“Em minha condição de ser humano me senti ofendida, agredida, aviltada”, disse em nota enviada à Folha, após a repercussão de reportagem sobre o caso e diante de críticas quanto à sua decisão.
Reportagem publicada nesta quinta (6) mostrou que Ana Luiza registrou queixa de injúria racial contra uma de suas funcionárias porque foi chamada de “encardida do sul” e “cachorra do sul”, provocando abertura de inquérito pouco comum.
A referência ao sul se dá em razão do estado de origem dela, o Paraná, e, também, ao sotaque carregado de expressões sulistas.
Parte das ofensas estava em áudio enviado pela funcionária, que acabou chegando ao marido da veterinária. Após ser demitida, a empregada doméstica teria enviado outras mensagens a empregados que continuaram na casa, entre elas supostas ameaças à ex-patroa.
“O que mais me causou angústia foi a ameaça que sofri por minha ex-funcionária –gravada inclusive em áudios– dizendo que me colocaria na cadeia caso eu não pagasse o acerto patrimonial que ela julgasse ser devido, e prometendo que iria acabar com minha vida. Pelas ameaças que me fez, não poderia deixar de comunicar os fatos à autoridade policial.”
Ainda segundo a veterinária, o episódio fez com ela tivesse mais consciência das discriminações sofridas por grupos no país. “Essa experiência me fez ter ainda mais consciência ao direcionar meu olhar à história que traz revezes de imensa opressão e exclusão aos negros e também às minorias discriminadas”, afirma a mulher.
“Tenho consciência do privilégio que possuo por ser branca, loira, e não posso dizer que a injúria ou outro crime por mim sofrido se equipara minimamente ao que um negro sofre unicamente por possuir a pele de cor negra. O racismo é institucional e uma realidade que não pode ser negada, eis que reprodutor severo de desigualdades.”
Por fim, Ana Luiza afirma na nota que sua queixa tem o objetivo de defender-se da injustiça que sofreu. “Não pretendo intimidar ninguém com o registro policial que fiz —tenho ciência do abismo econômico que separa a mim e minha ex-funcionária— mas não posso deixar de exercer o direito de defesa de minha honra e de minha vida.”
A funcionária é uma mulher de 55 anos, branca, e moradora de Taboão da Serra, município da Grande São Paulo. A Folha tentou contato em cinco números de telefone registrados no nome dela, sem sucesso.
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Rogério Pagman