A disputa interna de poder no governo Jair Bolsonaro (PSL) ganhou novo capítulo nesta segunda (1º), com um ataque indireto do filho presidencial Carlos contra o general Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
Como nos outros episódios em que pontificou ofensiva da ala autoproclamada ideológica do governo contra os militares que cercam o pai, o vereador carioca iniciou a carga com uma mensagem algo cifrada na rede social Twitter.
Carlos fez o comentário em uma página bolsonarista, a @snapnaro. Ela havia postado um vídeo de uma pessoa que se identifica como jornalista acusando o GSI e a FAB (Força Aérea Brasileira) como cúmplices do sargento Manoel Silva Rodrigues.
O militar foi preso na semana passada na Espanha com 39 kg de cocaína no avião a serviço da Presidência que levava uma equipe precursora da comitiva que acompanhou Bolsonaro à reunião do G20, no Japão. O episódio virou vexame mundial, e Heleno o classificou de “azar”.
Carlos então comenta: “Por que acha que não ando com seguranças? Principalmente aqueles oferecidos pelo GSI? Sua grande maioria podem (sic) ser até homens bem intencionados e acredito que seja, mas estão subordinados a algo que não acredito. Tenho gritado em vão há meses internamente e infelizmente sou ignorado”.
Via @snapnaro pic.twitter.com/lA5PyWRWxw
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) July 1, 2019
O site bolsonarista ataca diretamente Heleno, dizendo que “a culpa é dele”, replicando o que assessores palacianos haviam dito quando o caso estourou. O general chegou a responder, dizendo que a responsabilidade pelas revistas de aeronaves era da FAB.
Carlos não chega a tanto, e nem é preciso. O vídeo replicado traz uma teoria conspiratória usual entre os apoiadores mais radicais do presidente: de que os militares em torno dele são influenciados pelo Foro de São Paulo, a entidade que reúne partidos de esquerda na América Latina.
O Foro é um dos alvos preferenciais de Olavo de Carvalho, escritor radicados nos EUA que influencia toda a ala ideológica do governo e acredita em uma conspiração marxista mundial. O seguem no governo os filhos de Bolsonaro, em especial Carlos e o deputado federal Eduardo, e os ministros Ernesto Araújo (Itamaraty) e Abraham Weintraub (Educação).
Quando a postagem começou a circular, militares de alta patente da ativa se manifestaram em grupos de WhatsApp, criticando duramente Carlos. Alguns defendiam um maior afastamento do governo Bolsonaro, o que já vem ocorrendo devido ao que consideram tratamento injusto das Forças pelo presidente. Entre os generais da reserva no governo, houve silêncio.
Os olavistas estão em alta. O presidente rearranjou as forças internas no Planalto nas últimas semanas, retirando dois generais ligados a Heleno de cargos importantes: Carlos Alberto dos Santos Cruz foi demitido da Secretaria de Governo, e Floriano Peixoto, rebaixado da Secretaria-Geral para os Correios.
Santos Cruz foi alvo de campanha aberta de Olavo. O Exército reagiu, escalando seu ex-comandante Eduardo Villas Bôas para rebatê-lo com dureza —só que Bolsonaro pôs panos quentes, defendeu o escritor e por fim demitiu o general. Villas Bôas é assessor de Heleno.
Desde então, crescem os rumores de que o general do GSI seria o próximo alvo da ala olavista. Até como forma de confrontar os boatos, Bolsonaro o levou para a viagem ao Japão. Sua posição como principal conselheiro do presidente, contudo, já está abalada há algum tempo.
No domingo (30), contudo, Heleno foi o único ministro do governo a subir em palanque no ato de desagravo ao ministro Sergio Moro (Justiça) e em favor da agenda de Bolsonaro. E o fez ao lado de Eduardo Bolsonaro, o que levantou a dúvida entre alguns militares sobre a natureza do ataque de Carlos.
O vereador é considerável mercurial. Teve uma relação difícil com o pai, que o obrigou a disputar ainda adolescente uma eleição para barrar a mãe na Câmara do Rio. Reaproximaram-se e Carlos assumiu a estratégia digital do presidente bem antes da campanha de 2018, e é o filho de Bolsonaro com maior influência sobre o pai.
Fonte: Folha de S.Paulo
Créditos: Folha de S.Paulo