A coluna que Janio de Freitas escreveu ontem (16/06) na Folha de São Paulo lembra que a delinquência de Sérgio Moro e Deltan Dallangnol na Lava Jato, exposta ao público pelo site The Intercept com as provas que faltaram ao juiz quando ele escreveu a sentença que condenou o ex-presidente Lula a mais de 9 anos de prisão, teve como cúmplice milhares de vozes na imprensa de todo o Brasil.
Se não faltaram evidências dos crimes que são agora revelados, denunciados à época não apenas pelo jornalismo não alinhado ao golpismo descarado, mas por juristas comprometidos com o Estado de Direito, sobraram aplausos para ilegalidades flagrantes da grande imprensa e dos jornalistas alinhados a ela.
O caso da liberação de gravações ilegais de telefonemas que tinham como interlocutora a então Presidenta da República, Dilma Rousseff, foi apenas um ente tantos atos que essa imprensa partidarizada fez questão de repercutir, sem ao menos disfarçar, o alegre cinismo com o qual afrontavam, dia sim e outro também, o Estado de Direito.
E que começavam nos mais altos escalões da grande mídia, onde pontuam as grandes empresas familiares que sempre controlaram a informação no Brasil, e iam ao mais baixo clero da imprensa regional, incluindo aí potentados do “jornalismo” tabajara.
Eles davam a cobertura − no duplo sentido − que Sérgio Moro sempre tratou como imprescindível para atingir seus objetivos, agora manifestamente políticos, como registramos aqui na semana passada quando tratamos dessa questão, citando um artigo acadêmico que o juiz curitibano escreveu sobre a Operação Mãos Limpas.
“A conduta da imprensa tem nomes, não foi anônima nem está encerrada”, disse Janio de Freitas em sua coluna de ontem.
Aqui na Paraíba basta um passeio pelo que foi escrito em sites e jornais para termos uma ideia do quanto o alinhamento verificado de cima a baixo na Justiça tinha suporte no correspondente alinhamento nacional de uma imprensa que, de norte a sul, falava a mesma língua, com o objetivo de produzir um artificial e só aparente consenso.
O apoio a Moro e a Dallagnol começava no STF, passava pelo Conselho Nacional de Justiça e pelo Conselho Nacional do Ministério Público, e seguia pelos Tribunais Regionais Federais − não apenas pelo TRF-4, que, além de avalizar uma sentença sem provas do juiz da Lava Jato, cometeu o disparate de aumentá-la, corroborando o lastro político de uma estratégia que nada tinha de jurídica. O apoio à Lava Jato se estendia pelos Tribunais de Justiça.
Aval que pelo jeito de mantém, mesmo depois das graves revelações que, por enquanto, estão restritas às combinações entre o juiz do caso Lula, o Ministério Público e “ministro” do STS, o indefectível Luiz Fux.
Aqui na Paraíba, dois expressivos exemplos valem ser citados, pela representatividade e responsabilidade institucional dos envolvidos.
O coordenador do Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) na Paraíba, Octávio Paulo Neto, saiu em defesa de Deltan Dallangnol. Paulo Neto declarou ao site MaisPB − ops! − que o procurador curitibano é “um ícone de uma geração que se move por um propósito maior” e um “homem de bem”. Isso logo depois de Dallagnol, entre outras coisas que tornam o procurador um criminoso, ser flagrado manipulando provas para apresentar a denúncia que levou à condenação de Lula.
O outro foi ninguém mais ninguém menos que o presidente do Tribunal de Justiça da Paraíba, Márcio Murilo, que publicou em seu Instagram uma inusitada defesa do seu ex-colega atual ministro da Justiça Sérgio Moro: “Até hoje vazou algo sobre Moro falsificar/ocultar provas ou receber propina das suas sentenças confirmadas no TRF?”, questionou, mesmo diante do alerta do The Intercept de que muito havia para ser revelado ao público.
Como registra o site Polêmica Paraíba, um advogado, Pedro Miguel, ironizou a declaração do Presidente do TJ-PB, falando da certeza que ele tinha de que o presidente do TJ “não aceitaria qualquer conchavo com defesa ou o MP em um processo no qual fosse relator”.
Por trás dessas declarações, que a imprensa tabajara não deu o destaque que merecia, sobretudo para criticar tão explícita manifestação de corporativismo, reverbera o incômodo com o som do espelho que trinca e que projeta a antevisão de que pode estar por vir quanto aos limites aos superpoderes adquiridos pelo sistema judiciário brasileiro, onde juízes − e Sérgio Moro não é o único − associados a Procuradores − e Deltan Dallgnol e seu turma de Procuradores de Curitiba não estão sozinhos −, interpretaram a lei a seu bel prazer e segundo suas conveniências.
Na maior parte das vezes, associados a jornalistas e empresários da comunicação.
Amanhã eu volto para tratar de como o apoio a Sérgio Moro se desdobrou, na Paraíba, em apoio aos excessos e às ilegalidades cometidas pela Lava Jato.
Assunto não vai faltar durante essa semana.
Fonte: Por Flávio Lúcio
Créditos: Por Flávio Lúcio