A justiça e outros poderes agonizam. E o povo paga o pato

Gilvan Freire

Até que, enfim, a Paraíba chegou a seu pior estágio de indigência social, acumulando os mais graves índices de atraso com relação a outras unidades da Federação.

Tudo pareceria razoável para se entender se levássemos em consideração o fraco desempenho de nossa economia, quase toda dependente de fatores externos, e a nossa escassez de recursos naturais. Afinal, sempre fomos um dos últimos estados na escala dos mais desenvolvidos do país, vez por outra beirando a primeira colocação entre os de maior atraso.

Qual seria a principal causa desse pauperismo humilhante e persistente?

Não pode haver dúvida de que a causa dessa sucumbência da Paraíba diante dos grandes avanços presentes em todas as regiões pobres do mundo e do surto de prosperidade em que o Brasil vive hoje está nas autoridades, os chamados ‘homens públicos’, encarregados de administrar todo o aparelho estatal e suas instituições.

Não há esperanças de que o quadro mude em pouco tempo, se levarmos em conta o grau de consciência e responsabilidades dos líderes e dirigentes das instituições públicas estatais, alguns até honestos, mas todos negligentes com a sorte do povo, que é o destinatário absoluto de toda a ação do Estado, segundo os fundamentos do regime democrático.

O sistema judiciário da Paraíba está entrando em colapso. Em atraso de processos, somos o terceiro Estado mais crítico do país, uma situação alarmante e tormentosa que cobre de mais infelicidades uma população já aviltada por outras influências negativas vindas da gestão dos homens. E, se quisermos chegar a um quadro ainda mais nebuloso, basta que façamos mais ainda o que já estamos fazendo, ou seja: achando tudo normal e batendo palmas à miséria, ao subdesenvolvimento, à omissão, e entendendo que a culpa é do destino, muito embora o destino de certas figuras notáveis seja o de enriquecer e prosperar, ou viver fartamente em meio a desventura de milhares.

ONDE COMEÇA A CRISE?

A crise da administração começa pelo poder executivo, que tem o seu comando provido pelo voto do povo. Embora voto e engodo sejam parentes muito próximos e íntimos, a culpa não está no eleitor, esse pobre-coitado que, às vezes, a busca de mudanças conquista apenas as mesmices. O eleitor é um imbecil inconsciente, mesmo letrado, que age pelo coração e nunca acha que está decidindo pela sua própria sorte e pela sorte de milhões de pessoas. No máximo, torce para dar certo. Espera que dê.

Sejamos francos, o problema está todo nos líderes. Se a população é fraca e os líderes são precários, o que deverá ocorrer, senão a desagregação e o caos?

Na Paraíba, neste momento, há uma crise profunda de gestão pública em todos os níveis das instituições do Estado. A população está a mercê de homens que não se movem para sair da crise e nem têm consciência dos danos monumentais que causam pela inapetência funcional, pela falta de compromisso social ou pela insensibilidade quanto ao dever democrático de endereçar a ação pública aos legítimos donos do poder: o povo, do qual líderes e gestores são meros delegados autocratas e usurpadores.

Está se fechando um cerco político ao governo do Estado, que vem se revelando inabilitado para gerir o poder executivo e dar respostas aos grandes problemas da sociedade em áreas essenciais como educação, saúde e segurança. Está tudo aos penduricalhos e a corrupção e a ineficiência tomaram conta do aparelho executor. Estão crescendo as sombras e raleando a luz, chegando a um nível assombroso de escuridão, e o preço pago pelo povo diante de um governo claramente fracassado está chegando ao insuportável. Quando se associam corrupção, incompetência e descompromisso, os custos sociais ficam estratosféricos e a penalização eleva-se ao inaceitável. Os poderes se consorciaram para massacrar o Estado e seu povo. Não se sabe até quando esse estado de calamitação moral e operacional vai durar. Mas já se sabe que o povo está ficando impaciente e nervoso. E a cobrança pode não ser muito pacífica.

É bom que todos os líderes e gestores institucionais meditem sobre o que é dever de cada um, para não ter de ser chamado depois às responsabilidades democráticas. Os poderes precisam ser separados, para que cada homem público pague pelo que fez. Ou deixou de fazer. A dívida está se amontoando e as vitimas estão cansadas de pagar pelos desacertos dos bacanas.