e se tornou a língua universal. Mas por ter essa dimensão não significa que deveríamos aderir cegamente às palavras e expressões inglesas em detrimento das portuguesas. Ele cita vários exemplos que foram incorporados no dia a dia brasileiro.
“Hoje em dia, é esnobe, é chique, é VIP (very important person) usar palavras inglesas. Até as casas comerciais estão preferindo as denominações estrangeiras, mesmo que os produtos à venda sejam nacionais. No interior do Nordeste, um restaurante (e restaurante é nome francês), cuja especialidade é carne assada com macaxeira, adotou o nome de Steak Grill”, disse em outro trecho.
Gente, esse discurso foi pronunciado em 12 de novembro de 1998!!!
Nunca esteve tão atual!
Fui a um culto recentemente. A denominação da instituição não aparecia precedida da palavra igreja, mas sucedida de “church”. As frases das camisas que vestimos são em inglês. O intervalo de nossos eventos são “coffee break”.
Não quero, com isso, desprezar a importância de aprender inglês ou qualquer outro idioma. É impossível, em 2019, desprezar a aprendizagem de outra língua, mormente a inglesa. Mas poderíamos valorizar mais o nosso português. Já viu algumas expressões portuguesas usadas pelos norte-americanos?
Essa homogeneização cultural não é boa para nós. Valorizar o que é nosso, sem qualquer xenofobia ou etnocentrismo, obviamente, não faz mal. Pelo contrário. Com uma política cultural e turística de valorização da nossa história, identidade e língua só temos a ganhar. Afinal, que graça tem viajar e ir para lugares idênticos ao da sua terra?
Como disse Ariano Suassuna, “não troco meu oxente pelo ok de ninguém”.
Fonte: Joel Cavalcante
Créditos: Joel Cavalcante