Na visão do jornalista, o objetivo do ex-juiz federal seria desestimular a continuidade da série de reportagens sobre os diálogos privados entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa da Lava Jato.
“O clima que o ministro está tentando criar, acho que isso é uma ameaça e ele está tentando fazer de propósito para assustar a gente”, comentou ele durante audiência da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Greenwald comparece na condição de convidado para falar sobre o conteúdo das reportagens e as ameaças sofridas.
Para justificar o raciocínio, o americano disse que Moro “nunca negou” informações sobre uma suposta investigação do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) contra o jornalista do Intercept.
O Coaf, que estava sob tutela de Moro até retornar, por decisão do Parlamento, ao guarda-chuva do Ministério da Economia, é responsável por apurar indícios de irregularidades em movimentações financeiras no país. Se confirmado, usar o aparato do estado para uma investigação específica contra um cidadão, sem que haja qualquer fato atípico, é ilegal e pode ser considerado uma forma de perseguição.
“Moro foi perguntado várias vezes pelo Senado, pela Câmara e por vários jornais se ele está nos investigando ou se ele tem provas para fazer coisas contra nós”, declarou. “Ele nunca negou. Naquele dia, desde que saiu a notícia até hoje, [ele nunca negou] a investigação.”
Ele quer que nós fiquemos com medo e com a preocupação de que estamos sendo investigados. Quero deixar claro que não temos medo algum. Vamos continuar publicando porque a Constituição brasileira protege e garante o que estamos fazendo
Glenn Greenwald, em depoimento à CCJ do Senado
Essa é a segunda vez que Greenwald comparece ao Parlamento para falar sobre os diálogos vazados e as reportagens do site The Intercept Brasil. Em 25 de junho, ele esteve na Câmara e afirmou que as mensagens publicadas são autênticas. O jornalista disse ainda que, em sua opinião, houve conluio entre Moro e Ministério Público na persecução e condução das ações penais da Operação Lava Jato.
O americano defendeu a liberdade de imprensa e declarou que ele e sua família têm sofrido ameaças pela publicação de reportagens investigativas que mostraram o que denominou de “lado obscuro” da Lava Jato.
“A Constituição protege e garante a liberdade de imprensa contra os ataques que Sergio Moro e o partido do governo estão tentando fazer. Ninguém [no site] tem medo do seu partido [PSL]. Nem seu partido, nem o governo do Bolsonaro, nem Sergio Moro podem fazer nada para impedir a publicação dos documentos até o final”, disse.
Durante a audiência, Greenwald foi questionado por deputados da base governista com perguntas ligadas à vida pessoal. Em uma das situações, José Medeiros (Pode-MT) se referiu ao marido do jornalista, o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), como “parceiro sexual”. O parlamentar foi chamado de homofóbico por colegas e tentou se justificar. “Ele tem vergonha de ser casado com o Miranda? Não”.
Fonte: UOL
Créditos: Hanrrikson de Andrade