O jornalista norte-americano Glenn Greenwald disse nesta tarde que o ministro Sergio Moro (Justiça) está usando uma tática “cínica” para tentar enganar a população sobre o conteúdo de conversas vazadas pelo site The Intercept Brasil, do qual é um dos fundadores.
“Moro não está defendendo o comportamento que ele teve, porque é impossível ele defender. Ele está fazendo algo diferente, uma tática muito cínica, ele está tentando enganar o público, dizendo que o material é falso”, disse. “O interessante é que nenhuma vez Moro disse que qualquer coisa que estamos publicando foi alterada ou não é autêntica. Ele está sempre dizendo “poderia ser alterado.”
Nas mensagens divulgadas pelo site, o ex-juiz federal dá orientações ao procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.
Greenwald, que está sendo ouvido pela comissão de Direitos Humanos da Câmara, afirmou que o material é autêntico e que continuará a ser divulgado e que Moro não poderá fazer nada para evitar essas revelações.
O jornalista comparece à Câmara uma semana após Moro prestar esclarecimentos no Senado. Greenwald reafirmou que recebeu o conteúdo que divulga de uma fonte secreta e que checou a autenticidade do material –ele não diz se as conversas foram obtidas por um hacker ou não.
No Senado, o ministro da Justiça disse que pode ter sido autor de “algumas” das mensagens publicadas pelo site, mas não esclareceu quais seriam. Segundo ele, seria impossível confirmar a autenticidade dos diálogos porque ele excluiu o aplicativo Telegram de seu aparelho em 2017 e não teria guardado o histórico de conversas.
Moro era também esperado na Câmara, amanhã (26), mas adiou a ida à Casa em razão de uma viagem oficial aos EUA.
Deputada pede divulgação de áudios, e Glenn diz que ela vai se arrepender
A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) perguntou ao jornalista por que ele não divulga os áudios que o Intercept diz ter recebido de forma anônima. “Onde estão os áudios que você diz que tem? Pode tocar o áudio aqui e agora, desafio o Glenn a tocar o áudio”, disse a congressista. Em seguida, ela defendeu o ministro. “Pedir a renúncia de Moro? Que cara de pau [Glenn] vir aqui falar isso.”
Em resposta ao questionamento, o jornalista disse que áudios são mais trabalhosos de serem divulgados do que textos e disse que a deputada “vai se arrepender”. “Com certeza, vamos soltar [os áudios] quando o material estiver pronto jornalisticamente, com responsabilidade, e acho que você se arrepender muito do desejo de que nós façamos isso.”
Mais cedo, a deputada Katia Sastre (PL-SP) chegou a sugeri a prisão de Glenn. Ela disse que, se as informações “são falsas”, o jornalista deveria sair preso da comissão. A declaração causou tumulto no plenário.
Já a deputada Bia Kicis (PSL-DF) afirmou que, se Glenn não comprovar a autenticidade das mensagens, ele é “mentiroso”, e se forem verdadeiras, ele é “criminoso” por divulgar mensagens privadas.
A Constituição brasileira garante o sigilo de fontes aos jornalistas.
Glenn Greenwald foi convidado a prestar esclarecimentos à comissão de Direitos Humanos. O requerimento foi feito pelos deputados Camilo Capiberibe (PSB-AP), Carlos Veras (PT-CE), Márcio Jerry (PCDOB-MA) e Tulio Gadelha (PDT-PE).
Assista ao vivo:
https://www.youtube.com/watch?v=FUsn-2iogXg
Fonte: Revista Exame
Créditos: Revista Exame