O projeto “Future-se” do ministro Weintraub não deve, em nenhuma hipótese, ser subestimado. O resultado da batalha, contra ou a favor, será decisivo por décadas. O ministro é medíocre, o governo é o que é, mas “ser” Estado, significa o poder de deslanchar processos.
A respeito, quatro breves comentários, redigidos a jato, numa primeira aproximação, ainda insuficiente, do conteúdo do projeto:
1. Após algum tempo batendo cabeça – toda a gestão Velez e o começo tumultuado da gestão Weintraub -, o governismo bolsonarista agora apresentou um projeto mais estrutural. Por assim dizer, menos Olavo de Carvalho e mais Paulo Guedes, se me entendem. Menos bate boca e arranca-rabo ideológico, que persistirá, mas na retaguarda. O discurso agora é afinar as universidades públicas brasileiras ao modelo das universidades americanas, passando por cima das diferenças de formação histórico-social. O projeto visa, ao fim e cabo, inserir as universidades públicas brasileiras no circuito da valorização fictícia dos fundos de investimentos e mercados financeiros. Em vez da “Universidade Necessária” de Darcy Ribeiro, enfim, a “Universidade Desnecessária”, desimportante e neocolonial.
2. Ao contrário do arranca-rabo ideológico, que reuniu todo mundo contra Weintraub, a nova modulação de projeto lança nas águas do rio algumas iscas falsamente atraentes, adrede lançadas a setores internos minoritários nas Universidades, de longa data privatizantes. Até aqui, tais setores mantém-se do lado de cá da barricada, avessos e envergonhados às estrepolias do bolsonarismo-raiz. A cartada do MEC é atrair essa turma, quebrar o consenso expresso nas manifestações de 15 de maio. Assim, o luta contra o projeto de Weintraub é diretamente política, é claro, mas também de embate de projetos societários;
3. O Brasil bordeja a iminência da viver a maior transformação estrutural no sistema universitário desde a reforma universitária de 1968. A rigor, daquela data até hoje, e em que pese todas as transformações, as molas mestras do sistema universitário vigente remetem ao modelo imposto pela ditadura em 1968;
4. O setor educação promoveu as maiores mobilizações políticas antibolsonaristas do primeiro semestre. Mas as reações políticas das universidades, apesar dos méritos, são massivas, amplas, participativas, contudo espasmódicas. Falta permanência. Tsunamis e espontaneidade são fundamentais. Porém, para durar, as mobilizações precisam ser acompanhadas de assembleias universitárias massivas – nas quais os temas são discutidos olho a olho e não assentados na esterilidade fragmentadora das redes sociais. Precisamos, neste segundo semestre, de aumento exponencial e orgânico dos protestos. Para tanto, cada centro, cada departamento, cada sindicato, cada diretório estudantil, precisam se transformar em células abertas de resistência.
Fonte: Jaldes Meneses
Créditos: Jaldes Meneses