Rubens Nóbrega

A Secretaria de Administração do Estado deve concluir hoje o pregão aberto ontem para a compra de nove toneladas de lagosta, camarão, carnes nobres e outros suprimentos alimentícios de preço elevado e altíssimo padrão para a Granja Santana.

O adiamento aconteceu talvez por conta do também alto número de interessados em fornecer as iguarias para a residência oficial do Governador. É preciso checar direitinho os documentos e a idoneidade dos 14 candidatos que se apresentaram.

O Professor Menezes acredita, contudo, que o Ricardus I deveria fazer outra licitação, essa só para os bebes, mas com exigências equivalentes às publicizadas para os comes com que se banquetearão o monarca e os seus seletos convidados.

Deixemos que o próprio Mestre nos explique a sua expectativa e ponto de vista, nos ermos da mensagem enviada ontem ao colunista com o texto que reproduzo adiante.

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Meu caro amigo, acredito que parte da nossa sociedade que ainda se escandaliza ou, pelo menos, reage negativamente a revelações como essa, sobre o provimento da despensa majestática, aguarda a notícia do complemento dessa compra, que é a referente aos líquidos que serão consumidos durante a comilança, pois sólidos tão nobres têm que ser degustados com acompanhamento de líquidos de igual valor.

Nada de água da Cagepa ou, no máximo, das fontes do planalto de Sta. Rita.

Devem ser líquidos escoceses de boa idade, franceses submetidos a controles de ‘apellation’ ou, no mínimo, portugueses alentejanos, ou, então, claros germânicos. Não esqueçamos o café colombiano e um “puro” cubano, que pode ser um simples César & Cleópatra. E ao povo, os brioches da Rainha Maria Tereza…

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Já o amigo Dal mandou perguntar: “Rubão, isso é uma granja ou um transatlântico?”. E complementou: “Que licitação maravilhosa! Só lembro que o mero que eles querem comprar é um peixe ameaçado de extinção. Mas, fazer o quê, se o gosto exótico dessa gente não tem limite?”.

Potinho de Veneno, por sua vez, ligou para sondar se eu teria como arranjar convites para refeições na Granja. “É que o meu colesterol deu alto e o médico recomendou que eu ingerisse ômega 3, que tem muito no salmão e no atum”, explicou.

“E daí, o que tem a ver a Granja com isso?”, perguntei. “Ora, camarada, pela quantidade que o governo deve comprar o que sobrar desses peixes no mercado vai valer ouro. Ou seja, ou eu filo a bóia na Granja ou eu me lasco! Dá uma forcinha aí, vai. Fala com o homem”, apelou.

Depois que ele desligou lembrei que deveria ter dito o seguinte: se tivesse acesso, eu mesmo iria goelar almoço e janta na Granja. Infelizmente, como Potinho bem sabe, meu prestígio com o ‘home’ deve estar no bargaço.

Sem rumo e sem prumo

O cardápio da Granja Santana abriu o apetite cívico-literário de Otomar Legório, colaborador de imensa qualidade que há tempo não brindava os leitores deste espaço com suas excelentes verrinas. Mas ei-lo de volta, no melhor da forma. Degustem.

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Dileto e estimado Rubens, alguns dias sem confidenciar-me com o inexcedível companheiro, em tempo volto a ocupar tão precioso espaço para alistar-me no índex dos descontentes com as últimas – e por que não dizer quase todas – atitudes do monarca.

Da planície aos pícaros da Pequenina, a sensação é de que o imperador perdeu o rumo e o prumo, após a caldeirada promovida no menu da mansão oficial.

A aquisição de nove toneladas de camarões, lagosta e afins é a última “boa nova” de quem simplesmente tem absoluta certeza que está acima de tudo e de todos, inclusive de quem faz de conta que acredita só para dar uma de cristão samaritano.

O episódio, antes trágico que cômico, é mais um a compor a anedotário local, isso se a “grande imprensa” não der a devida projeção que o lamentável fato requer.

Em um Estado onde boa parte da população às vezes não tem o que comer ou beber, mais do que acinte, o cardápio especial de Sua Majestade, Mileide e convivas é um profundo desrespeito para quem sabe que vai pagar a conta sem sequer ter assento à mesa do banquete.

Mas, se considerarmos que vivemos sob a égide de “uma nova Paraíba”, que socializa as decisões e intercoopera atitudes e ações, certamente a aquisição dos referidos gêneros alimentícios foi aprovada em alguma plenária do ‘orçamento democrático’ do Governo Estadual. Isso me parece tão óbvio quanto a necessidade irreprochável da contratação de empréstimo de R$ 150 milhões para a Cagepa.

Por outro lado, adotando uma visão socialista, digamos, a feira da Granja representa economia considerável, já que o monarca certamente deve preferir fazer as refeições em seus aposentos, sem ter que se deslocar até outras cozinhas, algumas delas muito mais $ofisticadas.

Tal economia poderá garantir, por exemplo, o medicamento de uso continuado às pessoas com necessidades especiais, a retomada do Programa do Leite e a reabertura das 180 escolas fechadas no início do império, dentre outras iniciativas, todas elas da mente genial de um soberano que só falta mesmo anunciar o mais novo tratamento de seu governo para área da saúde: a transfusão de sangue por paciente anêmico.